Caros leitores,
apresento a vocês o prefácio que escrevi sobre o livro Indecisos, de Gustavo do Carmo.
INDECISOS.
Estes Indecisos, de Gustavo do Carmo, se inserem no híbrido que existe entre a crônica e o conto. São doze histórias que transitam na urbanidade e no âmbito familiar, através de personagens e enredos variados, cujos enlaces e desenlaces se desenvolvem harmoniosamente por cada página do livro. O tema central, como próprio título sugere, é a indecisão, a encruzilhada, o momento em que o fio de lã puxa pelas duas pontas. Embora a temática reflita um processo natural do humano: a dúvida e o medo do acerto, as opções narrativas encadeadas pelo autor apontam para a simplicidade tanto na abertura quanto no fechamento dos textos, aliás, estes nos trazem surpresas agradáveis.
Em Indecisos, conta de abertura, a indecisão é nomeada claramente na escolha do nome do filho de um determinado casal. Os pais não conseguem se decidir sobre qual nome. O fato é anunciado ao leitor logo no primeiro parágrafo do conto: “(...) A terceira foi escolher o nome da criança. Durante a gravidez, pensou em vários nomes masculinos e femininos; Rafael, Marcos, Ricardo, Roberto, Reynaldo, Ronaldo, Flavia, Luciana, Marcela, Daniela... Como nasceu um menino, Arnaldo Augusto optou, pelo menos, em começar o nome com a letra R.” A pendenga da escolha do nome da criança desdobra-se na história para a confusão da troca de nomes da esposa de Arnaldo Augusto e de sua antiga namorada. A assim por diante, durante toda a história surgem dúvidas nos pensamentos do protagonista.
Uma das marcas impressas nos contos é a ironia. Gustavo a trabalha bem. Sabe empregá-la de modo sutil, sem exageros. É através dela que ele dita o ritmo das histórias. A percebemos quando a dúvida original da primeira história se mantém e se perpetua, levando o protagonista a não resolve-la, complicando ainda mais a história. Mas o que podemos esperar de um personagem que se chama Arnaldo Augusto, senão um complexo de duplicidades, enganos, dúvidas. Até nisto o autor se propõe montar o conjunto de sua literatura de modo completo.
O mosaico literário de Indecisos é direto. Neste ponto, caro leitor, você não terá muitas delongas e/ou digressões. A narrativa de Gustavo é concentrada, é cinematográfica. O autor não inventa, atém-se a história, pois é esta sua ocupação e o faz. Este precioso detalhe traz leveza aos contos. Assim, podemos ir de uma história a outra sem perdermos o sentido maior da obra, a indecisão.
Tanto o tempo quanto o cenário são duas ferramentas bem administradas. No caso do tempo chega a ser instigante como o autor o utiliza. Constantemente abrindo perspectivas novas (o tempo é um dos responsáveis pelos efeitos suspensivos que temos ao ler cada texto). Em diversos contos do livro, os narradores e os personagens refazem suas vidas, buscando nas reminiscências as saídas para seus conflitos. Sim, é recurso clássico, mas bem feito. No conto Com muito orgulho! O tempo é tão presente que se transmuta nas duas equipes de futebol: o time presente e o time futuro. Há o jogo. Há o tempo: 46 minutos da segunda etapa. Há o árbitro, o nosso protagonista que refaz em segundos o percurso de sua vida: “Lembrou dentro de uma cestinha de vime, na porta de ferro vazada, protegida por um vitral azul de um casarão. Ele, bebê, protegido por uma manta de lã branca. Não havia um único bilhete. Nem uma única mamadeira. O recém-nascido chorava de fome.”
Por último vale ressalvar que Gustavo tem pleno domínio de sua técnica de criação. Este seu segundo livro nos faz ansiar pelo próximo e desejar novos vôos, novas investidas na literatura. No mais, caro leitor, o que vale mesmo é passar decididamente este página e iniciar a leitura dos contos.
