domingo, 23 de novembro de 2008

UVITA FUN FUN



Depois de ganhar a Bartolomeu Mitre e caminhar até o Teatro Solis, logo após indo em direção a rambla nos deparamos com a Tangueria Fun Fun. A noite caía rascante e sibilava as árvores e esquinas dos antigos prédios. Um camarada, Mário ou Miguel, não lembro direito o nome, estava na portaria. Agia como um anfitrião, cheio de sorrisos e cumprimentos, distribuindo beijos a esquerda e a direita, um beijinho na face de um músico, um "hola que tal" para nós. Nos contou histórias, entre algumas, falou que o pai era brasileiro e que também não deixava alguns bolivianos entrarem na Fun Fun por conta de andarem sempre com facas escondidas, mas que isso não era mais problema (e distribuía mais beijinhos). Enquanto nos entretinha, ouvia-se lá dentro o som de um violão dedilhando uma voz anasalada. Sentimos a diferença do vento que ardia os olhos daquela do ardido dos vapores de suor dentro do bar. O público era formado basicamente por pessoas mais velhas, boêmios, que entoavam os refrões da dupla que se apresentava num palco minúsculo, uma quina do bar. As paredes são revestidas com porta-retratos de artistas, pequenos, como desses que vemos em livrarias cults e cartazes de concertos, shows de tango, e vários penduricalhos que ocupam cada centímetro do espaço. A reverência a Gardel está em todo o canto da Fun Fun, até mesmo na uvita, bebida semelhante ao San Rafael e que, segundo nosso camarada Mário ou Miguel, é marca patenteada pelos donos do bar. Fun Fun é uma casa centenária ou quase isso e manteve-se sempre na mesma família. Sempre fazendo e bebendo o mesmo aperitivo licoroso. Eu e Maria-Flávia ficamos por lá encharcando o pote durante a apresentação de Tango e depois emendamos no candombe, mas isso é uma outra história. Lá conhecemos Lucia, editora de uma revista de variedades de Montevideo, ela dançava animadamente e brincava com vários convivas. Rolamos toda a noite e saímos literalmente com as cadeiras para cima das mesas e a água nos empurrando para fora do bar.

sábado, 22 de novembro de 2008

LANÇAMENTO - DESCONCERTO

Nesta próxima segunda-feira (24/11) o escritor e articulador literário Claudinei Vieira estará as 18:30 no Cine Odeon, no rio de Janeiro, para lançar o seu primeiro livro impresso, o Desconcerto. Claudinei é o responsável por um dos blog's brasileiros de literatura e cultura mais movimentados do universo Internet. De forma independente e respeitando as diferenças, Claudinei atua no cenário internético há cerca de uma década e é, portanto, um dos blogueiros mais ativos que temos atualmente.
Segue abaixo, o convite virtual e o release do lançamento:


‘Desconcerto’ traz pela primeira vez em livro os contos do escritor, poeta, resenhista e roteirista Claudinei Vieira.

Ao longo de mais de uma década, Claudinei tem publicado seus escritos, pensamentos e críticas principalmente pelos meios eletrônicos em importantes sites e blogs de literatura como Cronópios, iGLer, Paralelos – Globo Online, assim como o fundamental Capitu, e em dezenas de espaços virtuais. Observador fino da realidade, boêmio constante das noites e das histórias paulistanas, agitador cultural da metrópole, organizador de saraus, discussões e eventos literários que já fazem parte do calendário cultural da cidade de São Paulo, como os encontros com prosadores realizados na Casa das Rosas, na avenida Paulista, e com poetas no Sebo do Bac, na Praça Roosevelt, o autor não se preocupa somente em retratar uma visão.

Em cada conto, há a premeditação em desconstruir os enredos, em remontar a linguagem, em encontrar os pontos básicos em histórias e situações aparentemente banais e mostradas de uma forma que também aparentam uma extrema simplicidade. Só que para se perceba que dos detalhes, do extremo banalizado, existem possibilidades infinitas.

Desse modo, um copo quebrado por um garçom que assusta uma garota pode nos fazer pensar no sentido da vida, em conhecer uma bela história de amor, ou não provocar qualquer consequencia no cotidiano dos personagens ou no Universo. Um ladrão de galinhas pode conseguir comida para seus filhos ou ser morto pelo seu melhor amigo. Um delegado pode se intrometer na investigação do seu subordinado puxa-saco.

O tráfico de mulheres e crianças e a violência ao redor do planeta podem estar relacionados com a menina bonita que volta para as aulas ou com os urubus provocarem a verdadeira crise econômico-social no Brasil. Em outros tempos, um padre e um velho sábio discutem sobre religião e ciências, enquanto no centro da Amazônia uma televisão mostra as bundas do carnaval.

Em ‘Ônibus - IA’, conto premiado e publicado em caderno especial pelo jornal O Estado de São Paulo, a história de um cobrador de ônibus e a busca de sua própria condição literária são representativos do cuidado como o autor remontou, revisou e, em alguns casos, reescreveu estes escritos, para montar um volume único, uma obra com firme coerência interna, um belo desconcerto.

Como diz a escritora Márcia Denser em seu prefácio: “Assim é que com uma linguagem desprovida de emoção, uma linguagem fria – dos inventários, dos relatórios, onde não faltam cifras, números, estatísticas – o narrador se aproxima dos seus temas e personagens com um olhar paradoxalmente compassivo, humano, solidário, e este é o grande achado literário de Claudinei Vieira: a combinação da linguagem fria à visada quente, mixando imprevistamente objetividade e compaixão. Razão e sensibilidade. Pelas artes e manhas de uma poética extremamente original.”


DESCONCERTO, de Claudinei Vieira

Editora Demônio Negro

edição limitada e por demanda

20,00

Lançamento no Rio de Janeiro

24 de novembro de 2008 – 18:00 hs

Livraria Odeon

Pça Floriano 7 – Loja B – Cinelândia

Mezanino do Cinema Odeon Petrobras

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

HOTEL PALÁCIO

Enquanto Javier – Flávio olhava através da janela do Hotel Palácio uma construção que estava entre dois prédios cinzas, baixos, um pequeno feixe emoldurado pelo azul, Maria-Flávia observava o bidê do banheiro do quarto, lembrando-se do que havia no banheiro do apartamento em que morou quando criança. Eram semelhantes os bidês e os olhares dos dois. Eles perscrutavam as similaridades de suas infâncias, não só no quarto, mas nos corredores protegidos por pequenas grades que abasteciam o vão de respiradouro fechado por uma imensa clarabóia no edifício velho. De certo modo, concluíam que suas vidas estavam ora desatadas pelo vão ou ora ligadas pelos lances de escada que ocupavam a metade do corpo daquele prédio. No vazio ocultavam-se as expectativas de cada um sobre o futuro do casal, sobre o que restaria de suas individualidades. Nas escadas, os dois apoiavam-se para as subidas e deslizavam de mãos dadas nas descidas. Mas havia também uma outra ligadura, o elevador, este por força de seu conjunto metálico maravilhosamente lustrado, os içava para cima e para baixo pausadamente. Quando descia os deixava no hall quase os jogando na rua através de uma porta de ferro, pesadíssima. Dali era sair por uma Montevideo velha nas costas da Praça da República.

sábado, 15 de novembro de 2008

JAVIER-FLÁVIO E MARIA-FLAVIA

Se eu me chamasse Javier, não o ator, um Javier qualquer, desses que nascem nos vários hospitais ou clínicas ou casas em múltiplas partes do continente americano e se eu mantivesse a mesma aparência que tenho agora: a mesma curvatura, o mesmo andar de passos medianos, os mesmos olhos míopes. E se a minha companheira, minha co-andante, se chamasse Maria, não Flávia, e supondo também que ela possuísse as mesmas características e traços de personalidade. E se, por um acaso, desses que ocorrem somente nas nossas fantasias por enquanto, até que a ciência elucide algo de novíssimo no campo das materializações, nascêssemos em um outro país, digamos um país vizinho ao Brasil, um país de nome Uruguai, em uma cidade de nome Montevideo.

