segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FRANK WYNNE - EU FUI VERMEER

Li recentemente o livro de Frank Wynne, Eu Fui Vermeer, sobre o falsário Han van Meegeren. O livro, misto de jornalismo literário investigativo e biografia, analisa a questão da falsificação, atribuição e validade na arte, através da história do falsário holandês que se fez passar por Veermer. Além de ser muito bem escrito, com aquela "levada" que nos faz virar cada página querendo uma pouquinho mais de leitura pela madrugada, o livro me fez pensar outras e mais outras questões a respeito da arte, tais como: apropriação e plágio / conceituação crítica e mecenato / crítica e panelinha.

H. van Meegeren foi um pintor dotado de extrema técnica, no início de carreira ganhou prêmios importantes como o da Technische Hogeschool de Delft (mesma cidade de Veermer). Seu estilo de pintura se aproximava ao das escolas realistas e clássicas (principalmente do barroco do século de ouro holandês), mas Meegeren não despontou e não obteve o reconhecimento de sua obra. Entre algumas razões apresentadas no livro para o fracasso de Meegeren, temos a exclusão provocada pela crítica, que segundo o autor está relacioano ao fato do pintor falsário ter um caso e a posteriori se casado com a esposa de um crítico de arte conceituado, e por conseqüencia, seu nome foi gradativamente minado pela mídia da época, sendo excluído do circuito artístico. O outro motivo, ainda segundo o livro, é o auge das vanguardas artísticas do século XX, havia Picasso, Mondrian, Modigliani. Para Meegeren, coube apenas as falsificações.

Mas H. Meegeren não copiava quadros exatamente. Ele se apropriava dos elementos dos pintores do século XVI e XVII e dentro do estilo destes artistas (empregando as técnicas de elaboração das tintas) criava telas, obras que eram suas, falsificava sim as assinaturas.

Para entender melhor a questão, imagine o quanto é difícil atribuir e autenticar um quadro de um determinado período quando muitos artistas não assinavam várias obras. Vermeer foi um pintor do conhecido como século de ouro holandês, além dele, outros artistas trabalhavam na época (Frans Hals, Pieter de Hooch, Jacobus Vrel) apresentavam estilos e temas similares que estavam em voga. Muitos deles debruçavam-se sobre interiores, cenas do cotidiano, mesmos modelos. Assim, sem assinar uma obra, torna-se difícil atribuir a autoria. Entretanto, os especialistas apreendem pequenos sinais indicativos: o formato da moldura, o envelhecimento e o formato do craquelê, os pregos, a composição da tinta, os adereços que compõe a pintura.Vermeer pintou poucos quadros e seu trabalho obteve reconhecimento somente a partir de meados do século XIX. No início do séc XX, esperava-se, ansiava-se por encontrar outras pinturas do mestre de Delft. A maioria dos críticos e dos estudiosos de arte especulavam um possível período de temática religiosa. Aí entra Meegeren, ele simplesmente cria os quadros do período religioso. A Dama e o cavaleiro a espineta, Ceia em Emaús, Isaac abençoando Jacob. Meegerem retirava suas inspirações de trechos bíblicos. Mas, para que suas obras se assemelhassem às obras barrocas, Meegeren criou seus "originais" em quadros de artistas de segunda classe da época do ouro. Sem o menor pudor, ele trabalhava sob a pintura de outros artistas. Fabricava tintas da época. Sua perfeição em Ceia de Emaús foi tamanha que a obra foi considerada um dos "grandes trabalhos do Mestre Vermeer".

Através de terceiros, ele vendia suas falsificações. Tornou-se milionário durante o entreguerras e a segunda guerra. Após o fim do conflito foi acusado de enriquecimento ilícito e por colaboração com o nazismo, já que uma de suas telas de Veermer foi vendida à Goering. Para escapar ao julgamento de traidor e colaborador nazista sua única saída foi confessar. Então, Meegeren realizou um último Vermeer diante de testemunhas.


A história é ótima e é interessante perceber o drible que ele deu na crítica da época, no mecenato que não reconhecia seu talento. De certo modo, ele desmoralizou todos os museus que adquiriram suas obras. O que nos remete a uma outra questão: Será que tudo que vemos é de fato verdadeiro, autêntico? Por exemplo, pesquisas apontam que nem tudo que lemos de Camões foi realmente produzido por ele. Outro aspecto é se realmente houve plágio, já que Meegeren não copiou nada, apenas a assinatura.

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