domingo, 17 de janeiro de 2010

Águas do Rio

Seguem as águas do rio,
escorrem nas beiras,
nas eiras, nas neuras.
Seguem as seculares poças
que inundam a Praça Mauá
e fazem do Caju a piscina das almas.

Seguem e seguimos as moças
que também marolam
o rebolado saltitado do ir
e vir cadeirando na Lapa,
no samba, no café com pão
do Manuel Bandeira.

Eu também sigo,
obcecadamente
as águas do rio sigo
nadando nas estações
Carioca e Cinelândia
Uruguaiana e Saens Pena,
as moças cadeirantes
os jeans suados, colados,
as saias, os faróis molhados,
o frisson de meu guarda-chuva
rasgado neste dia chuvoso
com meus fantasmas
e as almas do Caju.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O ano

Começa o ano e começam os rebuliços. Quantas listas meu Deus! Quantos pensamentos do que há a se fazer, executar, planejar, correr. O tempo, o tempo é essa linha tênue que conduz a marionete - puxar para aqui, puxar para ali. É o tempo. Mas estão paradas as coisas pois mal o ano rebentou e as tragédias acontecem. Mal o ano começou: a vida foi ceifada. Mas eu não consigo parar e ver o estrago, o buraco na boca do estômago. Sigo, sigo balançando e tremendo como gelatina, esquivando-me das farpas e das agulhas deixadas no esburacado das ruas, e como um capoeira, brincando de jogar amarelinha, pulando as vaidades, as dúvidas, os ciúmes. Este ano promete ser uma baita aventura, talvez a maior de todas: a de viver um dia de cada vez, a de sentir o só por hoje faço o melhor por mim. E se um terremoto ou um zangão ou uma rasteira me acertar e não conseguir me levantar e sorrir, foi o destino que disse o basta. O que me vale hoje é o benefício da incerteza do que vai acontecer e do que vai dar certo ou não, até porque ser escravo é achar tudo está errado.