sexta-feira, 21 de novembro de 2008

HOTEL PALÁCIO

Enquanto Javier – Flávio olhava através da janela do Hotel Palácio uma construção que estava entre dois prédios cinzas, baixos, um pequeno feixe emoldurado pelo azul, Maria-Flávia observava o bidê do banheiro do quarto, lembrando-se do que havia no banheiro do apartamento em que morou quando criança. Eram semelhantes os bidês e os olhares dos dois. Eles perscrutavam as similaridades de suas infâncias, não só no quarto, mas nos corredores protegidos por pequenas grades que abasteciam o vão de respiradouro fechado por uma imensa clarabóia no edifício velho. De certo modo, concluíam que suas vidas estavam ora desatadas pelo vão ou ora ligadas pelos lances de escada que ocupavam a metade do corpo daquele prédio. No vazio ocultavam-se as expectativas de cada um sobre o futuro do casal, sobre o que restaria de suas individualidades. Nas escadas, os dois apoiavam-se para as subidas e deslizavam de mãos dadas nas descidas. Mas havia também uma outra ligadura, o elevador, este por força de seu conjunto metálico maravilhosamente lustrado, os içava para cima e para baixo pausadamente. Quando descia os deixava no hall quase os jogando na rua através de uma porta de ferro, pesadíssima. Dali era sair por uma Montevideo velha nas costas da Praça da República.

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