segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Precipício

No assoalho do chão encerado o corpo se arrasta deixando um rastro líquido. Escorregou até a ínfima inoperância de não saber o que estava acontecendo, aliás, nada acontecia, apenas o giro esquisito que o consumava numa hora também esquisita de um dia que já havia nascido esquivo. Nomes e vultos possivelmente arredondam a dor que rebate no canto da nuca. Desmemórias de um corpo centenário, repleto de bactérias. Cada vez mais o gosto do sangue coagulado e da carne flácida, pegajosa. E o corpo está quase morto, quase plano e rasteiro, quase uma turva mancha seivada de líquidos e cheiros. O assoalho rangendo a busca de crostas. Decalques nos calcanhares e chupadas de chuva de granizos arranham essa voz abafada no castanho metileno dos meus olhos. Olhos águia. Olhos nevoeiro. Um diante do outro. O mesmo sombreado carcomido de nossa insólita esperança de renascermos, ele antes de mim, exala já a aura mórbida e toca com a ponta dos dedos a borda do novo, enquanto ainda me sufoco em beiras de precipícios.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Marcelino, marceneiro e seu RASIF


O livro RASIF, de Marcelino Freire, me assombra — é muito violento no meu cérebro — as histórias ali narradas, dialogadas, vividas, são de um conteúdo violentíssimo tanto nos enunciados, nos começos, como nas possibilidades de escapadas, de resoluções que caminham para um amor mágico, enorme. Me assombra também, porque ao sair do lançamento lá na livraria do Odeon, aproveitei a viagem de metrô para adentrar na leitura. Estava cansado, com os olhos pregando nas pestanas, mas o livro me acordou e me estatelei somando cada quebrada e cada barulho de trilho rangendo ao ritmo cadenciado da escrita de Marcelino. No dia seguinte, retornei ao centro, novamente viajando no metrô lotado, num roça-roça irrespirável, apenas com o espaço das costas alheias, o suficiente para ser rebentado por RASIF mais uma vez — ainda assombra porque é minha sombra, pesadelos e angústias que estufam meus alvéolos pulmonares em dias atuais de constantes incertezas mal digeridas.

Há como sintetizar as sensações que provei no texto de abertura Da Paz: senti uma diástole expandindo um crescente de sofrimento, de escansões silábicas (algo que permeia toda sua literatura rica em aliterações, sonoridades e ritmo) de conjecturas a cerca do real, das necessidades mais básicas de uma personagem que sofre na carne perdas e tem a pujança, a sapiência de, na sua simplicidade — aliás, outra antítese e completude, característica de Marcelino —, acatar o único movimento seu possível e cistólito: a paz, a letárgica paz, a paz que se fode em alguns de nós.

É nas poeiras, na pedra e na poeira mínima que Marcelino modela uma literatura muito generosa para o leitor — ou seria melhor o escutador, porque, ai! esses contos são para serem lidos e sim! escutados de uma voz líquida e ríspidas nos [é’s], nos balanços da fala. Tenho de retomar o fio, o caminho da poeira marcelinesca, desse marceneiro de simplicidades, de simples cidades, de personagens econômicas que através de uma única voz monologada — por vezes duas — que me fez ser cúmplice, que me fez pegar no paralelepípedo e na corda, na boca da lavadeira, ou dar um grito diante de um sinal. Eu não precisei de parágrafos de abertura, de Mansfield ou de O’Connor ou de Pound ou de o escambau, nem da minha hipocondria, mania minha de morrer doente todos os dias. Estava ali tudo bem dito, bem teatralmente resolvido e conciso, as psicologias, as nuances. Sim, posso me lembrar de alguém ao ler diametralmente Marcelino-marceneiro, lembro e vejo um Blanc, um Aldir, outro cara bem capaz de miscigenar as almas das personagens, expondo-as na lisura de um dedo de espuma do copo de cerveja.

Há um conto que é um delírio, caramba, um delírio mesmo. É Roupa Suja. Me pareceu que todas as personagens dos contos aparecem ali. Todas em busca de um prêmio, de um sonho, de uma batalha que dê algum resultado, que atinja o objetivo. Pois, na verdade estamos todos por/atrás do sabão que a lavadeira conduz na limpeza desse mundo cão. Caramba, e ela consegue, se dá bem. Maravilha. Mas, eu aqui não vou alongar, não vou descrever ou resenhar, vou deixar por conta de quem quiser descobrir e brilhar. A única coisa que vou então acrescentar é que vale muito mesmo.

Bem, no mais o livro está muito bonito (como todos do marceneiro) bom acabamento, superbamente ilustrado por Manu Maltez que de preto preencheu com gravuras os contos — aliás, por si só as gravuras merecem um post.

