domingo, 1 de dezembro de 2013

Papel branco, tinta negra

Mesmo se a folha é branca,
é preta a tinta que ali se crava,
negra como as cicatrizes
na pele da chibata.

E se um dia me digo
que não sou do papel onde escrevo
e afio o grafite de mãos negras,
é porque eu me conheço
na carne dos lábios
a consciência de riscar
preto sobre branco,
um enredo de livro
que somente a faca,
o sangue e o grito,
um dia poderá mudar.

Sigo os rumos das palavras:
setas de arco e flecha na floresta,
zangaia, martelos e moitarás,
sete folhas me fecham o corpo
e os atabaques nos pés descalços
(ainda descalços...)
Òké Aro!!! Arolé!Òsóòsi

E quando a rasteira passa o guizo,
o caminho é alto para quem sobe
e no lombo é a vala que desce
é porque, então, me alfabetizo
na volta que o mundo deu,
na volta que o mundo dá
o que me vale são as preces de hoje,
e os poemas de cor e dor
são minhas armas de me arriscar.

Flávio Corrêa de Mello.

Nenhum comentário: