quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ouvindo Vozes - Edmar Oliveira

Trabalhei muitos anos na livraria da Travessa. Tempo maravilhoso. Finalmente, agora, estou no mercado editorial, na Vieira & Lent. Esta mudança ocorreu em um momento oportuno, decorrente de um amadurecimento. Cheguei aos 37 anos, muitos barcos já navegaram no meu rio. Já teve tempestade e bonança. Ir para lá foi uma escolha, um movimento para conhecer cada vez mais o meu objeto de trabalho, o livro, o papiro que ondula a superfície do rio movediço. E, ainda bem, já cheguei com muito trabalho. Temos quatro lançamentos no mês de agosto, mais dois agendados para setembro.

A Vieira & Lent tem um catálogo enxuto com o fino da bossa pinçado nas áreas afins da ciência, tais como: neurociência, darwinismo, astronomia; Coleções como a Ciência de Bolso com textos acessíveis para o leitor comum sobre diversos temas que vão desde a nanotecnologia ao porquê do sono na sala de aula. Além disso, livros infantis como a coleção do Neurônio Lembrador, de Roberto Lent, na qual as personagens dos 5 livrinhos da série são neurônios que habitam o cérebro do menino Ptix e reagem de maneira diferentes em cada acontecimento na vida do garoto. Com isso, as crianças aprendem como o cérebro funciona, como os neurônios funcionam e como isso influi na vida cotidiana.

Um dos lançamentos que estamos trabalhando é particularmente especial, o Ouvindo Vozes, de Edmar Oliveira. Inclusive, é o que motivou esse texto. Não parti direto ao assunto porque, afinal de contas, gosto de preâmbulos. O livro é uma viagem ao mundo manicomial, em especial ao Instituto Nise da Silveira. O autor, assim como este blogueiro aqui, também gosta um pouquinho dos tais preâmbulos. Para tanto, Refaz o percurso do tratamento manicomial no Rio de Janeiro para, por fim, relatar o processo de desativação das internações psiquiátricas no Nise (o antigo Pedro II no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro) e, conseqüentemente, a implementação dos projetos de moradia assistida aos pacientes e usuários do Nise.
Através de uma linguagem coloquial, pautada na ficcionalidade, tomamos contato com o universo real e irreal existente no cotidiano dos pacientes; visualisamos os processos burocráticos que por vezes atravancam a engrenagem rotineira de funcionamento de uma instituiçao hospitalar; percebemos os preconceitos enraizados em uma sociedade pouco preparada para lidar com a diversidade do pensar e do ouvir. Mergulhar na leitura de ouvindo vozes nos ajuda a compreender e a apreender um universo temido e socialmente ignorado, já que a primazia da exclusão social se faz presente, é uma realidade. Mas, indo além, a proposta do livro, se assim posso dizer, é apresentar ao público comum uma abordagem de tratamento viável de convívio, de interação e integração, melhor para o paciente psiquiátrico e mais saudável para a sociedade.

Ler o livro de Edmar é uma grande viagem e para tal viagem ser melhor e mais gostosa, a edição inclui as Anotações para um cemitério dos vivos, de Lima Barreto. Este texto são as anotações que ele produzia para seu próximo romance que não foi concretizado devido ao seu falecimento. Foram escritas durante sua estadia no Hospício nacional de alienados, na Urca.
Por fim, vale dizer que o livro vai ser lançado no próximo dia 19/08, na livraria da travessa de Ipanema.

2 comentários:

http://www.palavraemfuga.com disse...

Flavíssimo,

Deixamos nosso agradecimento público lá no http://paraeuparardemedoer.blogspot.com

Elis tem pensado em concentrar pessoas com inquietações literárias para uma troca. O que te parece?

Beijos, querido. Vou procurar o livro recomendado, torcendo para que faça jus à excelente resenha.

Roberta Mendes

Memória de Elefante disse...

hoje é dia do lançamento de quem haverá de ser eternizado nos signos da eternidade! tudo de bom,mesmo pela excelente escolha.