sábado, 31 de maio de 2008

POEMAS SUÍÇOS - MAIO MARIA

Andei relendo o Poemas Suíços e resolvi publicar alguns poemas aqui no blog. O primeiro da série é Maio Maria.

MAIO MARIA

É maio, Maria, mês de poemas curtos
mas a deplorável
insistência de não acontecer
herança do inverno
congela tudo
inclusive poemas.

Longas são as conversas no espelho.

Maio espreita lá fora, vê!
Ele espera, com braços envolventes
propõe uma canção.

Tão mais alta, tal qual
no estalo de dedos
no toque carmim
de quem já esqueceu
Maria.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

ENTREVISTA - ANTÔNIO MÁS





Antônio Más nasceu em Minas Gerais e vive no Rio de Janeiro. Formado em publicidade, sua vida profissional sempre foi ligada ao cinema. Escreve há tempos, mas só recentemente começou a publicar. Suas experiências no cinema imprimem em seu texto a dinâmicas dos filmes de ação e aventuras.


Fale um pouco de sua trajetória do cinema à literatura.

Foi um caminho de ida e volta. Ainda criança, influenciado pela minha mãe e irmã mais velha, lia muito, de quadrinhos à clássicos, como Machado de Assis, Monteiro Lobato, Clarisse Lispector. Depois descobri Tchecov e principalmente Thomas Mann. Mas também era apaixonado pela imagem e vivia no cinema da minha pequena cidade, vendo bang - bang, Tarzan e todos os filmes que demoravam a chegar, mas um dia passavam por lá. Já adolescente me mudei para Belo Horizonte, onde, na primeira semana entrei no Cine Pathé e vi Noite Americana do mestre François Truffaut. Aí descobri que queria mesmo era fazer aquilo. Comecei com o super 8 e logo estava filmando em 16mm. Mas o prazer maior sempre foi criar as histórias e escrever os roteiros.


Por ter vindo de uma linguagem como o cinema, como você trabalha a imagem na literatura, é o seu ponto forte?

Se ao ler um livro o autor não consegue me fazer ver a cena, fecho e vou ver, ou melhor, ler outro. Então ao escrever, naturalmente procuro ver o que estou descrevendo, e a experiência com roteiros e com a técnica de transformar palavras em imagens, ajuda muito. Interessante que a recíproca, nesse caso, não é verdadeira, num filme, se a cena fica literária o resultado é ruim, falso.


Em Bárbara não quer perdão, seu romance de estréia, você nos apresenta uma história policial que tem como pano de fundo complexos simbólicos. Até que ponto você se utiliza os símbolos para constituir a narrativa?

Não me preocupo em criar uma história a partir de nenhuma teoria, ou simbologia. Neste caso específico, a narrativa se apropriou de um símbolo por ser da natureza da história. Penso que a arte, qualquer que seja sua manifestação, não deve defender teses ou conceitos, que vão aparecer naturalmente. Todas estas informações estão em quem escreve e lê, e tanto de um lado como de outro, gosto de me deixar levar pelo rio narrativo, cheio de surpresas.


Aliás, como surgiu a idéia para fazer o Bárbara não quer perdão?

Veio de um argumento que comecei a escrever para um seriado de tv, ou mesmo um filme. Em geral um argumento tem umas vinte, trinta páginas. Quando me dei conta estava com setenta páginas escritas e muita história ainda pra contar. Tomei fôlego e fui em frente. Quando fechei a narrativa, mostrei para algumas pessoas e todas disseram, isso é um romance. Daí passei alguns meses na carpintaria e decoração do texto, até ter coragem de publicar. Valeu a pena.


E os quadrinhos, o romance já está adaptado para os quadrinhos?

Estamos em negociação e como tudo nesta área, demora muito. Mas é uma idéia que vai vingar. O quadrinho brasileiro está em ascensão e a desenhista, a Lhu Pape é um geniozinho. Aguardemos pois.

Além do HQ, quais os próximos projetos para 2008?

Estou finalizando um outro romance que tem me dado um prazer enorme em escrever e acho que pode ser um sucesso, modéstia às favas. Passa-se em 1990 e o protagonista é um velho projecionista de cinema. Não é policial, mas é cheio de suspense. E tenho pela metade um outro policial com o personagem Zé Silva, um detetive brasileiro. Este personagem, aliás, está pra virar seriado para celular. Haja disposição.

domingo, 25 de maio de 2008

TRÊS TESOUROS PERDIDOS - MACHADO DE ASSIS




* Dedico este 'post' aos alunos da Oficina Literária Centro em Crônicas.


Machado de Assis é um ótimo instrumento de aprendizado para quem se inicia no hábito de escrever contos. Em toda extensão, sua obra revela as qualidades necessárias para um autor principiante refletir e tomar como norte, exemplo a seguir. Ele é mestre. Domina as técnicas narrativas. Maturou-as na leitura dos clássicos, na leitura de seus contemporâneos, na leitura atenta e antenada, no respeito pela tradição compreendendo-a como uma forma de continuidade e inovação. Nada é desproposital. Há escolhas e decisões: a apresentação das personagens, a estrutura da narrativa, o ponto de vista do narrador, a manipulação do tempo, o desenvolvimento da intriga, a acuidade artesanal da composição dos personagens, os adereços que os compõem, a ambientação do cenário. Tudo muito bem amarrado, encadeado.

