segunda-feira, 28 de abril de 2008

EXERCÍCIO POÉTICO: CHAPÉUS




Como eu poderia ser um chapéu, vários chapéus?
Como um desses, egresso de um sonho de Aníbal,
Imerso no casco de um jabuti a fugir dos machados.

Como eu sairia chapiscando pelas ruas pés na chuva?
A cabeça e o cérebro escondidos do verso,
trabalhando os juros do cartão de crédito
a cabeça e o cérebro em vários chapéus.

Como, por onde e quando vou poder entender
os furos que faço nas abas, sempre dois.
A cara vermelha de sangue,
a cuca vazia de idéias, submersa

em molho de cabelos e casco duro.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

ANTENANDO O TEMPO



Há cerca de dois anos eu estava em um momento rico quanto à produção literária. Inserido nos círculos e nas rodas poéticas, atualizava constantemente o blog prosa-poema, contribuía para a revista e para o site bagatelas, buscava a articulação dos escritores do universo lusofônico e ministrava oficinas de leituras para jovens e adolescentes no sobrado cultural. Sim, foi um período de muita produção, de burilamento e paixões, mas me faltava algo. Sempre gostei de ler. Estava distante do meu objeto de trabalho, embora, mesmo João Cabral já advertira: “se eu me preocupa-se em ler todo o livro que por ventura tombasse em minhas mãos, não conseguiria produzir a minha obra”. Não sei se foi com essas palavras exatas (para isso utilizo minha criatividade e invencionice), entretanto, de fato, não estava lendo nada e qual é o prazer que melhor me advém: Ler ou escrever?

Chegou o ano de 2007 e com ele empederni a escrita e amoleci a leitura. Também, alguns afazeres me distenderam um pouco do teclado. A necessidade de provir com afinco meu sustento, por conseguinte, o cansaço da labuta diária, a falta de tempo associada ao excesso de informação (mal supremo de nossos tempos).

Afastado da cria própria, pude, no entanto, me dedicar a leituras e a oficinas literárias, tais como a Tijuca em Crônicas, oficina em homenagem aos 30 anos do SESC TIJUCA, que foi organizada pelo sesc e pelo sobrado cultural e na qual fundimos a criação literária à visitação da memória do bairro, através dos participantes. Os escritores que freqüentaram a oficina, alguns tarimbados outros estreantes, estão hoje em plena atividade na militância literária, montando seus blogs, organizando saraus, produzindo literatura. São eles, Adelaide Amorim, Ana Maria Pereira, Anesy Albuquerque, Carlos Gustavo Trindade, Circe de Abreu Barbosa, Elmo Thompson, Gustavo do Carmo, Lu Maranhão, Luci Silveira, Rachel Souza, Rosa Correia e Tânia Varella. Também retomei o fio das leituras, ler diariamente é ótimo. Ainda tenho muitos livros na estante que devem ser lidos, vistos, sonhados. Mas, no fundo, acho que a pausa na escrita foi excelente para revigorar e afinar meu estilo de escrever, expurgar alguns preconceitos literários, rearfirmar e melhor organizar idéias, sensações e inspirações. Há que se ter o tempo de gaveta, tempo de mofo, pois ali também se cria vida.

Ali, no escondido de uma pasta do HD está o rio movediço, dialogando palavra com palavra, ora embate ora conclave. É o aglomerado de poemas que produzi de 2005 a 2007. Durante muito tempo passei o mouse a largo, sem tocar-lhe nas entranhas poéticas, o deixei hibernar. Agora, impera a necessidade de escrever e de conviver com meus textos.

Rio movediço será meu arquivo de informações. Postarei textos aleatórios, crônicas, pensamentos, contos, poemas, notícias, teatro e cinema, política. Textos de outros autores serão bem recebidos, obviamente que priorizo meu olhar estético e o diálogo que estabeleço com meus pares e ímpares.