No assoalho do chão encerado o corpo se arrasta deixando um rastro líquido. Escorregou até a ínfima inoperância de não saber o que estava acontecendo, aliás, nada acontecia, apenas o giro esquisito que o consumava numa hora também esquisita de um dia que já havia nascido esquivo. Nomes e vultos possivelmente arredondam a dor que rebate no canto da nuca. Desmemórias de um corpo centenário, repleto de bactérias. Cada vez mais o gosto do sangue coagulado e da carne flácida, pegajosa. E o corpo está quase morto, quase plano e rasteiro, quase uma turva mancha seivada de líquidos e cheiros. O assoalho rangendo a busca de crostas. Decalques nos calcanhares e chupadas de chuva de granizos arranham essa voz abafada no castanho metileno dos meus olhos. Olhos águia. Olhos nevoeiro. Um diante do outro. O mesmo sombreado carcomido de nossa insólita esperança de renascermos, ele antes de mim, exala já a aura mórbida e toca com a ponta dos dedos a borda do novo, enquanto ainda me sufoco em beiras de precipícios.
Um comentário:
Lindo, Flávio!
Repleto de imagens o teu precipício...
Belo texto, Parabéns!
Grande abraço.
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