sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Emil de Castro

A poesia e o universo poético é vasto demais. É muito difícil mensurar ou mesmo classificar as versáteis formas de versejar, de se forjar um poema. De maneira que, cada um ao seu gosto, vai descobrindo, desconstruindo, balisando, suas leituras. De minha parte, ultimamente, volto meus olhos para os poetas dos anos 60. Aqueles que das vésperas dos anos de chumbo da ditadura, viveram as transformações políticas e se debruçaram liricamente sobre um barril de pólvora para dali extrair seus poemas, suas vivências, revoltas e esperanças.

Notadamente, nesta época, quase já na curva primeva dos anos 70, iniciou sua obra o poeta Emil de Castro. Sua estréia deu-se em 69, com o livro o relógio e o sono, editado pela leitura-rj. De lá até hoje, muitos livros foram publicados e embora sem participar de alguma constelação de poetas unânimes, Emil se manteve sempre ativo, publicando constantemente, relacionando-se com seus leitores. Desses sou mais um que desfruta de seu lirismo melodioso, de sua forma de alinhavar a rotina, as questões menores, às reflexões mais gerais da existência. Pessoa prática, militante político e cioso de seu tempo, Emil gestou alguns de seus poemas a partir das adversidades contemporâneas, das imposições capitais.

Para os leitores deste blog, selecionei alguns de seus poemas. Boa leitura:


O TEMPO

O tempo não é nosso.
Nossa é a vontade vivê-lo
e de senti-lo
em toda plenitude
com o corpo e com a alma.
O tempo com sua vivência de crises
e guerras.
O tempo com sua certeza de rosas
e espinhos.
O tempo com seu feto calado
no aveludado do seu ventre.
O tempo com seus ponteiros
a marcar o sempre depois dos homens
e das coisas.
O tempo não é nosso.
Nossa é a vontade de não
sofrê-lo nas horas de senti-lo.


SER POEMA

Ah impossível ser novamente vento
nas ruas.
Um sentido de mar no cais
com a ilha na carne.

Ah impossível ser pássaro
passeando plumas na calçada.
Um mastigar verde nas retinas
com o mundo na janela.

Ah impossível ser poema
com tanta gente morrendo


CARTÃO DE CRÉDITO

Há contas a pagar por roda vida.
Esgotei meus créditos na direta
razão de ser ausente.
Uma barata esmagada no vão da porta.
Não sou eu desculpem-me,
mas resta ainda a sensação de inseto
que corre nas minhas veias
e nem percebi que meu cartão de crédito
perdeu a validade.


POEMA

Antes de anoitecer quero regressar
Ao bosque onde ficaram meus passos
e sentar-me na terra como quem não
vive o tempo de primeiro amar.
E na chegada andarei entre o limo da
madrugada passeando o ontem menino
que fui na janela para o nada.
Auras me pentearão com seus abraços
e nada evitará que me instale na es-
trada onde é certo que morrerei do jeito
que a vida me apanhou entre escombros.

3 comentários:

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...ardiendo
estíos
de pasión.



TE SIGO :


RIO MOVEDICO



con todo
mi corazón
desde :


HORAS ROTAS



prendidas
ahora
para compartir
ya contigo.



SALUDOS con afecto .




j.r.s.

Flávio Corrêa de Mello disse...

Prezado José Ramon
seja bem vindo ao Rio Movediço!

Carmélia Cândida disse...

Oi, Flávio!
Estou à procura do contato do Emir de Castro. Você teria para me informar, por favor? (Se tiver, pode me passar por e-mail?)
Obrigada