E se caminhássemos pela cidade velha com outros olhos, olhos rotineiros que detêm na retina somente os aspectos mais gerais e as preocupações, sem os detalhes de olhos aguçadamente turísticos, será que viveríamos o que eu (Flávio – não Javier) e Flávia vimos?
A realidade está na surpresa de nossos olhares ou ela tangencia para além?
Javier-Flávio e Maria-Flávia sentaram-se num bar na Bartolomeu Mitre. Era uma Creperia, que obviamente, além dos crepes, tinha um cardápio variado que incluía aves peixes e carnes suculentas. O dia em Montevideo cerrava suas cortinas e o céu celeste colbato despedia-se abrindo as portas para um vento cortante que empestiava o lugar com um frio de inflamar a faringe. Mesmo assim os dois ocuparam uma mesa na calçada, pois não há frio que debilite o vício de dar tragadas. Pediram, para começar, uma Patrícia. As canecas espumaram e o suor de suas mãos diluiu o esbranquiçado opaco que recobria o exterior das canecas. Estalaram largamente o primeiro gole e observaram a luminosidade dos três postes que anunciavam a rambla no final da Bartolomeu. Mantiveram-se calados, apenas olhando os pontos luminosos, unindo-se a eles.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

OFICINA ZONA NORTE EM CRÔNICAS

Leitores (as),
A partir de amanhã executaremos uma oficina literária no Sesc, nas unidades Ramos, Engenho de Dentro e Madureira. Este projeto é uma iniciativa do Sesc Rio em parceria com o Instituto Imagem e Cidadania. As oficinas ocorrerão simultaneamente. Serão oito encontros com duas horas de duração cada. Além de mim, também ministrarão as oficinas os escritores Márcio-André e Victor Paes, e a orientação pedagógica ficará por conta da Marjorie Botelho, do Instituto Imagem e Cidadania.
O foco temático que trabalharemos na oficina é o bairro, o local. Assim, a partir de encontros dinâmicos, leituras de autores clássicos, exercícios criativos e do estímulo da memória dos participantes, vamos produzir crônicas e contos que ambientam-se nos bairros de Ramos, Engenho de Dentro e Madureira.
As inscrições ainda estão abertas e as oficinas são gratuitas. Segue abaixo o convite virtual.



terça-feira, 28 de outubro de 2008

RETORNO!

Bueno, voltei das férias. Foram dias maravilhosos. Viajar é muito bom. Aresta as pestanas. Muda o clima. Renova o ar. Fomos ao Uruguay, Argentina e Chile. Falamos muito portunhol. Descemos o pampa. Levei um caderno para fazer anotações e foi estranho deslizar novamente pelas folhas de papel. Rascunhar longe do teclado. Nestes próximos dias, vou me auscultar em outras praias literárias: vou escrever sobre esta experiência, para quem sabe, poder ainda fruir um pouco mais daquelas frias, porém ensolaradas, manhãs.
* * *
Pela primeira vêz neste blog recebo um comentário de uma jovem estudante pedindo ajuda para a leitura de um conto de Eça de Queirós, o José Matias. Achei muito bacana, na verdade, achei ótimo, pois esse é um dos motivos, senão o principal dessa ferramenta: estimular a leitura, a discussão de idéias em torno da literatura.
Então, cara estudante, se você ler este texto daqui, saiba que já postei um comentário lá no post da resenha que fiz do conto José Matias. Ok?!
Abraços aos amigos

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PAUSA - FÉRIAS


Caro leitor,
saio de férias e farei uma pausa nas postagens. Caso haja interesse, assine o blog para receber as postagens diretamente em sua caixa postal. Para isso, preencha a coluna aí do lado, você receberá um email de confirmação, basta confirmar.


abraços!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Precipício

No assoalho do chão encerado o corpo se arrasta deixando um rastro líquido. Escorregou até a ínfima inoperância de não saber o que estava acontecendo, aliás, nada acontecia, apenas o giro esquisito que o consumava numa hora também esquisita de um dia que já havia nascido esquivo. Nomes e vultos possivelmente arredondam a dor que rebate no canto da nuca. Desmemórias de um corpo centenário, repleto de bactérias. Cada vez mais o gosto do sangue coagulado e da carne flácida, pegajosa. E o corpo está quase morto, quase plano e rasteiro, quase uma turva mancha seivada de líquidos e cheiros. O assoalho rangendo a busca de crostas. Decalques nos calcanhares e chupadas de chuva de granizos arranham essa voz abafada no castanho metileno dos meus olhos. Olhos águia. Olhos nevoeiro. Um diante do outro. O mesmo sombreado carcomido de nossa insólita esperança de renascermos, ele antes de mim, exala já a aura mórbida e toca com a ponta dos dedos a borda do novo, enquanto ainda me sufoco em beiras de precipícios.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Marcelino, marceneiro e seu RASIF


O livro RASIF, de Marcelino Freire, me assombra — é muito violento no meu cérebro — as histórias ali narradas, dialogadas, vividas, são de um conteúdo violentíssimo tanto nos enunciados, nos começos, como nas possibilidades de escapadas, de resoluções que caminham para um amor mágico, enorme. Me assombra também, porque ao sair do lançamento lá na livraria do Odeon, aproveitei a viagem de metrô para adentrar na leitura. Estava cansado, com os olhos pregando nas pestanas, mas o livro me acordou e me estatelei somando cada quebrada e cada barulho de trilho rangendo ao ritmo cadenciado da escrita de Marcelino. No dia seguinte, retornei ao centro, novamente viajando no metrô lotado, num roça-roça irrespirável, apenas com o espaço das costas alheias, o suficiente para ser rebentado por RASIF mais uma vez — ainda assombra porque é minha sombra, pesadelos e angústias que estufam meus alvéolos pulmonares em dias atuais de constantes incertezas mal digeridas.

Há como sintetizar as sensações que provei no texto de abertura Da Paz: senti uma diástole expandindo um crescente de sofrimento, de escansões silábicas (algo que permeia toda sua literatura rica em aliterações, sonoridades e ritmo) de conjecturas a cerca do real, das necessidades mais básicas de uma personagem que sofre na carne perdas e tem a pujança, a sapiência de, na sua simplicidade — aliás, outra antítese e completude, característica de Marcelino —, acatar o único movimento seu possível e cistólito: a paz, a letárgica paz, a paz que se fode em alguns de nós.

É nas poeiras, na pedra e na poeira mínima que Marcelino modela uma literatura muito generosa para o leitor — ou seria melhor o escutador, porque, ai! esses contos são para serem lidos e sim! escutados de uma voz líquida e ríspidas nos [é’s], nos balanços da fala. Tenho de retomar o fio, o caminho da poeira marcelinesca, desse marceneiro de simplicidades, de simples cidades, de personagens econômicas que através de uma única voz monologada — por vezes duas — que me fez ser cúmplice, que me fez pegar no paralelepípedo e na corda, na boca da lavadeira, ou dar um grito diante de um sinal. Eu não precisei de parágrafos de abertura, de Mansfield ou de O’Connor ou de Pound ou de o escambau, nem da minha hipocondria, mania minha de morrer doente todos os dias. Estava ali tudo bem dito, bem teatralmente resolvido e conciso, as psicologias, as nuances. Sim, posso me lembrar de alguém ao ler diametralmente Marcelino-marceneiro, lembro e vejo um Blanc, um Aldir, outro cara bem capaz de miscigenar as almas das personagens, expondo-as na lisura de um dedo de espuma do copo de cerveja.

Há um conto que é um delírio, caramba, um delírio mesmo. É Roupa Suja. Me pareceu que todas as personagens dos contos aparecem ali. Todas em busca de um prêmio, de um sonho, de uma batalha que dê algum resultado, que atinja o objetivo. Pois, na verdade estamos todos por/atrás do sabão que a lavadeira conduz na limpeza desse mundo cão. Caramba, e ela consegue, se dá bem. Maravilha. Mas, eu aqui não vou alongar, não vou descrever ou resenhar, vou deixar por conta de quem quiser descobrir e brilhar. A única coisa que vou então acrescentar é que vale muito mesmo.

