segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Amanhã quando abrir os olhos eu saberei o dia de amanhã.

Não, não me chame hoje. 
Não diga meu nome, me esconda,
por favor, e jogue a chave fora, 
sim... puxe o sinal do ônibus,
me faça descer, por favor,
para única e exclusivamente me ver,
me ver, me saber o sal no céu da boca
me saber dizendo não e somente sim
e quem sabe talvez você e eu
sobrevivêssemos a nós.

Não foi dessa vez, não foi.
Por isso acenda esse cigarro longe,
por favor, agora chega,
desapareça, suma daqui.
A aspirina me cheira a náusea,
já viu esse cisto no crânio
na foto de iodo?
Pois não... muito prazer,
não lamento, só o hoje vou viver.

Amanhã, quem sabe, amanhã.
o azul reserve o céu de nuvens claras
ou a chuva escura lave o lodo,
o que for, chuva ou sol amanhã
quando abrir os olhos saberei.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Patológico

Todas as patologias. todas.
Hoje acordei e me iludi.
como todos os dias, como...
hoje acordei e era lama.

Nadei na lama
nadei sentado na minha cama
nadei na internet
nas horas mortas.

Hoje todas as patalogias,
todas as clínicas:
o exame do cérebro,
o iodo,
o sangue retirado.

Hoje é como ontem
como me faço mal
como me derroto
me curvo, me deito.

À noite de hoje olho
minha barriga de quase quarenta anos
e roubo mais um dia de felicidade
e narro assim aqui deitado
nesse esquálido ortopédico,
narro aqui o meu cínico mentir e manipular:
hoje não foi, hoje não será, hoje já me perdi
mas foi hoje, amanhã pode ser diferente, será?

E nesse exato momento que escrevo
e-x-a-t-o m-o-m-e-n-t-o
me digo a maravilha de que é me amar
e me prometo o que amanhã vai mudar e será?
e me olho no espelho
m-e o-l-h-o n-o e-s-p-e-l-h-o
e me vejo carne, osso, peito, pescoço
e só, muito pouco peço socorro.

Hoje fingi a chuva de domingo
e servi para lembrar em ti
que o seu choro carrega apenas o meu nome:
medo, ilusão, melancolia.