Em Três Tesouros Perdidos, publicado inicialmente em 1858, Machado, que ainda contava com apenas dezenove anos, já delineava o apuro e o corte literário que nos seduz até os dias atuais. Mesmo sendo de um momento inicial de sua carreira literária, podemos perceber no texto a ironia que permeará toda sua obra e a clareza das imagens aliadas à economia das palavras bem escolhidas e bem dispostas. O pequeno conto trata de uma traição amorosa. Logo na abertura ele nos situa de tal modo que acompanhamos os passos da personagem através do narrador:

“Uma tarde, eram quatro horas, o Sr. X... voltava à sua casa para jantar. O apetite que levava não o fez reparar em um cabriolé que estava parado à sua porta. Entrou, subiu a escada, penetra na sala e ... dá com os olhos em um homem que passeava a largos passos como agitado por uma interna aflição.”

Como vimos acima, Machado dispõe os ingredientes necessários para seduzir o leitor e incentivá-lo a continuar a leitura. Define o tempo cronológico: quatro horas. O cenário da história: a casa do sr X. Nos dá estados emocionais dos dois personagens: Senhor X: apressado e com fome; o outro, que ainda não é nomeado, mas que já é caracterizado como instável, agitado. Além disso, o narrador nos guia espacialmente, desde a saída do cabriolé até o interior da casa. Nós temos uma gama de informações em apenas quatro linhas. Tamanha economia não se dá à toa, a abertura é uma das chaves mais importantes para definir se o conto será bom ou não. Embora não seja uma obrigatoriedade, ela deve ter em seu bojo a capacidade de nos informar e de nos preparar para a história, anunciando o que virá a seguir, a intriga.

Diferente do romance, o conto prima pela exclusão. Excluem-se diversos elementos alusivos para apenas concentrarmo-nos em uma única problemática. No caso de três tesouros perdidos o cerne é a traição através do espírito do marido traído:

- Senhor, eu sou F..., marido da senhora Dona E...
- Estimo muito conhece-lo, responde o Sr X...; mas não tenho a honra de conhecer a senhora Dona E...
- Não a conhece! Não a conhece! Quer juntar a zombaria à infâmia?
- Senhor!...
E o Sr. X deu um passo para ele.
- Alto lá!
O Sr. F tirando uma pistola do bolso, continuou:
- Ou o senhor há de deixar esta corte, ou vai morrer como um cão.
- Mas, senhor, disse o Sr. X...., a quem a eloqüência do Sr. F... tinha produzido um certo efeito, que motivo tem o senhor?
- Que motivo! É boa! Pois não é motivo andar o senhor fazendo a corte à minha mulher?

Machado explora o recurso do diálogo para deslindar o cerne do conto: a traição. Assim, ao dar voz aos personagens, vai rapidamente a um dos pontos da trama: como o Sr F, o traído, tenta resolver a situação propondo a saída imediata do possível traidor, o Sr X. Além dos diálogos é interessante perceber que nesta passagem o narrador pouco se interpõe ou opina, Machado o utiliza diretamente na passagem “E o Sr. X deu um passo para ele.” e “O Sr. F tirando uma pistola do bolso, continuou:” e indiretamente, por dentro do personagem no trecho “a quem a eloqüência do Sr. F... tinha produzido um certo efeito...” .

Saber que podemos optar pelo diálogo ou pelo narrador para elucidar alguma passagem também é uma das ferramentas necessárias para o sucesso de nossa história. Neste conto Machado ainda não esmiuçava o narrador e suas potencialidades, ainda ensaiava os seus primeiros passos no mundo da literatura. Mas, certamente, ele observava, lia muito.

Um exercício interessante é montarmos dois paralelos ao escrevermos um conto. Em um primeiro plano, escrevemos a história na primeira ou na terceira pessoa, apenas a narramos. Em um segundo, vamos elaborar diálogos em cima da mesma temática. Por fim, cruzamos a narrativa e os diálogos, eliminando os excessos, percebendo em qual passagem a narrativa adere melhor e vice-versa. É trabalhoso, mas quem disse que escrever não é fruto de muito trabalho?

Outro aspecto importante é o de que nada deve ser gratuito. Tanto em prosa quanto em poesia não se pode jogar no papel personagens ou situações que não tenham resoluções ou propriedades, mesmo quando a escrita se apresenta pelo impulso do pulso na página, pelo caminho da “palavra puxa palavra”. Amarrar o texto, não antecipar o término, encaixar as partes, mesmo as díspares, para que haja um sentido de completude e de prazer máximo para o leitor. Muitas vezes essa sensação se dá pelo ritmo do texto ou pela dissonância polissêmica, mas ainda assim temos que saber se as palavras estão onde realmente deveriam estar. Reler as frases, os versos, inverter a ordem. Ver palavra por palavra.