Bem, no mais again, parabéns para o marceneiro Marcelino por mais um livro. Parabéns para nós que podemos lê-lo.




Algumas fotos do lançamento, gentilmente cedidas por Vó Jacy:


Marcelino



A "festa" rolando.



Da esquerda para a direita: Moutinho, Vitória, Ponce e sua gatinha, Diana e eu.



O autor e o blogueiro

Aproveite e curta esse vídeo de Marcelino lendo o conto Da Paz:



segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FRANK WYNNE - EU FUI VERMEER

Li recentemente o livro de Frank Wynne, Eu Fui Vermeer, sobre o falsário Han van Meegeren. O livro, misto de jornalismo literário investigativo e biografia, analisa a questão da falsificação, atribuição e validade na arte, através da história do falsário holandês que se fez passar por Veermer. Além de ser muito bem escrito, com aquela "levada" que nos faz virar cada página querendo uma pouquinho mais de leitura pela madrugada, o livro me fez pensar outras e mais outras questões a respeito da arte, tais como: apropriação e plágio / conceituação crítica e mecenato / crítica e panelinha.

H. van Meegeren foi um pintor dotado de extrema técnica, no início de carreira ganhou prêmios importantes como o da Technische Hogeschool de Delft (mesma cidade de Veermer). Seu estilo de pintura se aproximava ao das escolas realistas e clássicas (principalmente do barroco do século de ouro holandês), mas Meegeren não despontou e não obteve o reconhecimento de sua obra. Entre algumas razões apresentadas no livro para o fracasso de Meegeren, temos a exclusão provocada pela crítica, que segundo o autor está relacioano ao fato do pintor falsário ter um caso e a posteriori se casado com a esposa de um crítico de arte conceituado, e por conseqüencia, seu nome foi gradativamente minado pela mídia da época, sendo excluído do circuito artístico. O outro motivo, ainda segundo o livro, é o auge das vanguardas artísticas do século XX, havia Picasso, Mondrian, Modigliani. Para Meegeren, coube apenas as falsificações.

Mas H. Meegeren não copiava quadros exatamente. Ele se apropriava dos elementos dos pintores do século XVI e XVII e dentro do estilo destes artistas (empregando as técnicas de elaboração das tintas) criava telas, obras que eram suas, falsificava sim as assinaturas.

Para entender melhor a questão, imagine o quanto é difícil atribuir e autenticar um quadro de um determinado período quando muitos artistas não assinavam várias obras. Vermeer foi um pintor do conhecido como século de ouro holandês, além dele, outros artistas trabalhavam na época (Frans Hals, Pieter de Hooch, Jacobus Vrel) apresentavam estilos e temas similares que estavam em voga. Muitos deles debruçavam-se sobre interiores, cenas do cotidiano, mesmos modelos. Assim, sem assinar uma obra, torna-se difícil atribuir a autoria. Entretanto, os especialistas apreendem pequenos sinais indicativos: o formato da moldura, o envelhecimento e o formato do craquelê, os pregos, a composição da tinta, os adereços que compõe a pintura.Vermeer pintou poucos quadros e seu trabalho obteve reconhecimento somente a partir de meados do século XIX. No início do séc XX, esperava-se, ansiava-se por encontrar outras pinturas do mestre de Delft. A maioria dos críticos e dos estudiosos de arte especulavam um possível período de temática religiosa. Aí entra Meegeren, ele simplesmente cria os quadros do período religioso. A Dama e o cavaleiro a espineta, Ceia em Emaús, Isaac abençoando Jacob. Meegerem retirava suas inspirações de trechos bíblicos. Mas, para que suas obras se assemelhassem às obras barrocas, Meegeren criou seus "originais" em quadros de artistas de segunda classe da época do ouro. Sem o menor pudor, ele trabalhava sob a pintura de outros artistas. Fabricava tintas da época. Sua perfeição em Ceia de Emaús foi tamanha que a obra foi considerada um dos "grandes trabalhos do Mestre Vermeer".

Através de terceiros, ele vendia suas falsificações. Tornou-se milionário durante o entreguerras e a segunda guerra. Após o fim do conflito foi acusado de enriquecimento ilícito e por colaboração com o nazismo, já que uma de suas telas de Veermer foi vendida à Goering. Para escapar ao julgamento de traidor e colaborador nazista sua única saída foi confessar. Então, Meegeren realizou um último Vermeer diante de testemunhas.


