sábado, 15 de novembro de 2008

JAVIER-FLÁVIO E MARIA-FLAVIA

Se eu me chamasse Javier, não o ator, um Javier qualquer, desses que nascem nos vários hospitais ou clínicas ou casas em múltiplas partes do continente americano e se eu mantivesse a mesma aparência que tenho agora: a mesma curvatura, o mesmo andar de passos medianos, os mesmos olhos míopes. E se a minha companheira, minha co-andante, se chamasse Maria, não Flávia, e supondo também que ela possuísse as mesmas características e traços de personalidade. E se, por um acaso, desses que ocorrem somente nas nossas fantasias por enquanto, até que a ciência elucide algo de novíssimo no campo das materializações, nascêssemos em um outro país, digamos um país vizinho ao Brasil, um país de nome Uruguai, em uma cidade de nome Montevideo.

E se caminhássemos pela cidade velha com outros olhos, olhos rotineiros que detêm na retina somente os aspectos mais gerais e as preocupações, sem os detalhes de olhos aguçadamente turísticos, será que viveríamos o que eu (Flávio – não Javier) e Flávia vimos?
A realidade está na surpresa de nossos olhares ou ela tangencia para além?
Javier-Flávio e Maria-Flávia sentaram-se num bar na Bartolomeu Mitre. Era uma Creperia, que obviamente, além dos crepes, tinha um cardápio variado que incluía aves peixes e carnes suculentas. O dia em Montevideo cerrava suas cortinas e o céu celeste colbato despedia-se abrindo as portas para um vento cortante que empestiava o lugar com um frio de inflamar a faringe. Mesmo assim os dois ocuparam uma mesa na calçada, pois não há frio que debilite o vício de dar tragadas. Pediram, para começar, uma Patrícia. As canecas espumaram e o suor de suas mãos diluiu o esbranquiçado opaco que recobria o exterior das canecas. Estalaram largamente o primeiro gole e observaram a luminosidade dos três postes que anunciavam a rambla no final da Bartolomeu. Mantiveram-se calados, apenas olhando os pontos luminosos, unindo-se a eles.

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