segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quando o FIM é gente como a gente


Exatos 90 anos se passaram desde a semana de arte moderna em 1922, durante este intervalo tivemos e temos alguns outros momentos também ímpares que agitam as límpidas águas das feiras e festas literárias. Cada um de uma maneira diferente, de um jeito peculiar traz em evidência o autor e seu produto de criação, a obra. Mas este último sábado e domingo, tivemos o FIM de Semana do Livro no Porto, realizado no Morro da Conceição, ele foi único, especial.

O clima de informalidade proposto pelo FIM através de suas estratégias de popularização da literatura (e aí, vale o recurso do papo de botequim, da cerveja gelada, da conversa solta... do cortejo pelo bairro e das diversas oficinas espalhadas pelo morro), este clima é mais uma iniciativa que se soma aos intentos de disseminar a literatura e criar outras formas de intervenção cultural. Em uma reportagem, Raphael Vidal, o idealizador do FIM, afirmou que uma das propostas da festa é a de aproximar o escritor ao leitor de uma maneira informal, ou seja, de igual para igual, e de certo modo, essa assertiva deixa claro sobre qual terreno estamos pisando: incentivar à leitura, desmistificar o escritor e trazê-lo para o lugar comum de ser mais um citadino, nada além do que isso, ou ainda, de uma maneira mais poética se assim podemos ousar, passar um pouco de poeira nas togas e nos galhardetes que revestem a aura sublime das letras.

O fato de um escritor ser cultuado como quase um ente intocável tem muito a ver com os processos de desigualdades educacionais e sociais que permeiam o nosso Brasil. O status quo e o conhecimento adquirido pelos letrados não estão ao alcance de uma população que observa várias dificuldades de letramento e que não realiza a leitura como o ato de identificação ou contemplação com as experiências trazidas pelo autor. Assim, durante séculos o escritor escreve para um público de eleitos, para boa parte da classe média alta, um segmento social que detém os mecanismos de funcionamento do entretenimento cultural, e para a classe mais alta ainda, aquela que realmente detém as nossas forças produtivas. São raros os escritores que possuem identificação com o público em geral.

Ainda há muita pobreza de leitura no Brasil. É complicado elencar todos os fatores que contribuem para o número diminuto de leitores, podemos sinalizar o preço do livro e dos modelos praticados para sua comercialização, o preço e o custo de se ir a eventos como Bienal e Flip, por exemplo. Estes eventos são válidos, mas inviáveis do ponto de vista econômico, já que uma parcela significativa não tem condições de pagar o preço do ingresso da Bienal ou o estacionamento ou uma passagem e estadia para Paraty.  O importante é verificarmos uma vontade política de mudança. O FIM neste caso talvez faça parte do embrião de série de eventos diferentes, que promovem a aproximação do leitor e do escritor de maneira peculiar, não mais os velhos modelos instaurados. É mais ou menos o que afirmou Marcus Faustini em uma etapa do evento FLUPP PENSA no morro do Borel, foi uma fala sobre a militância da literatura periférica: “É necessário criar uma ideia de militância na literatura, porque falar de literatura é tão importante quanto fazer literatura, pensar lugares de literatura, pois só escrever não é suficiente para viver de literatura...”. Enquanto início, nós devemos torcer para que o FIM promova e abarque mais segmentos do meio literário que não participam nos encontros da agenda oficial da literatura brasileira, nas principais mesas ou na contemplação de bolsas.

E quando a literatura se apresenta na informalidade, alocando-se longe de uma esfera empertigada, quando a assumimos com familiaridade e a trazemos para nosso cotidiano, para nossa casa e articulamos planos de como melhor abordá-la, divulgá-la e criá-la, podemos enxergar uma estratégia clara de incentivo ao ato de ler e o de produzir, nada tão profundo, mas visceral, pois surge uma diversidade de leitores. Isto é um esforço político, embora seja tão simples como o feijão com arroz, tão simples como ser filho de pais oriundos do cartão de ponto e da fila de ônibus, gente do povo, gente como a gente, talvez isso seja a peraltice de Macunaíma ante a possibilidade de dar uma rasteira no Visconde de Sabugosa ou talvez seja apenas o Lima Barreto, negro, pobre, marginalizado, sorrindo para o choro que corria solto no alto do mirante do Valongo durante o sábado do FIM, dizendo: É isto! (não é nada à toa que Lima Barreto é um dos escritores mais lembrados por Raphael Vidal). Que este evento se some ao surgimento de outros eventos em outras áreas do Rio de Janeiro e do Brasil e que não destoe de sua característica principal, a informalidade, é no fundo o que desejamos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

FIM DE SEMANA DO LIVRO - MORRO DA CONCEIÇÃO

Lançamento do livro Porto do Rio do Início ao Fim, que conta com a participação dos escritores Júlio Silveira, Leandro Jardim, Marcelo Moutinho, Marco Simas, Mariel Reis, Ramon Mello, Raphael Vidal, Vinícius Jatobá e Zeh Gustavo.

Contamos com sua presença!!

Hoje 19/10/2012 no Imaculada bar - Morro da Conceição | RJ. 19hs



  Este lançamento será a abertura do Fim de Semana do livro no morro da Conceição




No domingo ministro uma oficina literária sobre contos! Veja lá no blog do Fim e se inscreva.