Bem, no mais o livro está muito bonito (como todos do marceneiro) bom acabamento, superbamente ilustrado por Manu Maltez que de preto preencheu com gravuras os contos — aliás, por si só as gravuras merecem um post.

Bem, no mais again, parabéns para o marceneiro Marcelino por mais um livro. Parabéns para nós que podemos lê-lo.




Algumas fotos do lançamento, gentilmente cedidas por Vó Jacy:


Marcelino



A "festa" rolando.



Da esquerda para a direita: Moutinho, Vitória, Ponce e sua gatinha, Diana e eu.



O autor e o blogueiro

Aproveite e curta esse vídeo de Marcelino lendo o conto Da Paz:



segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FRANK WYNNE - EU FUI VERMEER

Li recentemente o livro de Frank Wynne, Eu Fui Vermeer, sobre o falsário Han van Meegeren. O livro, misto de jornalismo literário investigativo e biografia, analisa a questão da falsificação, atribuição e validade na arte, através da história do falsário holandês que se fez passar por Veermer. Além de ser muito bem escrito, com aquela "levada" que nos faz virar cada página querendo uma pouquinho mais de leitura pela madrugada, o livro me fez pensar outras e mais outras questões a respeito da arte, tais como: apropriação e plágio / conceituação crítica e mecenato / crítica e panelinha.

H. van Meegeren foi um pintor dotado de extrema técnica, no início de carreira ganhou prêmios importantes como o da Technische Hogeschool de Delft (mesma cidade de Veermer). Seu estilo de pintura se aproximava ao das escolas realistas e clássicas (principalmente do barroco do século de ouro holandês), mas Meegeren não despontou e não obteve o reconhecimento de sua obra. Entre algumas razões apresentadas no livro para o fracasso de Meegeren, temos a exclusão provocada pela crítica, que segundo o autor está relacioano ao fato do pintor falsário ter um caso e a posteriori se casado com a esposa de um crítico de arte conceituado, e por conseqüencia, seu nome foi gradativamente minado pela mídia da época, sendo excluído do circuito artístico. O outro motivo, ainda segundo o livro, é o auge das vanguardas artísticas do século XX, havia Picasso, Mondrian, Modigliani. Para Meegeren, coube apenas as falsificações.

Mas H. Meegeren não copiava quadros exatamente. Ele se apropriava dos elementos dos pintores do século XVI e XVII e dentro do estilo destes artistas (empregando as técnicas de elaboração das tintas) criava telas, obras que eram suas, falsificava sim as assinaturas.

Para entender melhor a questão, imagine o quanto é difícil atribuir e autenticar um quadro de um determinado período quando muitos artistas não assinavam várias obras. Vermeer foi um pintor do conhecido como século de ouro holandês, além dele, outros artistas trabalhavam na época (Frans Hals, Pieter de Hooch, Jacobus Vrel) apresentavam estilos e temas similares que estavam em voga. Muitos deles debruçavam-se sobre interiores, cenas do cotidiano, mesmos modelos. Assim, sem assinar uma obra, torna-se difícil atribuir a autoria. Entretanto, os especialistas apreendem pequenos sinais indicativos: o formato da moldura, o envelhecimento e o formato do craquelê, os pregos, a composição da tinta, os adereços que compõe a pintura.Vermeer pintou poucos quadros e seu trabalho obteve reconhecimento somente a partir de meados do século XIX. No início do séc XX, esperava-se, ansiava-se por encontrar outras pinturas do mestre de Delft. A maioria dos críticos e dos estudiosos de arte especulavam um possível período de temática religiosa. Aí entra Meegeren, ele simplesmente cria os quadros do período religioso. A Dama e o cavaleiro a espineta, Ceia em Emaús, Isaac abençoando Jacob. Meegerem retirava suas inspirações de trechos bíblicos. Mas, para que suas obras se assemelhassem às obras barrocas, Meegeren criou seus "originais" em quadros de artistas de segunda classe da época do ouro. Sem o menor pudor, ele trabalhava sob a pintura de outros artistas. Fabricava tintas da época. Sua perfeição em Ceia de Emaús foi tamanha que a obra foi considerada um dos "grandes trabalhos do Mestre Vermeer".

Através de terceiros, ele vendia suas falsificações. Tornou-se milionário durante o entreguerras e a segunda guerra. Após o fim do conflito foi acusado de enriquecimento ilícito e por colaboração com o nazismo, já que uma de suas telas de Veermer foi vendida à Goering. Para escapar ao julgamento de traidor e colaborador nazista sua única saída foi confessar. Então, Meegeren realizou um último Vermeer diante de testemunhas.


A história é ótima e é interessante perceber o drible que ele deu na crítica da época, no mecenato que não reconhecia seu talento. De certo modo, ele desmoralizou todos os museus que adquiriram suas obras. O que nos remete a uma outra questão: Será que tudo que vemos é de fato verdadeiro, autêntico? Por exemplo, pesquisas apontam que nem tudo que lemos de Camões foi realmente produzido por ele. Outro aspecto é se realmente houve plágio, já que Meegeren não copiou nada, apenas a assinatura.

domingo, 21 de setembro de 2008

RASIF - MARCELINO FREIRE

O escritor é pernambucano, radicado em Sampa, conhecido pelos famosos beijos no umbigO. Marcelino Freire vai autografar RASIF na livraria Odeon, no centro do Rio. Local ótimo para tomar um trago no Happy Hour. É 18:30, nesta segunda22/09/08, nem mais cedo, mas um pouco mais tarde.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ENTREVISTA - ALVARO COSTA E SILVA

Sinceramente não penso no aspecto comercial. Tenho liberdade, ainda bem. Na verdade, não aceito a obrigação de atualidade no jornalismo cultural. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências. Acho que o leitor é inteligente.”

Alvaro Costa e Silva é jornalista desde 1988, trabalhou em O Globo, Última Hora, Manchete, entre ourtros, e colaborou com inúmeros veículos. Foi repórter, redator, colunista. Atualmente é editor do suplemento literário Idéias&Livros do Jornal do Brasil. Esta entrevista exclusiva foi concedida ao Rio movediço por e-mail.

Alvaro, quais os principais objetivos do suplemento Idéias?

O suplemento, que existe há 21 anos, acompanha o mercado editorial e as tendências contemporâneas do pensamento. Não necessariamente nesta ordem ou prioriedade. Daí que tem o nome Idéias & Livros, mas podia se chamar Livros & Idéias, porque, preferencialmente, os dois devem vir juntos...

Antigamente, os suplementos literários eram mais volumosos, publicavam análises, críticas e possuíam colunas que priorizavam a educação literária, como, por exemplo, a coluna de Mário Faustino. De certo modo, os suplementos eram um dos pontos de referência para a formação crítica da literatura. Atualmente, no que se refere aos suplementos, esse conceito jornalístico modificou-se, os suplementos diminuíram, assim como diminuíram as resenhas e as análises. Para o senhor, este aspecto de referência formadora existe ou não existe e, caso não exista mais, quais necessidades ocorreram durante o percurso histórico do jornalismo que suscitaram tais modificações?

O que mudou, no geral, foi o jornalismo. No mundo todo. Há pouco tempo houve uma grita nos Estados Unidos, onde o mercado editorial é mil vezes mais poderoso e influente que o nosso, porque importantes suplementos culturais estavam fechando. Meu maior problema é de espaço. A falta dele ou o pouco dele me impede de publicar resenhas e análises mais alentadas. Quanto à "referência formadora", como você chama, acho que ela migrou para os livros e para a academia.

Quais os critérios que o senhor utiliza para elaborar a pauta semanal?

