domingo, 27 de setembro de 2009

Dia de Chuva

Chove. Chove muito na Carioca. O vento recorta a Senador Dantas e esfria as luzes verdes e amarelas da Petrobrás. Chove. Acendo um cigarro e na primeira tragada ele está molhado. Apalpo meu corpo, minhas costelas, o jeans colado de suor e chuva. Um rato se esgueira, luta contra correnteza que insiste em arrastá-lo para o fundo do bueiro. Chove mais. Chove muito. O rato não resiste, afunda junto aos restos de uma 13 de Maio castigada por guimbas e bugigangas e restos de papel de presente e toda sorte de material deixado para trás por camelôs desanimados. Um velho, aparentemente bêbado, se arrepende de tudo e joga o resto de guarda-chuva que ele ainda pensava ser capaz de protegê-lo das águas incessantes, das imperiosas golfadas de Deus. Ele se ajoelha diante de mim e de seus olhos cavos veio um pedido de ajuda, um pedido por uma mão, um empurrão para cima. Eu o levanto. Minimamente apurado, vai embora, caminhando tortuoso, apenas isso, vai embora. Chove cada vez mais. O centro se esvazia rapidamente e uma solidão de frio e reumatismo me assola, me imobiliza, me despreza. No meu ato divino de criação, o centro, agora, está submerso, é uma atlantes e esta chuva nada mais é que meu desespero de ser Deus, nada mais é que o meu estado de latência e de cansaço, nada mais é que o choro que deixo escorrer durante essa noite em que esmoreço sozinho a sua falta aqui ao lado.

4 comentários:

líria porto disse...

belíssimo!

acabo de ler teu poema lindo no balaio!

besossssssssss

Moacy Cirne disse...

Oi,
tem um poema seu no
Balaio.

Um abraço.

Flávio Corrêa de Mello disse...

Caríssimos Líria e Moacy,
vindo de vocês... o que dizer!

Unknown disse...

"No meu ato divino de criação, o centro, agora, está submerso, é uma atlantes e esta chuva nada mais é que meu desespero de ser Deus, nada mais é que o meu estado de latência e de cansaço, nada mais é que o choro que deixo escorrer durante essa noite em que esmoreço sozinho a sua falta aqui ao lado."

Que lindo Flavio, que lindo! Saudade de ti.

Bjs,
Elis Barbosa