No conto de Machado de Assis há uma passagem que nos remete ao aparecimento de um personagem, o moleque, que se permanecesse somente ali não teria nenhuma função. Para melhor compreensão, vamos retomar o fio da meada da história. O Sr. F acusa o Sr. X de estar cortejando sua esposa, a senhora Dona E. Ele deixa duas opções ao Sr. X, a pistola ou deixar a corte. Obviamente que o Sr X opta pela segunda. Previdente, o marido traído provém o Sr X com uma quantia necessária para a viagem e gastos extras. Nesse momento, X chama o moleque para deixar instruções durante sua ausência:

“ O Sr. X ficou por alguns instantes pensativo. Não podia acreditar nos seus olhos e ouvidos; pensava sonhar. Um engano trazia-lhe dois contos de réis, e a realização de um de seus mais caros sonhos. Jantou tranqüilamente, e daí a uma hora partia para a terra de Gonzaga, deixando em sua casa apenas um moleque encarregado de instruir, pelo espaço de oito dias, aos seus amigos sobre o seu destino.”

O conto caminha para seu desfecho e nos sete parágrafos seguintes tomamos ciência de que o traidor não era o Senhor X e sim um amigo do Sr F, nomeado como Sr P, Capitão da Marinha. Nesse ponto, ciente de seu erro, de sua falha e de sua cegueira, nosso marido traído retorna a casa do Sr X:

“Desesperado, fora de si, o Sr F... lança-se a um jornal que perto estava: o paquete tinha partido às oito horas.

- Era P... que eu acreditava meu amigo... Ah Maldição! Ao menos não percamos os dois contos! Tornou a meter-se no cabriolé e dirigiu-se a casa do Sr X... subiu; apareceu o moleque.
- Teu senhor?
- Partiu para Minas.”

Aqui vemos a retomada do moleque participando ativamente do desfecho. Como disse Tchekov: “Nunca coloque uma pistola em um cenário se não for usá-la”.

Nos dois últimos parágrafos Machado remonta o título da história, os três tesouros perdidos pelo Sr F: A esposa, o amigo e os dois contos de réis:

“- perdi três tesouros a um tempo: uma mulher sem igual, um amigo a toda a prova e uma linda carteira cheia de encantadoras notas... que bem podiam aquecer-me as algibeiras!...”

sexta-feira, 23 de maio de 2008

LEÃO LÍRICO - ELAINE PAUVOLID

A poeta Elaine Pauvolid está lançando um novo livro., o Leão Lírico. Aí vai o recado dela:

Olá!
dia 2 de junho lanço meu livro Leão lírico e gostaria muito de contar com a presença de vocês no coquetel de lançamento!



Sobre o meu livro Márcio Catunda, Ronaldo Werneck e Bruno Candéas escreveram:

"Em Leão lírico, Elaine Pauvolid se revela na vertigem da plenitude: lúcida e lúdica, ardendo na febre da perplexidade, no espanto da trajetória que vai da insatisfação com o cotidiano à ânsia do metafísico. Imersa na pulsação da sua inquietude, exercita a sensibilidade com a consciência em vigília, em percepções clarividentes e, não obstante, perdida na vastidão do seu enlevo.
Estas evidências, que ressaltam na expressão vital dos seus poemas, retratam-lhe apaixonada e descrente, desiludida e arrebatada. O paradoxo da sua generosa dor de viver derrama-se nas confissões de uma busca obsessiva de compreender o mistério. A esperança, a fé, o asco, o desalento e a saudade são sentimentos de que se nutre a sua poesia. Poesia impetuosa e
objetiva, estigmatizada de angústia existencial."

Márcio Catunda, poeta e diplomata.

Por e-mail o poeta Ronaldo Werneck me diz:

Elaine, minha querida:

há tempos você me mandou cópia de seu livro "Leão Lírico". Só agora pude ver, enrolado que estava com vários outros trabalhos. Será um belo livro, a considerar os originais que v. me enviou. Gostei muito do desenho de capa. Sem falar dos poemas, lógico.
Destaco alguns fragmentos que marquei, e que considero "punti luminosi" de seu novo livro:

Dobrado sonho, com cuidado
ponho sob o travesseiro.
...
escovados dentes,
estourada imagem,
fechados olhos,
desdobro o sonho
de existir, suponho.

DOS MORTOS

Certos enterros são concertos:
o morto vai distante,
em forma intangível em nós se encerra.

No concreto que o coveiro
sobre a morte acerta,
vamo-nos um pouco
em nossas pétalas.

Verta inteiro, nunca metade,
este teu leite em flor,
que, muito antes de ter brotado,
em minha pele há muito arde.

