domingo, 10 de maio de 2009

ROSANA QUEIROZ - NO VALE DO EXÍLIO DE SOMBRAS

Há alguns anos, mas especificamente em 1995, adquiri em um sebo o livro No vale do exílio de sombras, de Rosana Queiroz. Sempre vou e volto relendo os poemas da autora. Fiz uma pesquisa na internet e apesar de encontrar alguns links que direcionam na área de literatura para o nome Rosana Queiroz, não identifiquei nenhuma referência de estilo e estética que condiz com o traço poético da autora do livro que possuo.

São interessantes esses livros que nos deparam em estantes de sebos. Autores de apenas um único título. Quantos escritores bons, como que não registram suas obras em livros?

No entanto, o mercado continua nos injetando muitas porcarias...
Mas deixo aqui dois poemas de Rosana para apreciação.


Chuvarada

A voracidade do verão sobre a laje
é zinir renitente de um bicho cascudo
ou piada de filhote de galinha, inexoravelmente só.
Meu pai xinga trovões que não entendo
(tem uma orquestra debaixo da garganta):
como pode existir alguém tão vesicular
amiudando a vida.
No porto a atracação do navio
é como parto com dor, alexandrino.
O cheiro do mar oleoso só quando vai chover
é que passeia na vila.
Sobre minha cabeça esta dúvida: resistirão os tetos,
a lona está bem jungida sobre os livros?

Depois, o cheiro pacífico do musgo vivo, hostial.


Visagem

Existe uma hora
das mais medianas do dia
que sugere um lago à beira de uma estrada de atalho
onde o cascalho
do poema repousa no fundo, inabalado, enjoado

lá onde algas respiram/repousam límpidas, amorosas criaturas

em que as coisas parecem sóis presos em luz de frialdades
vacilam entre tudo e nada
sob a luz nostálgica de um útero

que nos abrigue do caos
uma hora em que o futuro se projeta
de uma memória ebúlica.

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