quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ENTREVISTA - ALVARO COSTA E SILVA

Sinceramente não penso no aspecto comercial. Tenho liberdade, ainda bem. Na verdade, não aceito a obrigação de atualidade no jornalismo cultural. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências. Acho que o leitor é inteligente.”

Alvaro Costa e Silva é jornalista desde 1988, trabalhou em O Globo, Última Hora, Manchete, entre ourtros, e colaborou com inúmeros veículos. Foi repórter, redator, colunista. Atualmente é editor do suplemento literário Idéias&Livros do Jornal do Brasil. Esta entrevista exclusiva foi concedida ao Rio movediço por e-mail.

Alvaro, quais os principais objetivos do suplemento Idéias?

O suplemento, que existe há 21 anos, acompanha o mercado editorial e as tendências contemporâneas do pensamento. Não necessariamente nesta ordem ou prioriedade. Daí que tem o nome Idéias & Livros, mas podia se chamar Livros & Idéias, porque, preferencialmente, os dois devem vir juntos...

Antigamente, os suplementos literários eram mais volumosos, publicavam análises, críticas e possuíam colunas que priorizavam a educação literária, como, por exemplo, a coluna de Mário Faustino. De certo modo, os suplementos eram um dos pontos de referência para a formação crítica da literatura. Atualmente, no que se refere aos suplementos, esse conceito jornalístico modificou-se, os suplementos diminuíram, assim como diminuíram as resenhas e as análises. Para o senhor, este aspecto de referência formadora existe ou não existe e, caso não exista mais, quais necessidades ocorreram durante o percurso histórico do jornalismo que suscitaram tais modificações?

O que mudou, no geral, foi o jornalismo. No mundo todo. Há pouco tempo houve uma grita nos Estados Unidos, onde o mercado editorial é mil vezes mais poderoso e influente que o nosso, porque importantes suplementos culturais estavam fechando. Meu maior problema é de espaço. A falta dele ou o pouco dele me impede de publicar resenhas e análises mais alentadas. Quanto à "referência formadora", como você chama, acho que ela migrou para os livros e para a academia.

Quais os critérios que o senhor utiliza para elaborar a pauta semanal?

Este é um grande mistério. Escolher o que vai ser capa e o que vai ter apenas um registro. Claro que, como tudo na vida, há forças maiores que se impõem. Livros sobre os quais não podemos deixar de falar, assuntos que estão pulando na nossa cara. Mas, no meu caso, funciona o feeling e, principalmente, muita discussão com os demais companheiros de caderno.

"Livros sobre os quais não podemos deixar de falar (...)" O que é exatamente isso, digo, o feeling também parte de elementos externos, como por exemplo: os eventos culturais, os leitores? E qual o tempo médio que vocês necessitam para fechar a edição?

“Livros que não podemos deixar de falar": qualquer um que seja aqui traduzido do Roberto Bolaño. Acho que é um bom exemplo. O feeling está mais para idiossincrasia que para elementos externos. A edição é bolada com antecedência. Geralmente ma sexta, após o fechamento de quinta, já a tenho na cabeça. Mas posso mudar uma capa, ou qualquer outra página, até na quinta de manhã.

Há, no seu ponto de vista, uma interação entre venda de livros e notícia em suplemento. E até que ponto o aspecto comercial pesa na escolha de uma pauta?

Sinceramente não penso no aspecto comercial. Tenho liberdade, ainda bem. Na verdade, não aceito a obrigação de atualidade no jornalismo cultural. A arte se torna cada vez mais um pretexto para que os meios possam impor fenômenos e tendências. Acho que o leitor é inteligente.

Os suplementos contribuem para a canonização de certos autores?

Não. O que eles podem fazer é, eventualmente, levantar a bola de um autor que não merece. Mas isso a imprensa esportiva faz mais e melhor.

Você tem o hábito de ler outros suplementos, por que motivo e quais?

O principal motivo é a deformação profissional. Outro, o prazer. Babelia, os suplementos argentinos do Clarin, La Nacion e Págiona 12, o do chileno El Mercurio, Granta, Guardian Books, London Review of Books, The New York Times Book Review, o Prosa & Verso, as páginas der livro da Folha e do Estadão, o Rascunho, o Portal Literal. Uma pá deles.

Fora os suplementos, qual a praia de leitura do Alvaro?

Não consigo ler quase mais nada, a não para o caderno. Gostaria de encarar o Proust de novo.

Hoje, na internet, existem vários blogs literários, e de comum acordo salientamos que alguns possuem muitas baboseiras, outros nem tanto, certo? Também temos um prêmio Jabuti que surgiu da Internet (Marcelino Freire). Para você, os blogs literários são um ponto de formação de leitores e escritores?

Acho os blogs, os bons, bem entendido, fundamentais para a formação de leitores. O do Marcelino é um bom exemplo disso.

Nenhum comentário: