terça-feira, 18 de agosto de 2009

elementos

Terra é chão,
o chão de terra
é poeira, lama,
forjando rasteiro
desejo de ser.

Fogo e água,
no ar, na terra,
devaneando
insanos naufrágios
do crescer.

Terra e fogo
no ar, nos pulmões,
é grito afogado
labaredando
a areia de viver.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ouvindo Vozes - Edmar Oliveira

Trabalhei muitos anos na livraria da Travessa. Tempo maravilhoso. Finalmente, agora, estou no mercado editorial, na Vieira & Lent. Esta mudança ocorreu em um momento oportuno, decorrente de um amadurecimento. Cheguei aos 37 anos, muitos barcos já navegaram no meu rio. Já teve tempestade e bonança. Ir para lá foi uma escolha, um movimento para conhecer cada vez mais o meu objeto de trabalho, o livro, o papiro que ondula a superfície do rio movediço. E, ainda bem, já cheguei com muito trabalho. Temos quatro lançamentos no mês de agosto, mais dois agendados para setembro.

A Vieira & Lent tem um catálogo enxuto com o fino da bossa pinçado nas áreas afins da ciência, tais como: neurociência, darwinismo, astronomia; Coleções como a Ciência de Bolso com textos acessíveis para o leitor comum sobre diversos temas que vão desde a nanotecnologia ao porquê do sono na sala de aula. Além disso, livros infantis como a coleção do Neurônio Lembrador, de Roberto Lent, na qual as personagens dos 5 livrinhos da série são neurônios que habitam o cérebro do menino Ptix e reagem de maneira diferentes em cada acontecimento na vida do garoto. Com isso, as crianças aprendem como o cérebro funciona, como os neurônios funcionam e como isso influi na vida cotidiana.

Um dos lançamentos que estamos trabalhando é particularmente especial, o Ouvindo Vozes, de Edmar Oliveira. Inclusive, é o que motivou esse texto. Não parti direto ao assunto porque, afinal de contas, gosto de preâmbulos. O livro é uma viagem ao mundo manicomial, em especial ao Instituto Nise da Silveira. O autor, assim como este blogueiro aqui, também gosta um pouquinho dos tais preâmbulos. Para tanto, Refaz o percurso do tratamento manicomial no Rio de Janeiro para, por fim, relatar o processo de desativação das internações psiquiátricas no Nise (o antigo Pedro II no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro) e, conseqüentemente, a implementação dos projetos de moradia assistida aos pacientes e usuários do Nise.
Através de uma linguagem coloquial, pautada na ficcionalidade, tomamos contato com o universo real e irreal existente no cotidiano dos pacientes; visualisamos os processos burocráticos que por vezes atravancam a engrenagem rotineira de funcionamento de uma instituiçao hospitalar; percebemos os preconceitos enraizados em uma sociedade pouco preparada para lidar com a diversidade do pensar e do ouvir. Mergulhar na leitura de ouvindo vozes nos ajuda a compreender e a apreender um universo temido e socialmente ignorado, já que a primazia da exclusão social se faz presente, é uma realidade. Mas, indo além, a proposta do livro, se assim posso dizer, é apresentar ao público comum uma abordagem de tratamento viável de convívio, de interação e integração, melhor para o paciente psiquiátrico e mais saudável para a sociedade.

Ler o livro de Edmar é uma grande viagem e para tal viagem ser melhor e mais gostosa, a edição inclui as Anotações para um cemitério dos vivos, de Lima Barreto. Este texto são as anotações que ele produzia para seu próximo romance que não foi concretizado devido ao seu falecimento. Foram escritas durante sua estadia no Hospício nacional de alienados, na Urca.
Por fim, vale dizer que o livro vai ser lançado no próximo dia 19/08, na livraria da travessa de Ipanema.

sábado, 8 de agosto de 2009

Nascedouro

Nasce na chuva,
na curva, no esterno,
é um regato, uma fonte,
uma goteira que nasce
quando engasga,
cinge a glote e cerra os dentes
sem vida e sem beira
─ mesa de bilhar sem caçapa.

Nasce e finda visgo,
é um desvio que pegamos,
eu e você, sem vermos o fígado,
o rim, o pulmão, as cáries,
sem vermos nada,
cheiros ou sobremesas.

Mas assim nasce, e depois,
depois desanda e desanca
em outro lago que nasce,
nasce e empurra,
afunda e desembrulha
como um doce vômito
emergido de uma bolha
dupla de sentido
e de sentir para aquém
e para além do rio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

os espelhos

p/ Flavia

Dois espelhos colados.
Frente e verso. Reversos.
no meio dos dois a cola,
a linha espremida
e sufocada. Ali, nós,
como lençol
grudento de suor,
somos pasta de vidro.

Ali no meio somos amor,
somos no nome
- a essência é o nome.

Se a cola é úmida ou seca,
Se o amor é na cama ou na louça,
somos o diário, o cotidiano
de dois espelhos que roçam,
gripam e espaldam
quando o sol desponta,
quando a rusga aponta.

Esse é o encontro
daquilo que nem
sabemos o quanto
e o como,
o quando e o que se é:
o nome, a força, a constância,
então refletimos, sim
refletimos, apenas isso,
refletimos cada um
seu modo de iluminar
o rosto do outro.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Blog de ouro


Ganhei esse simpático e mui honroso selo da blogueira Tatiana Carlotti. Valeu, muito legal mesmo. Então, a idéia é receber e passar adiante para mais cinco blogueiros. Esta semana está sendo bacana para mim, muito bacana mesmo, pois realizei uma mudança de vulto na minha vida. Além disso, recebi algumas homenagens do universo online: Moacy Cirne publicou um poema meu em seu balaio, Elaine Pauvolid, editora da revista eletrônica Aliás, publicou quatro poemas de minha lavra na edição deste mês, Adriano Nunes me dedicou um soneto maravilhoso e Jandira Rodrigues também escreveu um post-carta para mim. Bom né! São essas singelas relações que nos fazem seguir adiante e perceber o quanto é bom viver, viver com tranquilidade. Não se trata de ego e de vaidade. Trata sim, de reconhecimento, de valor, de amizade. Valeu mesmo.

Aí vão minhas indicações de Blogs de ouro, antes vale ressalvar que quando recebi a homenagem, pensei em repassar para mais de cinco pessoas, entre elas o Henrique Pimenta e o Moacy. Fui lá e percebi que eles já haviam ganho o selo simbólico de qualidade.

1 - Tremaliteratura (comecei a acompanhar este blog coletivo, o grupo escreve a bossa da crônica)

2 - O que faço com o que não faço (blog do Adriano Nunes, o autor publica ótimos sonetos).

3 - Diagnóstico desconhecido (blog do Solano, neste blog você lerá posts geralmente curtos, muito rico em alma).

4 - Para eu parar de me doer (blog de alto nível literário. Percebe-se o trabalho de linguagem, o burilamento. Roberta Mendes e Elis fazem do blog um sortimento de literatura, crítica de cinema e, repito, alto nível de escrita).

5 - Miscelâneas e tonterias da Jandira (o blog é meu porto seguro. Geralmente, agora menos, é a pessoa que lê meus textos antes de mim mesmo).

Bem aí estão minhas indicaçõe. Como disse, muitos outros blogueiros poderiam estar aí, fica para a próxima. Peço desculpas aos blogueiros (as) que, pelo instante não entraram na lista. Não fui eu que propus a regra, mas se tá aí vou seguir. É... Hoje estou assim. Vou seguindo... Sigo o cortejo e não pergunto pelo nome do defunto no caixão.