Este é um grande mistério. Escolher o que vai ser capa e o que vai ter apenas um registro. Claro que, como tudo na vida, há forças maiores que se impõem. Livros sobre os quais não podemos deixar de falar, assuntos que estão pulando na nossa cara. Mas, no meu caso, funciona o feeling e, principalmente, muita discussão com os demais companheiros de caderno.

"Livros sobre os quais não podemos deixar de falar (...)" O que é exatamente isso, digo, o feeling também parte de elementos externos, como por exemplo: os eventos culturais, os leitores? E qual o tempo médio que vocês necessitam para fechar a edição?

“Livros que não podemos deixar de falar": qualquer um que seja aqui traduzido do Roberto Bolaño. Acho que é um bom exemplo. O feeling está mais para idiossincrasia que para elementos externos. A edição é bolada com antecedência. Geralmente ma sexta, após o fechamento de quinta, já a tenho na cabeça. Mas posso mudar uma capa, ou qualquer outra página, até na quinta de manhã.

Há, no seu ponto de vista, uma interação entre venda de livros e notícia em suplemento. E até que ponto o aspecto comercial pesa na escolha de uma pauta?

Sinceramente não penso no aspecto comercial. Tenho liberdade, ainda bem. Na verdade, não aceito a obrigação de atualidade no jornalismo cultural. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências. Acho que o leitor é inteligente.

Os suplementos contribuem para a canonização de certos autores?

Não. O que eles podem fazer é, eventualmente, levantar a bola de um autor que não merece. Mas isso a imprensa esportiva faz mais e melhor.

Você tem o hábito de ler outros suplementos, por que motivo e quais?

O principal motivo é a deformação profissional. Outro, o prazer. Babelia, os suplementos argentinos do Clarin, La Nacion e Págiona 12, o do chileno El Mercurio, Granta, Guardian Books, London Review of Books, The New York Times Book Review, o Prosa & Verso, as páginas der livro da Folha e do Estadão, o Rascunho, o Portal Literal. Uma pá deles.

Fora os suplementos, qual a praia de leitura do Alvaro?

Não consigo ler quase mais nada, a não para o caderno. Gostaria de encarar o Proust de novo.

Hoje, na internet, existem vários blogs literários, e de comum acordo salientamos que alguns possuem muitas baboseiras, outros nem tanto, certo? Também temos um prêmio Jabuti que surgiu da Internet (Marcelino Freire). Para você, os blogs literários são um ponto de formação de leitores e escritores?

Acho os blogs, os bons, bem entendido, fundamentais para a formação de leitores. O do Marcelino é um bom exemplo disso.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

POESIA ORAL, OS CARIOCAS:


[1] O Vampiro Ciro de Mano Melo.
[2] A celebração do Instante de Cairo Trindade.
[3] Flávio Nascimento em Deixem os Poetas.
[4] Horizontes de Brasil Barreto.
[5] O Blogueiro daqui recitando na Lapa.
[6] O performer Márcio-André assobiando seu violino para peixes.
[7] O bardo Tavinho Paes no Beco do Rato.
[8] A mulher Graça Carpes na Sala 7 - Vagina.
[9] O dandi bengaleiro Paulo Fichtner no Cep 20000.




segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Prosa - Longo Abraço III

O pequeno vaso grego está me olhando. A Colcha de retalhos mofa dentro do armário. Para cada retalho um ponto de fungo escurecido — memórias de festas e sais que misturavam na cama lençóis e colcha e cheiros avinagrados. No cimo da escada acompanho a simetria de pequenas reproduções renascentistas: os pratos na parede dispostos de forma angular, em cada um há uma marca de lábio, marca de uma história antiga. Não consigo fazer mais nada de nojento porque olhos (os seus) me vigiam em todo lugar. Quando vejo as jovens do colégio que há na rua, me ancoro na mureta, sitiado numa velhice que não me pertence, não me pertence. Mas é assim que escorrego pela rua, velhacamente encurvado, com pequenas cordas suspendendo alguns suspiros ou gritos que poderiam ser lascivos. Enquanto ouço vozes colegiais e o bater de tênis desesperado do vendedor de jornais correndo de um lado ao outro, vendendo notícias novas, e que se empilham uma sobre outra diariamente num movimento contínuo. Enquanto isso tudo acontece, desinteressado, me dou conta de que os movimentos virgens acabaram. Acabaram-se os novos sons e espasmos. Acabou-se a colcha e o vaso. O que existe agora é um vago sopro de passado, é uma brisa insistente que ainda me faz vivo e que persiste nos rebocos das casas descascadas e que me lembra das tuas primas e das laranjas que elas costumavam trazer frescas das feiras. Eu as degustava em dias de abril. Tuas primas, agora, estão a quatro mil planetas de distância, são humos para as folhas das laranjeiras de abril. Ontem rezei para Nossa Senhora das cabeças, para que me desse algum fio.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Facada


Aquela faca ficou me mordendo a noite inteira. Não que eu não soubesse usá-la. Que eu já havia visto milhares de vezes facas crispando sangue por todos lados. Há muito que lido com elas, faz parte da profissão: serrar pequenos ossos de animais. Mas ali, naquele tampo de mesa ladrilhada, o mosaico era diferente, era totalmente novo, como a baba que se renova no canto dos lábios em cada minuto salivar, secando a garganta de uma vida que já ganhou muitos pães, mas que agora se perde em jogatinas com ninfetas de quinze ou dezesseis anos, com o conta-giros ligado, martelando as cinco pontes de safena. Então, eu já não sabia se recuava e recusava a personagem do matador que eu incorporara com aquele vulto branco do meu lado soprando misérias no ouvido, ou se partia pra dentro e estripava a carne e deixava o sangue espargir pela sala, na mesa, na parede e no sofá novo, bem branco. Eu poderia encerrar aquela firula esganada que cortou a vida daquelas quatro pessoas que se engalfinhavam entorno do carteado. “Passa a porra do trunfo, se não chulapo tua cara de rebordosa babaca com dois tapas bem dados”, gritei. Houve um não sei o que e tudo que estava à volta se turvou. No dia seguinte, acordei, andei pelo salão e a vista estava mais nítida. Não havia sangue em volta, nem dinheiro sobre a mesa. As cartas também não estavam por lá. Fui à cozinha e abri a gaveta, as facas estavam todas arrumadas e na pia havia uma garrafa de Uísque cheia, fechada. Minha cabeça martelava um enjôo. Corri para o banheiro, lá, vi: a privada completamente ensangüentada e dentro dela uma espécie de célula disforme, muito pequena, abrindo e fechando o que seria a boca. Suavemente me dizia: escroto, escroto.

sábado, 30 de agosto de 2008

EDGAR ALLAN POE - O CORVO / VIDEO THE GLOAMING




1. Read the original [HERE].
2. E [AQUI] a tradução de Fernando Pessoa.
3. Neste link [DAQUI] a de Machado de Assis.
4. [ICI] Vous lisez la traduction de Baudelaire.
5. Mallarmé a le [CORBEAU] aussi.
6. Jorge Wanderley traduziu o corvo de seu [ESCRITÓRIO] na Uerj.
7. La [TRADUCCÍON] de Juan António Pérez Bonalde.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Exercícios Poéticos - Rio Movediço

Sambaquis no solo. Mantas metálicas e juncos.
Material desargamassado.
Janelas mínimas: flutua luz pardacenta.
Subsolora-se com estacas o interior da terra.
Vermes e caramujos e minhocas são teias intrincadas.
Engrenagens.
Uma parede encarcera a trepadeira pedra sobre pedra
sem ligaduras ou massa o homem é solo
preso sem peso timão ou betume.
Resvala na pedra a lixa que molda formas e palavras minerais.
Reina trança rede e distância que o concreto impõe ao barro.
Da pedra a gengiva evolui à dentição de brita,
da brita ao quartzo, assim adiante,
unhas são limadas.
E o cálcio e o cascalho
cosem a sustância
polindo a beterraba no ventre da mulher,
agora há massa: substância sensitiva
composta de esporas, margens seminadas, bordas lodosas.
Substância cidade: unstubosumasmarginaisumascasas.
Extrai-se da força fincada os acordes de uma história argilada
e dedo por dedo e fio por fio constrói-se a deriva
famílias/fóruns/delegacias/varais de remendos/
restos
de mastros estendidos pela orla/rodas/moinhos de vértebras
e cervicais/samambaias no interior/parcos caminhos
de lavas e placas e letreiros anunciando
verbos de passados e de futuros:
o subsolo pertence aos corpos mortos de Deus.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

