Hoje, caminhava pelas ruas do bairro de Botafogo. O sol de meio dia e meio realmente havia dito ao que viria. Aliás, assim tem sido nas últimas semanas. Mas hoje, diferente de sábado, por exemplo, dia em que eu marinava minha testa debaixo de uma barraca na praia do Leme, hoje estava terrivelmente quente, calorento.
Na verdade, tanto os sapatos que eu calçava quanto as meias que eu vestia eram pouco apropriadas. E tinha a impressão que meus pés explodiriam em questão de minutos. A camisa grudenta, o jeans roçando as pernas e o sol ali me passando atestado de hipertenso, aquilo tudo era de morrer... não fosse aquele corpo que veio se ondeando em minha direção com o short jeans curtinho e os bolsos internos se prolongando em V nas coxas, repleto de pequenas pedrinhas brilhantes que faiscavam nos meus olhos o sol.
Ali, naquele instante, realizei mais uma elegia pecaminosa sobre a vida, vendo aqueles cabelos longos, negros, aquele top igualmente suarento, a pele luzindo sal. Tudo foi esquecido, tudo. Entendi tudo, entendi o mundo, entendi a beleza e o porquê do poetinha escrever letras para os jovens artistas dos anos 60 em vez de hermetizar em concretudes a ausência da musa, o vazio geométrico e cúbico. Ali fiz as pazes com o chão, chão, chão, com o simples erguer-se diariamente com o pão na manteiga, o café fresco e a leseira das seis horas da manhã. Realizei um poema, o melhor já sentido e vivido, mas não o escrevi. E não morrerei por isso. Na verdade, também vi algo mais profundo: vi o maçarico de março me atingindo em cheio com sua luz cegante no meio dia de uma rua de Botafogo. Era a menina com seus vinte anos de idade, era eu de peito aberto para a vida, era a cidade, o sol, o sol, o sol.
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