terça-feira, 7 de julho de 2009

Três poemas de Moacy Cirne



POEMA PARA
in cinema pax (1983)
tua boca, quente e aveludada,
acaricia o meu sexo
língua - prazer
língua paixão
língua-pasárgada
gesto que me doidice
enquanto, lusco e fusco,
navego em teus horizontes mais íntimos
para te lamber
todatodinha
até que sejamos
(sonhos e crepúsculos)
uma só pele
um só tato
um só gemido
na noite espanto de novembro
AUTOBIOGRAF
in docemente experimental (1988)
pedras e crepúsculos da minha infância
eis a oferenda seridolente
neste outubro lênin fuzil e amor
à espera da penúltima viagem
à espera do poema do sim e do chão a chão:
cabra da peste,
caatingueiro
caatingal,
eis-me
caicó sertão seridó
(faca e bala
bala e faca)
nascevivendo
de 40 e qualquer coisa:
a luz que me feria
não era luz
era a imagem de antônio silvino
nas beiradas do velho itans
a lua que me gemia
não era lua
era a imagem de dorothy lamour
nas telas do velho pax.
riovivente
de muitos
silêncios,
a meninice
cobria-me
de espantos,
filmes
e gibis.
UM OLHAR CANGAÇO
in qualquer tudo (1992)
um olhar cansaço
um lambelambe sem memória
um velho cinema pax
um cão sem plumas
um potengi ao crepusculecer
um maraca maracanã
um poema sem poesia
um xerenhenhenhé de mulher
um quase tudo nenhum
e
50
sonhos adormenguecidos
* Poemas extraídos do livro Continua na próxima, edições Leviatã, 1994.
Ps - Peço desculpas ao autor, mas não consegui reproduzir a disposição gráfica dos poemas. Tentei por duas vezes, entretanto o blogspot não me obedece os comandos...

6 comentários:

líria porto disse...

o moacy pulou fora do balaio - e eu adorei!
obrigada, flávio!
besos

Moacy Cirne disse...

Puxa, cara, mjuito obrigado.
(Não me esqueci da entrevista não, viu?) Também acontece com o meu blogue: alguns poemas não obedecem à formatação original, mas eu os publico assim mesmo. O que fazer, né?

Um abraço.

dade amorim disse...

Sou fã do Moacy há muito tempo. Adorei encontrá-lo aqui. Beijo pra você.

Jeanne Araujo disse...

Oi Flávio, vim retribuir sua visita ao meu blog e, que surpresa, encontro poemas do meu mestre e amigo Moacy Cirne. Me encantou, como sempre. bjo pra vc. Vou te visitar mais vezes...

Flávio Corrêa de Mello disse...

Olá Líria, dade e Jeanne,

obrigado por terem vindo mais uma vez no espaço. A idéia do Rio é divulgar a boa poesia sempre. Neste caso, o Moacy não poderia ficar de fora, certo?

Moacy,
te confesso, fiquei grilado com a questão da disposição gráfica, mas se não te incomodou, então tá ótimo.
aguardo tuas respostas hein!!!
Vê se não demora até o próximo técnico do fluminense cair...

BAR DO BARDO disse...

Não conhecia a riqueza do nosso jovem.

Muito bom!