Há alguns dias postei o texto Crianças Palestinas. Recebi duas críticas sobre o texto de dois colegas de trabalho. Uma delas refere-se sobre a relação hipócrita ao enunciarmos a questão da morte das crianças na palestina (meu colega apontou isso como um fato mais geral), já que aqui temos milhares de problemas relacionados à infância e à juventude. Ainda, a imprensa enfatiza somente acontecimentos na faixa de Gaza, também existem guerras civis que ocasionam mortes em outros países, caso muito específico das guerras no continente africano. Outra crítica foi sobre se constitui-se historicamente na Palestina um caso de Holocausto. Neste aspecto, o que se leva em conta é o conceito aplicado ao caso dos judeus e dos armênios, por exemplo.
O que me leva a escrever textos como Crianças Palestinas está associado a um não calar-se perante os acontecimentos. É um exercício de sobrevivência. Diametralmente, talvez os fatos de jogarem bombas no quintal alheio não me choque tanto. Configura-se predicado para morar no Rio de Janeiro um auto-exercício de conviver com a violência social, com o desrespeito a vida, com a corrupção latente e escancarada. Este predicado não é válido somente para o Rio, também para outros citadinos das outras grandes metrópoles brasileiras há que se ter a mesma capacidade abstrativa que nos lega o involuntário ato de relevar e seguir adiante. Fato que atesta o estágio pernicioso a que nos levou o capitalismo: a pré-barbárie. Aliás, uma coisa não substitui a outra ou como diria minha mãe: "Um tomate não substitui a cebola". É preciso, então, analisar os dois processos como complementos da inexorável falha do nosso savoir faire, o saber viver.
Os dados deste jogo são jogados em um tabuleiro muito raso cujas bordas não existem e o risco de nem sabermos os números finais são inúmeros, pois a desmedida das ações do governo israelense o desloca para um terreno extremamente antípatico perante a opinião pública e para a opinião mediana, além de valorizar a existência do anti-semitismo. Se temos um pouco de conhecimento é muito difícil conceber o Hamas como um grupo meramente terrorista que lança foguetes a esmo. O Hamas obteve nas últimas eleições um apoio de 76% da população da faixa de Gaza, justamente por se apresentar como uma voz (mesmo que rouca) aos atos de fechamento de sua fronteira. A penúria existente em Gaza é anterior aos ataques feitos pelos palestinos à Israel. Será que os atos agressivos contínuos, o asfixiamento imposto à Gaza, a falta de lazer, do direito de ir e vir, a falta de água, o encolhimento homeopático de suas terras, será que por esse conjunto de fatores, por si só, já não podemos comparar a situação palestina ao gueto de Varsóvia?
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