quinta-feira, 5 de junho de 2008

AGOSTINHO NETO



Neste ano completam-se 29 anos do falecimento de Agostinho Neto, poeta e médico por formação. Ele foi um dos líderes do MPLA (Movimento Popular de Libertação da Angola) e do processo revolucionário que culminou com a libertação do povo angolano do jugo colonialista português depois da revolução dos Cravos e, logo após, foi proclamado o primeiro presidente da República Popular de Angola e também participou ativamente da União dos Escritores de Angola.

Agostinho Neto exerceu anos de militância e guerrilha. A prática entre os companheiros do movimento independentista e tanto a medicina quanto à poesia foram instrumentos de uma luta que se forjou, sobretudo, pelo direito à vida.

Sua obra literária pertence a uma forma especial de poesia, em que as principais preocupações do poeta foram instigar, pelo verso, a prática revolucionária capaz de gerar transformações e afirmar uma identidade cultural nacional, necessária para a revolução política que fervilhava em Angola. A poesia criada por Agostinho destaca-se pelo caráter insubmisso e libertário, uma poesia dolorosa projetada para um futuro promissor.

Em Sagrada Esperança, livro lançado na década de setenta, porém escrito inicialmente ao longo dos anos quarenta, nota-se a esperança de uma Angola livre em detrimento à existência de cânticos simples de saudades, como vemos nos versos abaixo, do poema de abertura da obra:

“Minha mãe / (todas as mães negras / cujos filhos já partiram) / tu me ensinaste a esperar / como esperaste nas horas difíceis. / Mas a vida / matou em mim esta mística esperança / Eu já não espero / sou aquele por quem se espera. / Sou eu minha mãe / a esperança somos nós / os teus filhos / partidos para uma fé que alimenta a vida (...)”

Podemos perceber que a esperança de Agostinho sedimenta-se numa espécie de renascimento. A mãe, no caso a representação da África, não pode mais esperar pela partida ou pela morte de seus filhos e cabe aos mesmos a inauguração de um novo tempo, de uma nova liberdade:

Atingi o Zero /Cheguei à hora do início do mundo / e resolvi não existir. Cheguei ao Zero-Espaço /ao Nada-Tempo/ ao eu coincidente com vós-Tudo / E o que é mais importante: / Salvei o mundo!


Assim constrói-se a poesia, como um ponto nascedouro, próprio de uma pátria a ser fundada. Ricos em oralidade, seus poemas constituíram-se como cânticos capazes de organizar seus compatriotas para um conflito armado que durou de 1961 até 1975. Mesmo antes deste período, Agostinho Neto foi preso e mandado ao exílio, e foi durante o exílio que ele compôs boa parte de sua obra.

É impossível dissociar os mecanismos de criação literária aos fenômenos sociais impostos por anos de colonização portuguesa, principalmente nos autores da geração de Agostinho. O povo de Angola conviveu com exploração demasiada do solo, das pessoas, dos abusos sexuais, do escravagismo, da coisificação, de modo que os substratos desse gênero de colonização fomentaram uma literatura alicerçada no desejo de não se submeter ao colonizador. Marcadamente, os poemas, os romances, os contos e os dramas escritos na época refletem a série de fatores relativos à ocupação e suas conseqüências.

Diversos contemporâneos de Agostinho, entre eles Antônio Jacinto e Luandino Viera (José Matheus Vieira da Graça), este português de origem, uniram-se em organizações e agremiações cujos objetivos eram protestar contra o governo português e a política Salazarista. Dessa forma, organizaram o embrião do processo libertador. No fim da década de quarenta, com a eclosão do movimento Novos Intelectuais de Angola, várias revistas, concursos e recitais eram feitos em Luanda. Com a intenção de revigorar a identidade cultural angolana. Muitos desses autores foram a base de formação do MPLA, que além de lutar pela independência, combateu por mais vinte cinco anos as forças da UNITAS ( União Nacional para Independência Total de Angola) e os exércitos regulares do Zaire e da África do Sul.


A União dos escritores Angolanos nasceu em 1975, com a república. Depois de enfrentar uma série de percalços e dificuldades por conta da guerra civil, a união, assim como o país, vive um período de projeção e organização de seus eventos. Tem um selo editorial próprio para lançar seus associados e um círculo de leitores com cerca de quinhentos membros cadastrados. No momento, a união reflete temas como pensão para escritores – esta é uma necessidade não somente para os escritores angolanos, mas para a classe dos escritores em todo mundo – incentivos de bolsas e projetos de criação de bibliotecas no interior angolano.




* Este post foi publicado inicialmente no especial lusofonia da carta-maior.

Um comentário:

Tatiana Carlotti disse...

Ai amei Flavinho, maravilha lembrar do Agostinho Neto.Puxa, que coisa boa de ler. Beijim, Tati