A história é ótima e é interessante perceber o drible que ele deu na crítica da época, no mecenato que não reconhecia seu talento. De certo modo, ele desmoralizou todos os museus que adquiriram suas obras. O que nos remete a uma outra questão: Será que tudo que vemos é de fato verdadeiro, autêntico? Por exemplo, pesquisas apontam que nem tudo que lemos de Camões foi realmente produzido por ele. Outro aspecto é se realmente houve plágio, já que Meegeren não copiou nada, apenas a assinatura.

domingo, 21 de setembro de 2008

RASIF - MARCELINO FREIRE

O escritor é pernambucano, radicado em Sampa, conhecido pelos famosos beijos no umbigO. Marcelino Freire vai autografar RASIF na livraria Odeon, no centro do Rio. Local ótimo para tomar um trago no Happy Hour. É 18:30, nesta segunda22/09/08, nem mais cedo, mas um pouco mais tarde.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ENTREVISTA - ALVARO COSTA E SILVA

Sinceramente não penso no aspecto comercial. Tenho liberdade, ainda bem. Na verdade, não aceito a obrigação de atualidade no jornalismo cultural. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências. Acho que o leitor é inteligente.”

Alvaro Costa e Silva é jornalista desde 1988, trabalhou em O Globo, Última Hora, Manchete, entre ourtros, e colaborou com inúmeros veículos. Foi repórter, redator, colunista. Atualmente é editor do suplemento literário Idéias&Livros do Jornal do Brasil. Esta entrevista exclusiva foi concedida ao Rio movediço por e-mail.

Alvaro, quais os principais objetivos do suplemento Idéias?

O suplemento, que existe há 21 anos, acompanha o mercado editorial e as tendências contemporâneas do pensamento. Não necessariamente nesta ordem ou prioriedade. Daí que tem o nome Idéias & Livros, mas podia se chamar Livros & Idéias, porque, preferencialmente, os dois devem vir juntos...

Antigamente, os suplementos literários eram mais volumosos, publicavam análises, críticas e possuíam colunas que priorizavam a educação literária, como, por exemplo, a coluna de Mário Faustino. De certo modo, os suplementos eram um dos pontos de referência para a formação crítica da literatura. Atualmente, no que se refere aos suplementos, esse conceito jornalístico modificou-se, os suplementos diminuíram, assim como diminuíram as resenhas e as análises. Para o senhor, este aspecto de referência formadora existe ou não existe e, caso não exista mais, quais necessidades ocorreram durante o percurso histórico do jornalismo que suscitaram tais modificações?

O que mudou, no geral, foi o jornalismo. No mundo todo. Há pouco tempo houve uma grita nos Estados Unidos, onde o mercado editorial é mil vezes mais poderoso e influente que o nosso, porque importantes suplementos culturais estavam fechando. Meu maior problema é de espaço. A falta dele ou o pouco dele me impede de publicar resenhas e análises mais alentadas. Quanto à "referência formadora", como você chama, acho que ela migrou para os livros e para a academia.

Quais os critérios que o senhor utiliza para elaborar a pauta semanal?

Este é um grande mistério. Escolher o que vai ser capa e o que vai ter apenas um registro. Claro que, como tudo na vida, há forças maiores que se impõem. Livros sobre os quais não podemos deixar de falar, assuntos que estão pulando na nossa cara. Mas, no meu caso, funciona o feeling e, principalmente, muita discussão com os demais companheiros de caderno.

"Livros sobre os quais não podemos deixar de falar (...)" O que é exatamente isso, digo, o feeling também parte de elementos externos, como por exemplo: os eventos culturais, os leitores? E qual o tempo médio que vocês necessitam para fechar a edição?

“Livros que não podemos deixar de falar": qualquer um que seja aqui traduzido do Roberto Bolaño. Acho que é um bom exemplo. O feeling está mais para idiossincrasia que para elementos externos. A edição é bolada com antecedência. Geralmente ma sexta, após o fechamento de quinta, já a tenho na cabeça. Mas posso mudar uma capa, ou qualquer outra página, até na quinta de manhã.

Há, no seu ponto de vista, uma interação entre venda de livros e notícia em suplemento. E até que ponto o aspecto comercial pesa na escolha de uma pauta?

Sinceramente não penso no aspecto comercial. Tenho liberdade, ainda bem. Na verdade, não aceito a obrigação de atualidade no jornalismo cultural. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências. Acho que o leitor é inteligente.

Os suplementos contribuem para a canonização de certos autores?

Não. O que eles podem fazer é, eventualmente, levantar a bola de um autor que não merece. Mas isso a imprensa esportiva faz mais e melhor.

Você tem o hábito de ler outros suplementos, por que motivo e quais?

O principal motivo é a deformação profissional. Outro, o prazer. Babelia, os suplementos argentinos do Clarin, La Nacion e Págiona 12, o do chileno El Mercurio, Granta, Guardian Books, London Review of Books, The New York Times Book Review, o Prosa & Verso, as páginas der livro da Folha e do Estadão, o Rascunho, o Portal Literal. Uma pá deles.