São momentos onde a poesia salta dos poemas e se sobressai, soberana.
Parabéns. Me avise quando do lançamento.
Grande beijo,
Ronaldo

Ronaldo Werneck, poeta e jornalista






Bruno Candéas também leu:

UMA LEOA NA POESIA
"LEÃO LÍRICO", novo livro da poetisa carioca Elaine Pauvolid traz uma forte carga de espiritualidade; Elaine fala em intuição, desdobramentos e pede preces, pra ela e pro mundo, parece ter a certeza da rudeza do "leão" em nosso cotidiano, mas confia no forte elo e na presença infinita e bondosa que acalenta a alma.
Elaine quer ser arrebatada pela poesia, quer ser devorada por lobos que usem os lóbulos,
por isso mesmo não escancara seus desejos, tem na sutileza um aliado "lírico" e sereno.
Sem mistérios ou alardes constrói com singularidade seu universo de atuação, trata temas delicados com doçura e devoção, torna o gozo uma exaltação a existência.
Elaine quer nos abrir com uma espada, quer entrar no meio do nosso mundo, quer nomear a vida em tudo. O mundo já acabou, mas Elaine não morreu! Empunha a palavra com domínio e nos apresenta um trabalho com muita qualidade literária mas acima de tudo com um valor humano imensurável.

Bruno Candéas
Autor de "Férias do gueto", "Indigestual" e "Teatrauma" (inédito)

Sou autora dos poemas e do projeto gráfico do livro, inclusive a capa. Estou muito feliz com tudo isso, e queria muito dividir esta alegria com vocês! Não faltem! E me ajudem a divulgar!!!! A Silvana e a Mariza da Germina, já estão me ajudando.



Então está devidamente divulgado. O lançamento será na Livraria da Travessa, 2 de Junho - 20hs

quinta-feira, 22 de maio de 2008

EXERCÍCIO POÉTICO: SEM TÍTULO

hoje

sorriso esguio
um lençol de cabelos louros,
bicos de seios pontiagudos
substantivos de tessituras impenetráveis

amanhã

um subjuntivo imperfeito
reboco de paredes infiltradas em curvas arqueadas
na longitude de nossos diversos itinerários.

domingo, 18 de maio de 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO


Para nossa ciência, o parlamento português aprovou o acordo ortográfico que prevê a padronização de nosso idioma nos países lusófonos. O documento encontrava e ainda encontra grande resistência em Portugal porque centenas de palavras têm de passar a ser escritas com outra grafia. A proposta prevê, entre outras coisas, que a grafia das palavras seja mais próxima da pronúncia por meio da remoção de consoantes mudas, como no Brasil. Já o alfabeto aumenta de 23 para 26 letras, com a inclusão oficial do "k", do "w" e do "y". O acordo também determina novas regras para o uso de hifens e acentos.

A resistência portuguesa se escora em escritores e personalidades que consideram o acordo como uma espécie de "rendição desnecessária à influência brasileira". Uma petição foi enviada ao parlamento de Portugal para protestar contra a reforma ortográfica que busca unificar o português, segundo afirmaram os promotores da iniciativa. A língua é o idioma oficial em oito países. Um abaixo-assinado, com mais de 33 mil assinaturas, foi entregue ao presidente da Assembléia da República de Portugal, Jaime Gama, com "vários informes e documentos que demonstram as fragilidades técnicas, científicas e políticas do acordo (unificador)", declarou o primeiro signatário do manifesto, o deputado europeu e intelectual Vasco Graça Moura. Além dele, escritores do calibre de Antônio Lobo Antunes defendem a revisão do acordo. Já os articulistas das mudanças alegam que a padronização facilitará buscas na internet e uniformizará termos jurídicos para a elaboração de contratos internacionais. O governo português tem a esperança de que, com a padronização, o idioma finalmente se torne uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, a ONU tem seis idiomas oficiais: o árabe, o espanhol, o francês, o inglês, o mandarim e o russo.

O novo acordo ortográfico foi firmado em 1990, entre Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Deveria entrar em vigor três anos mais tarde. Mas, até o momento, só o Brasil, Cabo Verde e o arquipélago de São Tomé e Príncipe ratificaram a decisão.


* * *

Pesquisando na internet pude observar várias mensagens e matérias contrárias ao acordo, sobretudo por parte da comunidade lusitana. Quando se fala, se pensa e se escreve em uma língua utilizamos um código padrão para que todos os falantes daquele idioma compreendam a mensagem em questão, seja uma bula de medicamento ou um jornal. Mas, com relação à língua portuguesa há facetas inusitadas que não dizem respeito somente a consoante [c] presente, por exemplo, nas palavras acção e actual escritas no antigo idioma da península ibérica.

Uma das questões diz respeito à semântica, a polissemia das palavras. Neste ponto, realmente é difícil estipular um padrão comum de compreensão. Quando se trata de literatura, principalmente a brasileira e a portuguesa, o uso do idioma se distancia. Leia Guimarães Rosa ou Joaquim Paço D’arcos ou José Saramago. Na obra desses autores o universo semântico, as possibilidades polissêmicas são inúmeras, criam outros prazeres à absorção do sentido do texto. Entretanto, o Guimarães Rosa é brasileiro e eu também o sou e mesmo assim a dificuldade para compreensão é enorme. Será então que escrevemos em idiomas diferentes? Acho que o nodal é a particularidade da escrita, que através do acordo poderá criar algumas planificações que não implicam semanálises, apenas mudanças do caráter ortográfico.

