No ventríloquo esquerdo, bem abaixo
tem uma vozinha que arfa, esparsa e arfa.
Ela mistura-se ao princípio do sono, fio
engasgado que ilumina as ruas de Orfeu.
Assustado, desabo na cantilena da vozinha
e me vejo inquirido e culpado, desastrado.
Em horas, a vozinha nutre um corpóreo
malsão feito de carapinha e dentes cariados
e soçobram ao lado da cama os restos de cinzas,
flores e dissabores de um dia já apagado
e mal-vinda a noite que amanhece
é ali que ela me esclarece as pálpebras
e os segundos que passo vendo
escuro diante dos meus pesadelos.
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