sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A tela colorida

O que acontece quando olho aqui esta tela e tudo é uma escala cinza, pálida. E por que aquela outra tela que ele opera ali do lado se insurge coloridamente diante de meus olhos? Chega até a criar, assim a meu contra-gosto, um fantasma multicolor na íris e depois, quando tento jogar o olhar pelo vazio, pelos quatro vãos do prédio, só consigo arrastar uma vista manchada, demasiado manchada. Será que era assim que o rapaz do prédio em frente enxergava a vida: um ponto sem nexo. É, aquele rapaz... o jovem dentista que contou até três e desceu sete andares abaixo e que deixou como lembrança um barulho seco e estalado de ossos quebrados.

domingo, 11 de outubro de 2009

Poema de pausa

São quatro horas,
quatro dias
e quatro vezes
que me sento
para espantar
o devaneio
deste poema
e o cérebro,
essa metralhadora
contínua não rói
o osso por inteiro.

sábado, 10 de outubro de 2009

ROTEIRO DE POESIA 2000

Acaba de ser publicado pela editora Global mais um volume da coleção Roteiro da Poesia Brasileira. Os poetas apresentados neste número pertencem à geração 2000 e, portanto, trata-se de uma obra em aberto, visto que seus autores ainda estão com obras em progresso, com vozes ainda germinais, em estado larval. A seleção dos poemas coube ao também poeta, professor e crítico Marco Lucchesi.
O cardápio é geograficamente bem variado, abrange do norte ao sul e no quesito tempo cronológico, a seleção seccionou a fração de 2000 à 2006, então, daí denota-se a ausência de diversos jovens autores de vulto considerável que surgiram nos últimos anos e que certamente estariam inclusos em qualquer outra antologia. Entretanto, nesta antologia, o que a suporta é o aspecto do variável e do biodiverso, visto que lida com vozes que se apresentam como caixas de ressonância das diversas tendências, mídias e influências que coexistem na fauna do fazer poético.
Quatro poemas meus foram publicados na antologia. São poemas extraídos do livro Poemas Suíços. Mas além disso, o que mais me alegrou foi ver o material do grande poeta Leonardo Martinelli, meu amigo e camarada que partiu para outra. Fiquei feliz de ver que seus textos permanecem. Que tem lastro.
Para vocês, deixo um poema de Leonardo Martinelli que está no roteiro:
Às Armas
O tapa dói sem luva
na cara: a agulha hesita
-estala - do gatilho
a trava já dispara:
O poema (percurso
da bala) mira a mosca,
resvala - nem atina
honrar qualquer palavra.