Nós brasileiros sempre nos referimos ao nosso idioma como Língua Portuguesa. Aprendemos assim na escola. No ensino fundamental, médio e universitário, a língua estudada, aprendida e apreendida não se chama língua brasileira ou o “português brasileiro”. Aspecto este difícil para muitos lusitanos que teimam em imputar e nomear nossa língua como genuinamente brasileira, o que certamente os diferencia e lhes dá caráter único.

Com o acordo ortográfico, este e outros mitos caem totalmente, ainda mais se levarmos a conta de que a adequação teve por base os hábitos da terrinha de cá, o que arrefece os idílios e as vaidades intelectuais portuguesas, pois lá, além de uma crença de propriedade intelectual da língua de Camões, existe uma concepção de que o falar e o escrever na Ibéria são a forma mais correta e apropriada da Língua Portuguesa. De certa forma, esta é a postura apresentada na petição contra a ratificação do acordo.

Bem, ainda pretendo retomar este tema em próximas postagens.


quinta-feira, 15 de maio de 2008

REVISTA SÍTIO E ADMIRÁVEL DIAMANTE BRUTO E OUTROS CONTOS

Finalmente para alegria do leitor lusófono sai a Revista Sítio número 4, depois de um ano de pausa dedicada a outros afazeres, como por exemplo, o encontro de escritores de Torres Vedras.
O ano de 2008 promete compensar os vários meses de espera. A revista foi lançada na Livraria Livrododia, em Torres Vedras, Portugal. A frente deste projeto está o escritor Luis Felipe Cristóvão, que também já participou de projetos literários pelas bandas tupiniquins, aliás escrevemos juntos para a Bagatelas. Esta edição conta com Luíz Ruffato, Ozias Filho, Natércia Pontes (Brasil), Eduardo Estevez e António Alías (Espanha), Luís Naves, Maria Sousa, Miguel Real, Sérgio Luís de Carvalho, Paulo Kellerman, Carla Cook, Fernando Esteves Pinto, Lourenço Bray, Rui Matoso, André Simões, Luís Ene, José Magalhães e Nuno Travasso (Portugal). As imagens são de António Bártolo, Manuel Guerra Pereira e Vanessa Fernandes (Portugal).




Outro lançamento do lado de lá do oceano é Admirável Diamante Bruto e Outros Contos, de Waldir Araújo. A edição também corre por conta da livrododia. O livro é um conjunto de treze contos nos quais diversos personagens vivem no meio de acontecimentos, uns fantásticos, outros tão reais, sempre num ambiente onde sobressai a Guiné, através do olhar de um narrador, cuja existência carrega também o desencanto de uma certa urbanidade. O amigo Waldir, que também já publicou na Bagatelas, é de Guiné-Bissau e mora em Lisboa. Jornalista, desde 2001 exerce a profissão na RDP África. Publica regularmente prosas e poemas em sites culturais portugueses e brasileiros. Em 2004 ganhou a Bolsa de Criação Literária pelo Centro Nacional da Cultura, de Portugal, o que lhe proporcionou uma investigação de vários meses junto da comunidade dos “Rabelados”, na Ilha de Santiago, Cabo Verde. Também vamos aguardar a chegada do livro por aqui.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

RIO MOVEDIÇO

Para você leitor: terceiro poema parte III



O rio não dorme, não acorda,
é uno, condensa.
Não percebe a morte:
a recebe sedento,
plasmando em seu leito
o lodo pastoso
que acalma a náusea.

O rio não sonha,
jorra do ermo profundo de rochas
arranhando com enxames de unhas ovaladas.

O vagueio ondular do Rio,
soluço seminal, sustenta
rangeres de dentes tenebrosos,
tremores, fungos, cidadelas,
ossos e mercúrio de febres

Floridas as enseadas, é por ali:
é por estas ondas
que nós sobrevivemos.
O rio não vive, o rio eterna.

domingo, 11 de maio de 2008

O LONGO ABRAÇO

Houve um abraço. A ligadura do corpo é o entorno da nuca, dos cabelos que esvoaçam, enquanto fico deitado na cama imaginando uma coceira que não será amparada por unhas rosas.

Parece que teu corpo passeia por aqui, ainda. Parece que está preso à redoma de vidro cultivada no hábito de levantar às seis horas da manhã e nos banhos de bacia d’água quente e nos folhetos religiosos espalhados pelo chão, agora, cheio de baratas mortas.

O telefone chama. Perguntam por você. Foi para os mares úmidos de Marte, digo. O telefona chama de novo (ultimamente, a tia telefona aos domingos e pergunta se estou bem). Sim, estou, mas nosso vizinho aqui do lado abriu os pulsos, não agüentou a bipolaridade. Ela manda um abraço.

A coceira, agora, é na barba. Há gravidade e há, também, o café da manhã de pães duros, solitários.