ANTÔNIO CÍCERO - MINOS

Caros Leitores,

Minos, de Antônio Cícero, é um dos primeiros poemas que uso-exemplifico em minhas oficinas literárias. Às vezes inverto com o Assim nasce o poema, de Ferreira Gullar. Minos está no primeiro livro do autor, o Guardar, publicado pela Record. O motivo de utilizá-lo se resume ao aspecto de tratar da própria matéria criativa de um poema, a poeisis. Mas não sou o primeiro a dar esse aporte, Silviano Santiago, na orelha do livro, no início, já nos dá a dica de uma boa leitura dos poemas de Cícero, diz-nos:

1. Uma fórmula simples para guardar a poesia de Antônio Cícero? Está no poema “Dita”. A poesia é dita. Dita: particípio passado do verbo dizer. Dita: fartura, destino. Dita: casa de detenção. Eis a fórmula simples: dizer o destino do homem na casa de detenção da poesia. Ali se guardam todas as palavras, as dele e as alheias, até mesmo as antigas que construíram Baabel (“Confusão”) e que, depois, se perderam, repetida e incansavelmente no labirinto de “Minos”.

Do que se trata essa matéria nomeada poesia? A percebemos aqui e acolá, não somente no poema em si, mas também numa construção arquitetônica ou em um filme. A poesia está aquém e além, e o poeta, no caso, Cícero, a inquire, a capta, a rapta, a joga e é jogado por ela, com ela, condensando-a dentro de suas inúmeras possibilidades em um artefato criterioso, um labirinto chamado Minos. Assim, ele nos dispõe, gradualmente, o seu fazer poético sem nos ocultar o minotauro que ele desdobra a nós e, por conseqüência, nos expõe a ela. Vejamos a abertura do poema:
"Não ocultei o monstro: Jamais hei de ocultá-lo.
Jamais erguerei paredes para vedá-lo às vistas dos curiosos
e malidicentes. Jamais hei de exilá-lo."

A primeira questão que devemos nos deparar é o monstro. Pois ele é, se assim posso dizer, o fio condutor, o sujeito. A ele, no poema, todos os predicados vão convergir. Podemos, em uma leitura breve, tentar identificá-lo a partir de várias associações, pluralinzando-o, inclusive: Quem é ou quais são ou o que é ou o que são esses monstros que estão a mostra e dos quais (do qual) o eu poético não deve se envergonhar? Muito embora eu em minhas viagens interpretativas goste de indexar, classificando-o como eu, tu e você ou, também, como deus, o diabo, ou qualquer coisa que habite um espaço indesejado, como uma tênia, por exemplo. E permanece ainda a sugestão de que esse monstro seja a própria matéria poética, por quê não? Enfim, o dito-cujo, a querela, está desnuda no poema e o monstro é apenas monstro ou isso tudo acima que nos possibilita várias viagens. Pensemos, então, no verbo ocultar, pois é isso que dinamizará o poema, o ato de não ocultá-lo, de trazer o monstro para nosso íntimo e quem sabe o expor transformando-o em beleza, em matéria apreciativa. Vejamos:


"(...) Ao contrário:
Plantei-o no trono do salão central que ergui
para abrigá-lo, na capital do meu reino, no umbigo desta
ilha que eu mesmo tornei centro do mundo.
Que para ele convirjam todos os turistas, todas as rotas
marinhas, todas as linhas aéreas, todos os cabos submarinos,
todas as linhas aéreas, todos os cabos submarinos
todas as redes siderais (...)."

O bacana dos versos acima é perceber/visualizar o processo aglutinador. Através de adições e enumerações os elementos (todos os turistas/todas as rotas marinhas/todas as linhas aéreas/todos os cabos submarinos/todas as redes siderais) encaminham-se para o centro do umbigo do salão. O monstro ali no centro conectando-se ao exterior por rotas, cabos, fluxos. Que imagem. Que foto-poema colorido pode acontecer em nós, leitores.
Após confluirmos a leitura linear com as possibilidades imagéticas/visuais, o poema nos sensorializa com repetições labirínticas-sonoras (olha aí a edificação do labirinto do Minotauro):

"(...) Depois, áditos pórticos limiares entradas umbrais aléias
ânditos elevadores passagens escadas ombreiras travessas
portas corredores servidões rampas porteiras vielas
passadouros escadarias portões arcadas soleiras portelas
caminhos galerias sendas portais veredas cancelas
áditos pórticos limiares entradas umbrais aléias
ânditos elevadores passagens escadas ombreiras travessas
portas corredores servidões rampas porteiras vielas
passadouros escadarias portões arcadas soleiras portelas
caminhos galerias sendas portais veredas cancelas (...)"


E assim por diante, repetindo a mesma seqüência por várias vezes, o poema ruma para seu não término, sua infinalização e sua universalidade. Do centro do umbigo e do palácio central, ramificam-se as várias artérias, os vários caminhos poéticos. Nesta parte do poema, aliado ao caráter visual flui a intencionalidade sonora da poética de Antônio Cícero, a criação de um bloco sonoro, repetitivo, denso, com vários substantivos concretos (áditos/pórticos/veredas). Por fim, em Minos apreciamos conjunto logo/imagético/sonoro em todo corpus do poema: Razão> o deslocamento do monstro e sua referencialização como sujeito operante do poema, imagem> a capacidade de criar imagens em um único corpo: os vasos condutores que o conectam com o exterior, som> as repetições que reverberam e ficam retumbando como ecos intermináveis, como uma onomatopéia gritada por um monstro dentro de um labirinto.

Certamente que há outros aportes sobre o poema Minos, mas eu me detenho por aqui, pois as funções basilares deste post são estimular as possíveis leituras do fazer poético, ampliando, por conseqüência, a valorização do mesmo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

LANÇAMENTO - REVISTA MANUSKRIPTO


O camarada Miguel do Rosário lança a revista manuskriptos!
Prezados hermanos,


Estou lançando a revista Manuskripto (convite em anexo), neste sábado, dia 23/08, às 23:00, na rua Joaquim Silva 90, na Lapa, Rio de Janeiro. O lançamento ocorrerá junto à festa Rock Versos in poesia, um evento grátis com shows de banda de rock e jam session. Grande abraço, conto com vocês lá.


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sonetos - Camilo Pessanha

Depois da luta e depois da conquista
Fiquei só! Fora um ato antipático!
Deserta a Ilha, e no lençol aquático
Tudo verde, verde, - a perder de vista.

Porque vos fostes, minhas caravelas,
Carregadas de todo o meu tesoiro?
- Longas teias de luar de lhama de oiro,
Legendas a diamantes das estrelas!

Quem vos desfez, formas inconsistentes,
Por cujo amor escalei a muralha,
- Leão armado, uma espada nos dentes?

