Me cansei de deitar em cima de caixas de livros. Isso sempre me deixa com uma dormência na espádula. Perdi alguns anos nessa coisa de deitar em caixas. Acho, na verdade, que perdi a noção de tempo. Se fazia sol ou não. Para mim é noite, sempre. A questão é que não sei o que fiz durante esses anos. Quero dizer, o que realmente fiz de produtivo. Andei aqui e acolá, trabalhando, fazendo meu sustento de morto-vivo. Nem sei quando o hábito começou, agora tanto faz, o que importa é que não me deito mais em cima de nenhuma caixa. Aliás, não me deito mais. Faz 72 duas horas que estou acordado, suando, sofrendo, com medo de adormecer. E se não durmo, consigo contar as horas e os dias, mas sei, vai chegar o momento de dormir. Tenho medo de sonhar e do que vou sonhar. Ilusões me apavoram.
5 comentários:
difícil mais seria carregar essas caixas...
o clima é deseperador...
não durma!
...Medo de dormir e perder o contato com a percepção fugidia das coisas, com a clareza do tino, de perder o fio da meada de si mesmo no labirinto da volta...O sono para a lucidez nunca é reparador. Ele é irreparável.
Roberta Mendes
http://www.paraeuparardemedoer.blogspot.com
Belíssima metáfora Flávio! Beijo, Tati
Dormir, a angústia do risco de perder algo, de deixar de fazer algo, de não estar presente, o ato de desgrudar-se da realidade, de não pensar, não saber...
Dormir podia ser opcional!
Elis Barbosa
http://www.sejacomoforqueseja.blogspot.com
Pois é... Muitas vezes bate uma insônia...
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