Ouço Elis e Tom: “Não, não pode mais meu coração/ viver assim dilacerado, escravizado a uma ilusão/ que é só uma desilusão... Vai triste canção/ sai do meu peito/ e semeia emoção/ que chora dentro do meu coração”.

Na cozinha, a caixinha de remédios, entreaberta, aguarda somente o passeio de minhas unhas por lá.

Passam-se dias e o abraço está aqui, observando o Sumaré coberto de nuvens. Destoam-se as torres, nas quais um salto acrobático seria nossa ligadura. As folhas das árvores estão imóveis. Apenas o latido esganado do cachorro do vizinho ecoando no corredor cilíndrico da casa.

Alguém tem que fazer alguma coisa com esse maldito cachorro.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

TIJUCA EM CRÔNICAS - LANÇAMENTO



Este é um post dedicado ao livro Tijuca em Crônicas. O lançamento foi dia 16/04, no Sobrado Cultural e contou com a presença dos autores e seus convidados, e dois participantes especiais, a Lili Rose, historiadora especializada em memória de bairros, e Ana Maria D'Angelo, a bibliotecária responsável pela charmosa biblioteca do Sesc- Tijuca. Fizemos uma breve roda para parabenizar os autores. Falamos da importância de publicarmos nossas obras. A edição do livro foi pequena, apenas de 50 exemplares, mas livro bom não se mede por quantidade de tiragem e sim por qualidade textual. Brevemente, vou resenhar e analisar neste blog.

Nesta foto Ana e Maria D'Angelo e Lili Rose no primeiro plano e Marjorie Botelho, do Sobrado Cultural conversando com alguém.


Rachel Souza cronicando...

Rachel, eu e Gustavo do Carmo.


Acho bacana este "gif " do Sobrado Cultural.

terça-feira, 6 de maio de 2008

PIANOS INVISÍVEIS - ADRIANA MONTEIRO DE BARROS

O Pessoal da poesia carioca está em plena atividade. Segue o release e o convite para o lançamento do livro de Adriana Monteiro de Barros.


...Ah! Essa poeta jazz, e por trás dessa música divina, bate na bateria tocada com escovinha um coração feminino palpitante. Atenção: esse livro é uma mulher dançando uma música inebriante.Tavinho Paes

IBIS LIBRIS e BAR E RESTAURANTE DA GRAÇA convidam para o lançamento do livro de poemas PIANOS INVISÍVEIS de Adriana Monteiro de Barros.
Prefácio de Alberto Pucheu
Apresentação de Bruno Cattoni, Tavinho Paes e Cairo Trindade

Quarta-feira, 7/05/2008 a partir das 20h .

Bar da Graça - Rua Pacheco Leão, 780 Jardim Botânico - Rio de Janeiro -
RJ Tel.: (21) 2249-5484
Contato com a imprensa:
Claudia Abreu Campos Tel.: (21) 9325-7040

sábado, 3 de maio de 2008

A MORTE DA PORTA ESTANDARTE E OUTRAS HISTÓRIAS - ANÍBAL MACHADO


A Morte da Porta Estandarte e Outras Histórias, foi publicado inicialmente em 1965, embora os contos constantes do livro já tivessem sido publicados anteriormente em outros livros do autor. Célebre e muito citado por conter Viagem aos Seios de Duília, considerado por muitos críticos um dos mais belos contos da literatura brasileira e que tem por tema o paradigma de como envelhecer. O livro também tem outros contos que poderiam facilmente figurar em diversas antologias dos best of the best do gênero, dessas organizadas pelo Flávio Moreira da Costa, tanto brasileiras quanto mundiais, tais como o Iniciado do Vento e o Defunto Inaugural.

Aníbal foi um escritor de períodos turbulentos: do entre-guerras, do período getulista e da modernização industrial. Dialogou com muitos grupos da geração modernista. Eleito presidente da Associação Brasileira dos Escritores, militou ativamente nos círculos políticos de sua época, tendo organizado em conjunto com Sérgio Milliet o 1º congresso dos escritores brasileiros. Além disso, dedicou-se a diversas atividades na área cultural, principalmente ao teatro. Ajudou a fundar o grupo TABLADO, que foi dirigido por muitos anos por Maria Clara Machado. Aníbal faleceu em 1964.

O conjunto dos contos apresentado na obra redesenha o universo fantástico, mágico, e também a realidade, descortinando personagens extremamente simples, quase anônimos cidadãos de nosso cotidiano, como os da história de partida do livro: O Iniciado do Vento, cujas personagens são identificadas apenas pelas profissões (o engenheiro José Roberto, a hoteleira, o juiz), com exceção de o Zeca da Curva, o menino-vento.

Em o Iniciado do vento, a história se passa em uma pequena cidade do interior que tem como principal característica o vento, é um ventinho que muitas vezes vem de supetão, mas se impõe com uma força terrível. Os três parágrafos iniciais do conto são magistrais, pois além de condensar informações e imagens, o anúncio de que algo vai acontecer é muito bem orquestrado por Aníbal, quando a manchete de jornal estará anunciando na cidade o que ocorreu no passado recente:

“Quem poderá dizer que amanhã mesmo aquele passageiro não esteja na manchete principal dos jornais como herói dos acontecimentos que o levam agora à cidadezinha de... no alto da serra.

