quarta-feira, 13 de maio de 2009

O lixo dos extremos.

Tenho pensado nos lixos extremos, nas vontades extremadas e naqueles estranhos que perderam os combates, as pequenas guerras diárias e que afinal, sucumbiram diante da vida, mesmo quando uma réstia de sangue corria em suas veias. Porque a vida é um fio tênue, uma luta de equilíbrio entre a insanidade e a boa vontade.

Olho em volta e em qualquer lugar dessa cidade sinto cheiro de refugo. Dejetos humanos andrajam e sobrevivem. Olhar para eles não me incomoda, não os sinto como lixo, não os temo, pelo contrário, muitas vezes me irmano na sensação de ser esquivo, tangente. Aliás, me pergunto: não seria um deles? Não estaria também na camada do refugo, do lixo, do descarte? E No final das contas, não seria o lixo o que realmente permanece?

Veja o carro zero quilometros passando na esquina e o último modelo da roupa bem cortada segundo os preceitos da última moda comentada pelo jornalista na televisão; os livros novíssimos que são publicados, nos ensinando um jeito de suportar viver... o que esses objetos se tornarão? lixo, apenas isso... que somam-se ao lixo anterior, um após outro, formando a montanha de objetos inúteis, de bactérias, de vermes, de gás metano, porque também há vida na sobrevida. Palestinos são o lixo dos israelenses e o Iraque é o lixo do petróleo. E de repente precisamos nos proteger das crianças que atiram em alguma escola estadunidense. Algum refugo que saiu do trilho. Precisamos nos proteger, precisamos... Será que realmente é disso que precisamos, proteção ou refreiar o desejo consumista?

Mas, de fato, o que permanece e aumenta é o lixo, o refugo, a sobra. E é ela que vai corroendo, atemorizando e fedendo. Durante anos o lixo e o degredo estanciavam no limítrofe da cidade. Agora, sentimos o cheiro na Linha Vermelha, vemos o urubu descansando na varanda de um apartamento de São Conrado e ouvimos algum lunático sugerindo tacar fogo nas favelas... Ainda assim vamos ao extremo e repetimos: Rio de Janeiro?! Rio de Janeiro é lindo... É show... Qual mesmo? Este que repetimos ou o que cresce diante de nós, o Rio lixo.

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