segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ponto de Solano




O que é este ponto inerme e que se preenche por si próprio e que está defronte minha mesa de trabalho indicando uma pausa, um stop? Resoluto e imóvel, ele me desafia a algo de mais imaginação: algo como um "ei... preste atenção aqui para o que eu posso fazer: cambalhotas, petelecos e riscos, palavras novas, frases que você jamais ousou..." Então em um piscar de olhos, ele se cola na minha retina e para onde olho, lá está ele nas paredes e na cortina, na porta do armário. Em instantes retorno o olhar para ele e me fixo neste joguinho divertido de vê-lo pulando em vários lugares do quarto por várias vezes. Mas de repente, numa destas rodadas, quando a vista já começa a lacrimejar há um esteio diferente no ponto que me faz deter a visão. De fato, agora ele mudou, deixou de ser aquele ponto imóvel, redondo e gordo, e apareceu uns riscos que se espraiam por toda a tela do PC, partem em diagonal e todos partilham da mesma origem, o ponto, aquele ponto inerme e imóvel que eu vira pela primeira vez na tela do micro. Parece, não... não parece... ele de fato deixou o cabelo crescer e agora diante dos meus olhos há um asterisco, um ponto hipie, descabelado e que pigmenta a tela de tal modo que me pergunto: quais palavras ele sinaliza, quais significados? E agora o jogo não é mais o de girar a visão pela tela, pela parede. O jogo agora é de imaginação: e se por acaso este ponto deixasse escorrer uma seiva, uma gosma que pinga-pinga-pinga. Tornar-se-ia uma vírgula? E que pausas esta vírgula iria indicar, o que viria a seguir... apostos, conjunções adversativas, afirmativas, advérbios modais, de tempo? Talvez uma série de afirmações cabais sobre o mundo, a paz no mundo, o plano econômico do governo da Dilma ou um-não-sei-o-que-que-me-diz-que tudo será melhor no futuro pois a conjunção dos astros apresenta um próximo semestre bem mais promissor, mas que para isso acontecer é preciso ter disciplina todos os dias, todos os dias uma agenda com listas, com riscos, com tarefas. Aí então, talvez, repito talvez, essa vírgula acrescente algum cifrão em sua história decimal. Este talvez seja o ponto de Solano, aquele que é de ano a ano. O ponto exíguo que reluz as coisas que realmente valem, lépidas em sua prática de quicar-quicar-quicar e não se deixar enovelar por estranhos pensares. É o ponto máximo de vida e o mínimo. Ponto zero do infinito e que agora me faz perguntar: Ponto, qual é a sua?






2 comentários:

Jandira disse...

Todos bons. Inda bem que voltou

Jandira disse...

Todos bons. Inda bem que voltou