sábado, 2 de junho de 2012

Sábado de High Way to Hell

Pela manhã o gosto do café.
Sábado lá fora: céu de outono, 
vento na janela, o cinzeiro
e o relógio derretendo
os tempos esquecidos.
Arrumo os apetrechos:
pinho sol, água sanitária,
lutra móveis, roupa no varal.
Desembrulho lentamente os ossos,
a junção das vértebras.
E digo, voz alta, semi-tonal:
Isto tudo é meu: o sol
e o sal, o cream-cracker,
as contas, o aluguel.
Um choro de criança piolhenta
não cessa o latido do cachorro
que esgano ontem, hoje, amanhã
é domingo de almoço na Tijuca.
Enquanto isso o pastor que mora embaixo,
no seu cubículo de imprecações,
chora cobre, chora aço,
sofre, blasfema, agoniza
no térreo a bactéria que o corrói.
Não o ouço, o aspirador de pó
vocifera High way to Hell
e bato mais forte a vassoura
espalhando cinzas e pragas.
Rapidamente o sol se põe,
o corpo quente agora dormita,
secam-se as veias,
um banho frio me alivia,
o sábado apenas começou.

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