Felizes vós, ó mortos da batalha!
Sonhais, de costas, nos olhos abertos
Refletindo as estrelas, boquiabertos...

sábado, 16 de agosto de 2008

VERTENTES


Domingo, dia 17 de agosto às 18h, no Barteliê
com: Elaine Pauvolid, Márcio CatundaRicardo Alfaya, Tanussi Cardoso e com a participação especial deRosa Born, que lerá poemas de Marcio Carvalho. Eles darão uma palinha do que será o novo livro que lançarão juntos!!!
Em 2003, Elaine Pauvolid, Márcio Catunda, Ricardo Alfaya, Tanussi Cardoso e Thereza Christina Rocque da Motta lançaram Rios, pela Íbis Libris. Agora Elaine, Catunda, Alfaya e Tanussi se lançam num novo projeto, preparando outra coletânea, que contará também com a poesia de Marcio Carvalho (in memoriam).
A idéia dos quatro poetas de produzirem parcerias em poesia é antiga e pretende desenvolver-se cada vez mais, seja através de recitais ou publicações. O grande aglutinador é o poeta Márcio Catunda que, mesmo fora do Brasil, mantém a chama da poesia acesa. Ele virá exclusivamente para o recital.
Você não pode perder!
Os poetas mostrarão, pela primeira vez, poemas elaborados para uma nova antologia - Vertentes - a ser lançada em breve.
Após o recital, haverá palco aberto para você mostrar a sua poesia também.
Para quem não conhece o Barteliê, trata-se de um apartamento muito simpático, com cara de ateliê e bar. Ou é um bar muito simpático com cara de apartamento e ateliê? Você precisa conhecer.
Serviço:
endereço: Rua Vinícius de Moraes, 190, apto. 03, Ipanema (esquina com Nascimento Silva).
Ingresso: R$ 5,00
data: domingo, 17 de agosto.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sonetos - Camilo Pessanha

Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais!...

Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
- Porque ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?
- O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos...

Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
- Estranha sombra em movimentos vãos

terça-feira, 5 de agosto de 2008

ENTREVISTA - MAURO GAMA

Depois de vinte e seis anos sem publicar nenhum livro de poemas, o poeta e crítico literário Mauro Gama, lança pela editora A girafa, o Zoozona seguido de Marcas na noite. O livro reúne poemas escritos durante a década de 70. A noite de autógrafos acontecerá no próximo 14 de agosto, às 19.30 na Livraria da Travessa - Ipanema. Em entrevista ao Rio Movediço, Mauro comenta a participação no movimento práxis, seu processo de construção, o cenário poético contemporâneo e o ato de traduzir poesia, entre outros temas.

O Poeta e crítico literário, Mauro Gama, nasceu em 1938, no Rio de Janeiro. Estudou letras clássicas e ciências sociais, em que se licenciou pela UERJ. Estreou em livro com os poemas de Corpo verbal (1964). Ganhou a vida como redator de editoras e obras de referência, entre as quais cinco enciclopédias, como a Barsa 1, a Mirador internacional (onde foi assessor editorial de Otto Maria Carpeaux e Antônio Houaiss) e Barsa 3. Trabalhou na primeira fase do Dicionário Houaiss e colaborou na imprensa carioca, sobretudo em revistas da Bloch, no Jornal do Brasil e O Globo, em cujo caderno “Prosa & Verso”, de vez em quando, ainda resenha livros de literatura. Auto-exilado de sua grande e violenta cidade, vive hoje principalmente de lexicografia e traduções, em sua Quinta da Janaína, em Mendes/RJ. Outros livros publicados: Anticorpo (1969) e Expresso na noite (1982), poemas; José Maurício, o padre-compositor (1983), ensaio; Michelangelo – cinqüenta poemas (2007: tradução para o português coetâneo e estudo crítico; Prêmio Paulo Rónai da Fundação Biblioteca Nacional) e Zoozona seguido de Marcas na Noite (2008). Mauro Gama tem mais cinco livros de poemas inéditos, dois volumes de crítica e história literária, e muitos cadernos de diário, que escreve há quase 50 anos.


Até o momento seus livros foram publicados esparsamente, Corpo Verbal (1964), Anticorpo (1969), Expresso na noite (1982) e Zoozona, seguido de Marcas na noite (2008). O senhor poderia comentar os porquês de tantos intervalos de tempo?

MG: Salve, Flávio, estive lá no seu Blog. Está muito bonito e repleto de grandes atrações.
Os intervalos de tempo se devem a dificuldades editoriais. Nunca tive como financiar uma edição. Nem a compro depois, como fazem outros. Ofereci o Zoozona a diversas editoras, que o rejeitaram tranqüilamente. Já não há José Olympios, e mercenários não faltam, proliferam como cogumelos. Editoras como A Girafa e o Ateliê Editorial, de S. Paulo, são exceções, que têm à frente homens cultos e de grande respeito pela arte poética, José Nêumanne Pinto e Plínio Martins. Além disso, acho não publicar quase tão bom quanto publicar, pelo menos durante a vida do autor. Ele pode mexer mais em seu material e lhe imprimir maior firmeza. Isso a gente aprende com um dos maiores mestres da música de todos os tempos, Johannes Brahms.

Qual a sua relação com as vanguardas poéticas dos anos 50 e 60 e como se apresenta a práxis criativa na sua produção literária?

MG: Na década de 50 eu era adolescente, já escrevia mas não publicava poemas. Na década de 60, colaborei (com material do segundo livro, Anticorpo) na revista Praxis, dirigida pelo poeta paulista Mário Chamie. Eu e outros poetas cariocas víamos afinidades entre o que fazíamos e a prática poética do Mário. Meu primeiro livro, Corpo verbal, já estava escrito quando conheci o Chamie, a revista e Cassiano Ricardo, grande poeta que sempre deu apoio à vanguarda literária. A minha poesia, assim como a dos outros poetas cariocas da época, não tem nada a ver com as propostas teóricas da revista Praxis. Só um ou outro leitor de superficialidade muito obtusa nos vincula à plataforma do grupo. Ou então um ou outro confrade desonesto, com má-fé, para gabar sua suposta "independência": alguns dos que, com essa atitude, chamaram o nosso trabalho de "poesia-práxis" são copistas de poesia portuguesa consagrada ou da norte-americana beatnik. Em todas as literaturas do mundo escritores podem-se reunir numa revista. No Brasil, não. A epistemologia do brasileiro é o preconceito.

Interessante a questão sobre o preconceito... Como é possível localizá-lo? Digo, por qual viés ele se apresenta, pelo econômico, dado que a disponibilização de recursos como bolsas, prêmios, feiras e congressos são mínimos e não contemplam os vários poetas que fazem um trabalho sério? Ou pelo nucleamento de confrades? Ou o preconceito está na academia, na sua prática seletiva e restritiva?

MG: Não, veja bem. Quero dizer que, por falta do hábito de leitura e do aprendizado sistemático, o brasileiro, em geral, tende a avaliar as pessoas e as coisas através do preconceito, da noção acrítica e emotiva. Nossa sociedade é toda minada pelo preconceito (social, racial ou étnico, moral, sexista, regional, etário etc. etc.) e, nos círculos de escribas e artistas não é muito diferente. Entre outros preconceitos e prevenções que se vêm mantendo nesses meios, está o da oposição ao “grupo”, à associação, a qualquer tomada de posição coletiva. Como se o artista tivesse de ser ainda mais individualista do que os outros, de uma originalidade rigidamente pessoal,“imaculada”, coisa que, é claro, não existe. Na verdade, eu só quis tocar nesse ponto; os outros se mostram em toda parte: no plano econômico, que você citou, em que se insiste em dar à literatura – e a outras atividades – uma função elitista, “elevada” e “enobrecedora” (quando ela precisa exatamente estar livre para esculhambar tudo, se for preciso); ou no plano do academicismo, que lhe é correlato e tende a discriminar o escritor às avessas, num clube fechado, de nababos bem nutridos e porta-vozes do privilégio. Aliás, o privilégio, que no Terceiro Mundo é um dos maiores alicerces do poder, é outro fruto do preconceito, ativo e passivo.

Segundo minha leitura, há em Zoozona uma celebração à vida. A aglutinação vocabular de Zôo e Zona gera um painel temático no qual, na primeira parte, vários animais se humanizam, sendo que cada poema apresenta um animal-tema que é potencializado sentimental-espacialmente e cada um guarda sua característica essencial, seu universo e modo particular de se relacionar com a natureza. Já na segunda parte, a zona, o foco temático é a prostituta. A mulher, ali, é a terra-mãe. Houve, de sua parte, uma possível tentativa de um mosaico natureza-mãe geradora de vida e também a constituição de um kosmos maior que engloba o Zoo (natureza>campo) à Zona (cidade>concreto), Kosmos, esse livre e crítico, reflexo de paradigmas e relações sociais?

MG: Sim, sem dúvida, e tenho de louvar o modo como você percebeu essas coisas. Celebro a vida ao mesmo tempo mais verdadeira e mais ameaçada. As relações sociais percorrem o livro todo, envolvendo também a situação do país em relação aos outros, sobretudo os EUA. É uma poesia de crítica e denúncia permanentes, a partir da ternura pela vida e, especialmente, pelos seres que, ao contrário de nós, vivem aquém da opção e da consciência ativa.

Em se tratando da forma, um dos matizes presentes nos seus poemas de Zoozona e Marcas na noite é o recurso fanopéico. No seu laboro, o som puxa o som, assim como a palavra- puxa- palavra?

MG: Certamente. Não sei se diria "fanopéico": são recursos fonéticos, como aliterações e paronomásias interativas. Você fez bem em lembrar o "palavra-puxa-palavra". Num ensaio memorável (Esfinge clara, 1955), Othon Moacyr Garcia estuda isso na poesia de Drummond. Vem de longe, portanto, mas eu de fato procurei sistematizar esses meios. Há na minha poética um inegável caráter estrutural, isto é, um modo de construir o texto em que os significados e os significantes se tornam indissociáveis do ponto de vista expressivo.


6. Rinoceronte

É o que tem uma sólida bagagem
o candidato de peso ainda mais
que protegido soldado pela
blindagem. Espesso de vista
curta- bólido em massa explosiva
de rumo e bitola reta – quem
melhor pode afrontar (ou esmagar)
leopardos e lebres livres? É todo
de pedra e placa concentração
de granito: não fosse um duro
pendor para a solidão e um
fundo de olhar aflito ou
essa modéstia às vezes de
ter um chifre somente seria
um chefe inconteste na alheia aldeia
dos homens perito em roubos
serviços de arrombamento
e finanças suplícios e morticínios
triturador de detentos tonel
de desesperanças – o líder mais
resistente e o mais apto já visto:
ah! Se não fosse inocente
bem chegaria a ministro.

Cada poema de Zoozona e Marcas na noite apresenta-se como um todo, bem condensado. Não se notam os recursos de enumeração caótica, cortes abruptos e fragmentações. Há uma preocupação com a unidade poética no percurso dos poemas, digo, tanto na concepção da idéia maior sobre os propósitos da obra quanto à realização verso por verso, poema por poema?

MG: É verdade, particularmente nessa fase. É bom, aqui, lembrar a cronologia dessa produção: o Zoozona foi escrito de 1979 a 84. Marcas na noite, de 1969 a 78. Concebo o texto poético como um objeto autônomo no contexto da página e "curto" até a forma exterior que ele assume. Uso 'enumeração caótica' e cortes bruscos em coletâneas posteriores, ainda inéditas.

Decantação

Vêm do sol – posto estes maduros rostos
por entre as folhas os pendões os ventos
vêm sedentos os lábios em frios timbres
noturnos os véus cobrindo os sussurros
num toque de violeta beijo e rendas;
sem que apreendas os nomes a etiqueta
certa em meio aos ruídos indistintos
estalidos nas estantes recortes de
diálogos distantes se acendendo ou
se apagando: e pior desgosto que o
de ouvir e até rever esses rostos
é olhar a paz e o pó dos vidros ou
dos lenços os cheiros e os papéis
se desbotando e escutar em tudo isso
o seu silêncio seu mais liso sedimento
de silêncio na madeira do ar – na poeira.



Antônio Houaiss, no prefácio, te nomeia como o poeta de outros carnavais. Em quais carnavais o senhor se insere no âmbito contemporâneo de nossa poesia?

MG: Houaiss se refere a outros patamares do desenvolvimento da minha linguagem, acredito que particularmente aos conflitos assumidos entre o Corpo Verbal e o Anticorpo, o primeiro de lirismo quase hermético, o segundo todo crítico e repleto de agressividade política. "De outros carnavais" também quer dizer, figurativamente, "de outras obras", "de outras oportunidades".


Em Saída, no Zoozona, o senhor afirma que a poesia brasileira sempre importou os modismos europeus. Ainda os importamos?

MG: No Brasil, infelizmente, sempre se importou e se macaqueou demais. Como você é professor de português, deve-se ver louco ante a passividade com que, hoje, se incorporam todas as sobras do inglês que rola pelo mundo. Na literatura das gerações mais recentes, quero dizer, da década de 1980 para cá, confesso que vejo menos dessa atitude "importadora", embora tenha sido rara sua substituição por outra necessariamente melhor, de maior inventividade ou coisa parecida. Vejo muita confusão, depois de várias décadas de falência educacional. A mesma coisa acontece com as outras artes: há no cenário dezenas de contribuições precárias, indefinidas, mas cujos autores procuram "aparecer" seja como for, e promover esse aparecimento.

Entretanto, quanto maior o fluxo de traduções, maiores as possibilidades de trocas poéticas. O senhor traduziu obras de poetas da estirpe de Michelangelo, livros no campo da sociologia e da dança. Como se dá seu trabalho de tradução? O senhor coaduna com os preceitos de transcriação e recriação. Sendo mais específico, pode nos descrever qual foi o critério que o senhor utilizou para traduzir Michelangelo?

MG: Sim, a tradução, levada a sério, possibilita um mundo de novas trocas, sendo excelente exercício para o poeta e o escritor em geral. Penso sempre na necessidade de se transcriar ou recriar. Meu critério está definido na teoria e na prática daquela coletânea de Michelangelo. Tenho algumas outras experiências, de poetas da língua inglesa e francesa. Para a minha posição, texto não “se adapta”, não “se facilita”, nem “se atualiza”: se passa para um texto e contexto lingüístico equivalentes. Por isso passei o italiano do renascentista Michelangelo para o português do renascentista Camões. Tudo ali está no século XVI. Dá trabalho. É preciso pesquisar a datação de cada palavra. Nenhuma das que usei nos poemas traduzidos apareceu depois, nos séculos XVII ou XVIII, p. ex.


Como o senhor avalia a inserção cada vez maior da Internet no universo literário? O senhor acompanha algum sítio de literatura?

MG: A Internet reflete em todos os seus aspectos o caos dos nossos dias. Tem de tudo, 95% de lixo comunicativo ou comunicóide, mas também instrumentos preciosos de expansão da literatura e dos conhecimentos, como o Google, a Wikipedia etc. Entre os nossos sítios brasileiros, recomendo menos os de discussão estéril, com cacoetes e cagações de regra de natureza acadêmica, e mais os blogues vivos como o Balaio, dirigido pelo poeta Moacy Cirne, com amplo espectro de divulgação literária e ideológica, e o seu espaço, o Rio Movediço.
Por último, após a publicação de Zoozona, quando teremos o prazer de lermos outras obras do senhor?

MG: Tão logo uma editora queira publicar um dos meus cinco ou seis livros de poemas ainda inéditos, inclusive os mais recentes. O último deles, Com'andantes, parece ser uma culminância do que consegui até o momento. Tenho também dois livros de crítica e história literária, e muitos volumes de diário, que ainda preciso pentear.