A locomotiva ofegava entre as margens da bananeira.

O passageiro abandonou o jornal, deixou cair as folhas. Lera os crimes de outros, passaria em breve a ler o seu... crime [...]”.


As indicativas recorrentes do vento já se fazem presentes logo na abertura, se fizermos uma leitura atenta. As informações chegam na cidade através das notícias dos jornais e a idéia da locomotiva respirar nas margens da bananeira nos remete às ações do vento, impregnando-nos de sensações de velocidade. Interessante é perceber que contrapondo a esses elementos temos a sensação do desabar e da ausência no início do terceiro parágrafo, pois o engenheiro, ainda apenas passageiro, depara-se perplexo com a possibilidade de ler o seu crime. Ausência de vento.

Seguindo o enredo, o engenheiro José Roberto retorna à cidade para ser julgado sobre o desaparecimento de Zeca da Curva, um menino que vive de biscates e que é apaixonado pelo vento, paixão esta compartilhada e vivida pelo mesmo. Com Zeca, o engenheiro adentrou-se nos meandros da arte de curtir e sentir o vento, já que o menino era capaz de pressentir a vinda do vento e classificá-lo (brisa, ventinho, ventania, tufão). O que se delineia nas entrelinhas do conto é a amizade entre gerações e a percepção da vida. Metaforicamente, o menino é insuflado pela vida vivendo-a em seus instantes presentes. Durante os processos, o engenheiro refaz o percurso que o levou a viver o frisson de sentir a liberdade propiciada pelo o vento. Neste momento, Aníbal faz-nos conhecer sua maestria narrativa: o narrador assume a voz da personagem e nos conduz sensorialmente a passear pelo vento:

“Suas narinas farejavam os longes. Alguns instantes depois, ele tinha a cabeleira em desalinho, e o meu chapéu fora atirado à distância. Não era ainda o vento forte que eu esperava. Parecia a vanguarda de outro, maior, que vinha avançando atrás. E à medida que aumentava de velocidade, ai mostrando uma qualidade diferente daqueles que correm em outros lugares. Parecia ser da minha infância, trazendo o que havia de melhor e de mais antigo no espaço”.


Se avaliarmos a estrutura do conto e a compararmos com aquelas matérias principescas, ensinadas nas primeiras aulas de teoria da comunicação das graduações do curso de Letras e de Comunicação, veremos a linha clássica de fomento do conto: situações de equilíbrio, de desequilíbrio, clímax e um novo equilíbrio.

No conto, a elucidação é um dos momentos cruciais para o sucesso da história. Neste caso específico, o autor a resolve trazendo para um primeiro plano a personagem do juiz e mais uma vez o vento. Após o final da prestação de depoimentos, o vento invade a cidade, as bancas de jornal, a praça próxima ao foro, o próprio foro. Levanta os papéis do promotor. Penetra por entre a toga do magistrado. Naquele instante, o vento toma novo sentido para a cidade. O juiz devaneia. Mudam-se as relações. Ninguém vê mais o juiz:

“A última vez que fora visto, vagava pela colina de onde Zeca da Curva partira para sempre. Notaram que sobraçava o calhamaço de um processo. E que falava sozinho.

Qual fosse esse processo ninguém sabia. Sabia-se apenas que o vento soprava no calhamaço com força desconhecida e, uma a uma, arrancava-lhe todas as folhas...”.

E pelo visto nenhuma razão resiste ao poder das ventanias.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

JOSÉ MATIAS - EÇA DE QUEIROZ














José Matias, conto de Eça de Queiroz. Inicialmente publicado na Revista Moderna, em 1897, o texto foi o último a ser publicado quando o autor ainda era vivo e traz algumas das características de sua prosa: a naturalidade, a fluência, a precisão e a oralidade nada declamatória.





O conto José Matias, de Eça de Queiroz, lançado aqui no Brasil pela editora Sette Letras é uma boa dica de leitura. O livro faz parte da coleção de bolso da editora e acompanha a necessidade do mercado de produzir livros com preços acessíveis para o público, algo que algumas editoras têm percebido, já que Companhia das Letras, uma das maiores editoras do Brasil, lançou a Companhia de Bolso e a Nova Fronteira, a coleção 40 anos, sem contarmos a pioneira na área das edições menos custosas, a L&PM.

O Professor e especialista em Literatura Portuguesa, Sérgio Nazar David, foi o responsável pela fixação do texto e posfácio da presente edição. Inicialmente publicado na Revista Moderna, em 1897, o texto foi o último a ser publicado quando o autor ainda era vivo e traz algumas das características de sua prosa: a naturalidade, a fluência, a precisão e a oralidade nada declamatória.