Boa leitura!
Estes Indecisos, de Gustavo do Carmo, se inserem no híbrido que existe entre a crônica e o conto. São doze histórias que transitam na urbanidade e no âmbito familiar, através de personagens e enredos variados, cujos enlaces e desenlaces se desenvolvem harmoniosamente por cada página do livro. O tema central, como próprio título sugere, é a indecisão, a encruzilhada, o momento em que o fio de lã puxa pelas duas pontas. Embora a temática reflita um processo natural do humano: a dúvida e o medo do acerto, as opções narrativas encadeadas pelo autor apontam para a simplicidade tanto na abertura quanto no fechamento dos textos, aliás, estes nos trazem surpresas agradáveis.
Em Indecisos, conta de abertura, a indecisão é nomeada claramente na escolha do nome do filho de um determinado casal. Os pais não conseguem se decidir sobre qual nome. O fato é anunciado ao leitor logo no primeiro parágrafo do conto: “(...) A terceira foi escolher o nome da criança. Durante a gravidez, pensou em vários nomes masculinos e femininos; Rafael, Marcos, Ricardo, Roberto, Reynaldo, Ronaldo, Flavia, Luciana, Marcela, Daniela... Como nasceu um menino, Arnaldo Augusto optou, pelo menos, em começar o nome com a letra R.” A pendenga da escolha do nome da criança desdobra-se na história para a confusão da troca de nomes da esposa de Arnaldo Augusto e de sua antiga namorada. A assim por diante, durante toda a história surgem dúvidas nos pensamentos do protagonista.
Uma das marcas impressas nos contos é a ironia. Gustavo a trabalha bem. Sabe empregá-la de modo sutil, sem exageros. É através dela que ele dita o ritmo das histórias. A percebemos quando a dúvida original da primeira história se mantém e se perpetua, levando o protagonista a não resolve-la, complicando ainda mais a história. Mas o que podemos esperar de um personagem que se chama Arnaldo Augusto, senão um complexo de duplicidades, enganos, dúvidas. Até nisto o autor se propõe montar o conjunto de sua literatura de modo completo.
O mosaico literário de Indecisos é direto. Neste ponto, caro leitor, você não terá muitas delongas e/ou digressões. A narrativa de Gustavo é concentrada, é cinematográfica. O autor não inventa, atém-se a história, pois é esta sua ocupação e o faz. Este precioso detalhe traz leveza aos contos. Assim, podemos ir de uma história a outra sem perdermos o sentido maior da obra, a indecisão.
Tanto o tempo quanto o cenário são duas ferramentas bem administradas. No caso do tempo chega a ser instigante como o autor o utiliza. Constantemente abrindo perspectivas novas (o tempo é um dos responsáveis pelos efeitos suspensivos que temos ao ler cada texto). Em diversos contos do livro, os narradores e os personagens refazem suas vidas, buscando nas reminiscências as saídas para seus conflitos. Sim, é recurso clássico, mas bem feito. No conto Com muito orgulho! O tempo é tão presente que se transmuta nas duas equipes de futebol: o time presente e o time futuro. Há o jogo. Há o tempo: 46 minutos da segunda etapa. Há o árbitro, o nosso protagonista que refaz em segundos o percurso de sua vida: “Lembrou dentro de uma cestinha de vime, na porta de ferro vazada, protegida por um vitral azul de um casarão. Ele, bebê, protegido por uma manta de lã branca. Não havia um único bilhete. Nem uma única mamadeira. O recém-nascido chorava de fome.”
Por último vale ressalvar que Gustavo tem pleno domínio de sua técnica de criação. Este seu segundo livro nos faz ansiar pelo próximo e desejar novos vôos, novas investidas na literatura. No mais, caro leitor, o que vale mesmo é passar decididamente este página e iniciar a leitura dos contos.
Boa leitura!
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