O CONVITE PARA O LANÇAMENTO:








segunda-feira, 4 de agosto de 2008

FLAP- À DOIS PALITOS DAQUI, FAZ-SE LITERATURA EM SP

Meu espírito não está por aqui. está com o pessoal lá de Sampa. Los hermanos supimpas que estão agitando a noite paulistana. Ah se eu tivesse o tempo para ir para lá e tomar um chop com a turma. Mas, não deu para ir, grana curta, compromissos, filas de ônibus e cartão de ponto, este ajuntado de coisas me impedem. Fico por aqui curtindo a saudade da casa das Rosas, da Rüsche e do Claudinei Vieira, o bom de sinuca, sem falar na Tati e no Balzac. Entoces, vou fazer uns recortes por aqui e postar o que está rolando por lá, assim quem sabe né, destilo um pouco dessa saudade.



sobre a matéria da que saiu da flap na globonews, Ana Rüsche escreve para o blog da FLAP:
É evidente que não se irá falar da importância dos meios de comunicação em massa, há tanto espaço aí para essa discussão (ou talvez nem tanto). Nem que esse ano foi moleza divulgar o evento nos lugares mais-mais da mídia paulistana. Sim, parece que a poesia entrou na pauta.
E agradecimento aos jornalistas com coração que na semana passada ajudaram bastante a gente, mesmo os que não conseguiram espaço. Puta madre i*, vcs tb fazem a FLAP! E também aos blogueiros que estão aí no corre. Aliás, juro que atualizaremos os blogues amigos, ufa - recebemos sim teu e-mail!
E PUTA MADRE ii!*, ontem estava tudo realmente tão bonito na Casa das Rosas, de chorar, de chover depois de tanto tempo sem água, de lavar as calçadas e a alma.
Bem, o título era mesmo para ser sensacionalista. Contudo, por uma via perpendicular, a ida da Globonews provocou um parto interessante de idéias, pois o repórter queria-porque-queria saber, com essa muita vontade peculiar aos jornalistas, qual a maior diferença entre os poetas da FLAP! e os mais poetas mais antigos. Hum, geração zero-zero, geração zerada, ai, ai, o que pode ser agora um reluzente par de ovos brancos e apodrecer rapidamente pra feder. A ressaca odoborogodó & outros gorós dá aquele rolê na loja de conveniência dos lugares comuns e blábláblá e não responde nada. Isso foi umas 13h.
Depois de resolver 10 mil pepinitos felizes durante à tarde, pegar a energia boa da galera, umas 16h fiquei de papo furado com o repórter. E contei do Blogue da FLAP!, dos blogues amigos (ele já tinha visto as transmissões ao vivo). E também do Peixe de Aquário, dos poemas invisíveis - poemas que não cabem no papel, do El Libro de Alan, enfim essas coisas cujo suporte é inteiro virtual e tem lançamento com vídeo e chat. Contei ainda da nossa emoção quando o Gianca Guapaya e a María Eugenia entraram on-line durante nossa primeira transmissão da FLAP! - parecia contatos imediatos de 3º grau, hehe. Enfim, esse monte de traquinagens felizes que exercitamos por aí. E mandamos via twitter. Afinal, o messenger é geração 90.
Aí veio a resposta para a tal pergunta. Lembra dos grafiteiros? Então, já que as galerias de arte não davam espaço para uma arte mais comunicativa, quizás pop, mais urbana, mais divertida (arte que as pessoas entendem!) e fecharam-se para o academicismo, hermetismo e outras panelas enfadonhas, os caras desencanaram e mandaram ver nos muros. No início era uma coisa vista como ingênua. Puta madre iii*, e agora Os Gêmeos estão onde estão! E assim, os grafiteiros criaram seu próprio espaço, onde antes só tinha muro.
E criar espaços onde não existiam é um ato de artista. Mesmo que sejam espaços imaginários. The fiction of life. E nada mais apropriado que sejam os poetas, digo esses de coração leves, llenos de ternura y delírio, criaturas de imaginação solta, fofura radicais sempre jugando como niños, que imaginam o próprio espaço.
Que é também o teu. Essa tela de mil dimensões ainda não exploradas. Esses tantos outros lugares criados com o jeitinho de distribuir Casulos improváveis em locais antes esquecidos, de organizar Festivas desorganizados para tudo se organize no vamos-de-mãos-dadas, de fazer revistas que Não Funcionam, de descolonizar corações. E ver com certo desinteresse as editoras que deixam teu original apodrecer, círculos viciados como a universidade que nem chega a conhecer a produção da década de 80 e quer autorizar-desautorizar poetas (até é engraçado de pensar, hehe) e os discursos autoritários que tentam inutilmente erguer um cânone entre farrapos. Ah, pobres mortais… el amor es decidir que no hay que morirse…
O espaço está criado. Isso é um fato, o resto é futuro. O espaço que não existe. Só existe AGORA que você me lê. Este. Pode tocar na tela que tocará em muitos. Só o impensável é impossível.

ana rüsche
***
Vídeo produzido durante o encontro:





quarta-feira, 30 de julho de 2008

Extratos - Mario Faustino




Para os Poetas:

Segue abaixo alguns extratos da folha Poesia- Experiência do JB. Este trecho foi extraído do livro De Anchieta aos Concretos, organizado por Maria Eugênia Boaventura e publicado pela Companhia das Letras em 2003. Pags 483-84


(...)

Confúcio: Se um homem sabe se manter vivo o que é velho e reconhecer o que é novo, poderá, um dia, ensinar.

W. H. Auden: "Por que queres escrever poesia?" Se o jovem responder: "Tenho coisas importantes a dizer" então não se trata de um poeta. Se responder: "Gosto de vagabundear no meio das palavras e de ficar escutando o que elas dizem" então pode ser que seja que ele venha a ser um poeta.

Tomás de Aquino: Três coisas necessárias à beleza: integridade, harmonia e clareza.

Hegel: O Homem deveria orgulhar-se mais de ter inventado o martelo e o prego do que ter criado obras-primas de imitação.

Ezra Pound: A maestria em uma arte é trabalho para uma vida inteira. Não me agradaria fazer qualquer discriminação entre o "amador" e o "profissional" - se o fizesse seria, freqüentemente, em favor do amador - mas faço discriminação entre o amador e o perito. O certo é que o caos atual durará até que a arte da poesia tenha sido metida à força garganta adentro do amador, até que haja conhecimento geral do fato de que a poesia é uma arte, e não um passatempo; e conhecimento geral da técnica; da técnica de superfície e da técnica de conteúdo; - até que amadores cessem procurar tomar o lugar dos mestres.

Benedetto Crocce: Existe uma affirmation amause de Mallarmé, amiúde citada com admiração: "Não se faz poesia com idéias, e sim com palavras"; sobre a qual é necessário observar que, ao contrário, poesia não se faz nem com os mots, vocábulos, nem com les idées, conceitos, e sim com a própria poesia, com essa criação da fantasia que é, justamente, o próprio ato, palavra viva.








Edward Sapir: De todos aspectos da cultura, pode-se dizer com segurança que a linguagem foi o primeiro a assumir uma forma altamente desenvolvida e que sua perfeição essencial é requesito indispensável da cultura como um todo.




quarta-feira, 23 de julho de 2008

AINDA FLAP 2008

Leitores, acabei de receber o release oficial de divulgação da FLAP. Aí vai:


Zona Franca nos remete à idéia da troca comercial entre nações e delimita um território onde há o estímulo à circulação do capital financeiro. A proposta da FLAP! 2008 é adulterar esse conceito, transplantando-o para contexto cultural. A exemplo do Festival Tordesilhas, que em 2007 propôs um amplo debate de autores ibero-americanos, a FLAP! alarga suas fronteiras, convidando para sua quarta edição mais de 20 escritores latino-americanos.

O programa traz uma semana inteira de eventos, com trocas de experiências entre diferentes gerações, saberes e lugares. Da zona leste a oeste, passando pelo sul e sem abandonar o centro, a FLAP! acontecerá em centros culturais diversos, estimulando o contato entre autores, produtores culturais, acadêmicos, estudantes e interessados em geral. Como essencial ao espírito do evento, permanecem a informalidade, os debates apaixonados e a ampla participação do público.

O portuñol será idioma oficial do evento, que por oito dias agregará uma comunidade cujo principal traço é o interesse pela literatura contemporânea e a sua relação com as outras artes. No melhor espírito 2.0 08 e com tecnologias simples, nada além de um blogue e uma webcam, os organizadores transmitem, ao vivo e com chat, discussões sobre o evento e leitura de poemas (via www.ustream.tv). Outra inovação é evidenciar a rede de blogues amigos, o uso do twitter e contar detalhes de "como se organiza o evento" nas postagens. Os convidados latinos também poderão escrever diretamente no blogue oficial do evento. Y viva la conexión!