A narrativa se apresenta na primeira pessoa com o narrador (um amigo de José Matias) conversando com outra pessoa durante a ida ao enterro de José Matias:

“Linda tarde, meu amigo!... Estou esperando o enterro do José Matias – do José Matias de Albuquerque, sobrinho do Visconde de Gamilde...”

Assim, contando a história em Flash-back, Eça reconstitui logo no início a vida de José Matias, “um rapaz airoso” e “duma elegância sóbria e fina”, estudioso dos círculos literários lisboetas, culto e sofisticado, mas que segundo o narrador em seu último encontro com ele, estava em estado lastimável e declara:

“...porque a derradeira vez que o encontrei, numa tarde agreste de Janeiro, metido num portal da Rua de S. Bento, tiritava dentro duma quinzena cor de mel, roída nos cotovelos, e cheirava abominavelmente a aguardente.”

Daí, nós leitores temos, pela clareza narrativa de Eça, os elementos necessários para aguçar a curiosidade, pois, afinal, o que levou José Matias, este rapaz dos bons convívios portugueses, a arrastar-se por uma vida boêmia e errante?

O desenrolar do conto dá-se na apresentação e na descrição de Elisa (a bela musa dos últimos românticos), que é, segundo o narrador, o motivo da derrocada na vida de José Matias. Casada com o conselheiro Matos Miranda e vizinha do Visconde de Gamilde, Elisa é a típica mulher da pequena burguesia portuguesa e encarna a beleza romântica:

“... o pobre José Matias, ao regressar da praia de Ericeira em outubro, no outono, avistou Elisa Miranda, uma noite, no terraço, à luz da Lua! (...) Alta, esbelta, ondulosa, digna da comparação bíblica da palmeira ao vento. Cabelos negros, lustrosos e ricos, em bandós ondeados. Uma carnação de camélia muito fresca. Olhos negros, líqüidos, quebrados, tristes, de longas pestanas...”

Neste fragmento visualizamos a concisão de informações fornecidas pelo narrador, mantendo o ritmo da prosa e fornecendo o essencial para prender a atenção de seu interlocutor. Esta era uma das maestrias queirozianas.

Daí em diante temos o discorrer da vida de ambos. Elisa enviúva de Matos de Miranda e, após aguardar José Matias durante bom tempo, casa-se com Torres Nogueira. Torna-se viúva novamente e, ainda assim, José Matias a contempla como uma musa abstrata, como uma espécie de amor platônico, deixando-a em pânico.

Vale ressaltar no conto, o interessante recurso narrativo utilizado por Eça, pois não permite a voz à personagem que acompanha o narrador, logo, o jogo de diálogos é presumido e somente conhecemos as falas da personagem a partir do próprio narrador. Assim, acompanhando as pausas reflexivas o leitor assume uma das vozes narrativas, já que as mudanças de assunto ditam o ritmo e o andamento. Dessa forma, o autor descreve a cena do enterro de José Matias:

“O Sujeito de óculos de ouro, dentro do coupé?... Não conheço, amigo. Talvez um parente rico, desses que aparecem nos enterros, com o parentesco correctamente coberto de fumo, quando o defunto já não importuna, nem compromete.”



Por fim, o professor Sérgio Nazar David, no posfácio do livro, faz um comentário sobre o encerramento do século XIX tanto no Brasil quanto em Portugal, estabelecendo um paralelo entre as literaturas de Machado de Assis e de Eça de Queiroz no que concerne à perplexidade do homem diante das personagens femininas. Segundo Nazar, “Bentinho decide sair deste impasse acusando Capitu”. Já quanto à José Matias o caminho é contrário: “uma adoração de monge que nem ousa roçar com os dedos trêmulos e embrulhados no rosário a túnica da Virgem sublimada”. Estas duas personagens são testemunhas de um século que se encerrou e que, de certa forma, antepõem-se à visão da realização de um encontro amoroso mágico, capaz de fundir duas almas em uma só. São, ainda segundo Sérgio Nazar, dois personagens que se vitimaram na renúncia ao desejo.






* Resenha que publiquei no especial Lusofonia da Carta Maior.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

OFICINA CENTRO EM CRÔNICAS - SESC



Caros amigos (as),

Vou ministrar a oficina literária CENTRO EM CRÔNICAS no SESC - CENTRO. Lá, vamos analisar em 5 encontros alguns autores que ilustraram bem o centro da cidade, tais como, João do Rio, Lima Barreto e Machado de Assis, também escreveremos nossas histórias e crônicas.

Acima está o convite, as inscrições já estão encerrando, portanto não percam tempo. O início será em 6 de Maio. Aguardo vocês por lá.

Serviço:

CENTRO EM CRÔNICAS

Sesc- Santa Luzia, 685 - 2° andar. Centro

tels: 2279-8376 / 2279-4040

RONALDO, AFINAL QUANTO CUSTOU?



fonte: bozamr


Não podia deixar de perguntar... Afinal quanto custou a bagatela da noite?

O trágico é perceber que entre as diversas matérias que correm nos jornais sobre os casos da pequena Isabela e do pecaminoso austríaco, você Ronaldo, você é estapafúrdio.