quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Estaleiro


Chega uma hora em que tudo pára. Hora asséptica. De clamor, diriam alguns, de refúgio, diriam outros. A água corre pelo canto do asfalto, cheia de poeira, de bitucas, de pedras e de asneiras sizudas, mas estaca debalde todo o esforço que emprega, estaca e pára. Tudo pára: a água, o pensamento, o ódio, a raiva, as animosidades que me impregnam, tudo, mas tudo mesmo está parado e não adianta escrever, sublinhar ou desentender-me com quem quer que seja. Pois será que vale algum tostão ou alguma migalha de sorriso? Será que valeria um grito ou então tomar cápsulas de valeriana? Assim estou estaleiro, navio avariado, meio que retirando as placas que há muito deixaram de ser eficazes, o que alías, conjecturo: nunca o foram. E neste estaleiro, procuro me reinventar para colocar de novo o barco a navegar de modo mais suave, com as ranhuras mais acarinhadas.



2 comentários:

nydia bonetti disse...

muitos não têm a chance do lugar estaleiro onde nos reinventamos e voltamos ao mar feito barcos novos. [cápsulas de valeriana costuma ser eficazes aos barcos avariados] adorei teus textos. abraço!

Flávio Corrêa de Mello disse...

capsulas de valeriana ou um pouco de passiflora!
obrigado pela visita!