Fora os suplementos, qual a praia de leitura do Alvaro?

Não consigo ler quase mais nada, a não para o caderno. Gostaria de encarar o Proust de novo.

Hoje, na internet, existem vários blogs literários, e de comum acordo salientamos que alguns possuem muitas baboseiras, outros nem tanto, certo? Também temos um prêmio Jabuti que surgiu da Internet (Marcelino Freire). Para você, os blogs literários são um ponto de formação de leitores e escritores?

Acho os blogs, os bons, bem entendido, fundamentais para a formação de leitores. O do Marcelino é um bom exemplo disso.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

POESIA ORAL, OS CARIOCAS:


[1] O Vampiro Ciro de Mano Melo.
[2] A celebração do Instante de Cairo Trindade.
[3] Flávio Nascimento em Deixem os Poetas.
[4] Horizontes de Brasil Barreto.
[5] O Blogueiro daqui recitando na Lapa.
[6] O performer Márcio-André assobiando seu violino para peixes.
[7] O bardo Tavinho Paes no Beco do Rato.
[8] A mulher Graça Carpes na Sala 7 - Vagina.
[9] O dandi bengaleiro Paulo Fichtner no Cep 20000.




segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Prosa - Longo Abraço III

O pequeno vaso grego está me olhando. A Colcha de retalhos mofa dentro do armário. Para cada retalho um ponto de fungo escurecido — memórias de festas e sais que misturavam na cama lençóis e colcha e cheiros avinagrados. No cimo da escada acompanho a simetria de pequenas reproduções renascentistas: os pratos na parede dispostos de forma angular, em cada um há uma marca de lábio, marca de uma história antiga. Não consigo fazer mais nada de nojento porque olhos (os seus) me vigiam em todo lugar. Quando vejo as jovens do colégio que há na rua, me ancoro na mureta, sitiado numa velhice que não me pertence, não me pertence. Mas é assim que escorrego pela rua, velhacamente encurvado, com pequenas cordas suspendendo alguns suspiros ou gritos que poderiam ser lascivos. Enquanto ouço vozes colegiais e o bater de tênis desesperado do vendedor de jornais correndo de um lado ao outro, vendendo notícias novas, e que se empilham uma sobre outra diariamente num movimento contínuo. Enquanto isso tudo acontece, desinteressado, me dou conta de que os movimentos virgens acabaram. Acabaram-se os novos sons e espasmos. Acabou-se a colcha e o vaso. O que existe agora é um vago sopro de passado, é uma brisa insistente que ainda me faz vivo e que persiste nos rebocos das casas descascadas e que me lembra das tuas primas e das laranjas que elas costumavam trazer frescas das feiras. Eu as degustava em dias de abril. Tuas primas, agora, estão a quatro mil planetas de distância, são humos para as folhas das laranjeiras de abril. Ontem rezei para Nossa Senhora das cabeças, para que me desse algum fio.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Facada


Aquela faca ficou me mordendo a noite inteira. Não que eu não soubesse usá-la. Que eu já havia visto milhares de vezes facas crispando sangue por todos lados. Há muito que lido com elas, faz parte da profissão: serrar pequenos ossos de animais. Mas ali, naquele tampo de mesa ladrilhada, o mosaico era diferente, era totalmente novo, como a baba que se renova no canto dos lábios em cada minuto salivar, secando a garganta de uma vida que já ganhou muitos pães, mas que agora se perde em jogatinas com ninfetas de quinze ou dezesseis anos, com o conta-giros ligado, martelando as cinco pontes de safena. Então, eu já não sabia se recuava e recusava a personagem do matador que eu incorporara com aquele vulto branco do meu lado soprando misérias no ouvido, ou se partia pra dentro e estripava a carne e deixava o sangue espargir pela sala, na mesa, na parede e no sofá novo, bem branco. Eu poderia encerrar aquela firula esganada que cortou a vida daquelas quatro pessoas que se engalfinhavam entorno do carteado. “Passa a porra do trunfo, se não chulapo tua cara de rebordosa babaca com dois tapas bem dados”, gritei. Houve um não sei o que e tudo que estava à volta se turvou. No dia seguinte, acordei, andei pelo salão e a vista estava mais nítida. Não havia sangue em volta, nem dinheiro sobre a mesa. As cartas também não estavam por lá. Fui à cozinha e abri a gaveta, as facas estavam todas arrumadas e na pia havia uma garrafa de Uísque cheia, fechada. Minha cabeça martelava um enjôo. Corri para o banheiro, lá, vi: a privada completamente ensangüentada e dentro dela uma espécie de célula disforme, muito pequena, abrindo e fechando o que seria a boca. Suavemente me dizia: escroto, escroto.