ENTREVISTA a Flávio Corrêa de Mello e Tatiana Carlotti *
Ondjaki é um escritor da nova geração angolana e é um freqüentador assíduo do Brasil. Por aqui já saíram dois romances de sua lavra: Bom dia Camaradas (Agir) e Os da Minha Rua (Língua geral). Eu e Tati fizemos esta entrevista na época do lançamento de Bom Dia Camaradas, em 2006.
Ondjaki é um escritor da nova geração angolana e é um freqüentador assíduo do Brasil. Por aqui já saíram dois romances de sua lavra: Bom dia Camaradas (Agir) e Os da Minha Rua (Língua geral). Eu e Tati fizemos esta entrevista na época do lançamento de Bom Dia Camaradas, em 2006.
Conte um pouco sobre a sua trajetória, seu contato com a literatura e o que te levou a escrever?
Nunca se sabe quando a escrita nasce dentro de nós. A minha trajectória é a de nascer em Luanda, uma cidade cheia de estórias, de ficção, de fantasia, também de pobreza e muitas vidas diferentes. A minha literatura apareceu primeiro nos poemas, tristes, da adolescência. Depois fui para o conto. Depois aprofundei a poesia. Depois iniciei-me nos romances. Quando dei por mim já estava a escrever...
Conte um pouco sobre o seu livro, Bom Dia Camaradas, como você concebeu a idéia de escrevê-lo?
Foi o desafio de um editor amigo, angolano. Ele queria um livro que falasse da minha perspectiva da independência de Angola. Eu nasci em 1977, dois anos depois da independência, e eu pensei que a minha visão sobre todo esse processo histórico, era a minha própria infância. Organizei algumas memórias, preparei alguns capítulos e comecei a escrever. Claro que tive que ficcionalizar a minha vida, e a dos outros também. Mas um livro é sempre isso.
Bom dia Camaradas é dedicado aos camaradas cubanos. Como vocë avalia a participação de Cuba em Angola durante a guerra civil que eclodiu entre o MPLA e a UNITA?
Esta resposta exigiria muito mais espaço, porque sou contra avaliações e respostas superficiais. Mas digamos que a presença cubana em Angola foi fundamental para impedir que os sul africanos tomassem o poder em Angola, nas várias ofensivas que fizeram durante os anos 80. A cooperação cubana também ajudou parte da população, com assistência médica e educacional. Só posso considerar essa presença como positiva.
Atualmente, como é a relação entre política e literatura em Angola, ainda é forte?
Penso que é ainda muito forte. Mas acho que os escritores devem acima de tudo obedecer aos seus ímpetos ficcionais, estéticos. A literatura deve ser um compromisso do autor com o seu mundo interno, ainda que muitas vezes esse caminho se faça falando e repensando o real, o histórico. Mas o ponto de partida deve, acho eu, ser interno. A verdadeira arte vem de dentro.
Como vocë avalia a importância da incorporação de dialetos e palavras características do falar angolano no processo de criação de sua prosa e de outros escritores africanos?
A incorporação ou exclusão de determinados falares, é uma opção estética. Serve a minha literatura, serve algumas das estórias que quero contar. Vejo essa incorporação de ritmos e de palavras como uma necessidade estética de cada um.
Qual o espaço que existe para a nova literatura em Angola?
Todo o espaço. A literatura angolana está em permanente nascimento. Nós, os novos escritores, sentimos é o peso da qualidade daqueles que nos antecederam, isto é, fomos antecedidos por grandes nomes e é difícil não sentir isso. Mas gosto desse desafio. A boa literatura nunca foi fácil, nem em Angola nem na Conchichina.
O que é a boa literatura para você?
Não sou especialista em literatura, apenas sinto que a boa literatura engrandece a arte de escrever e o modo de sermos humanos. Há livros que acrescentam valores culturais à Humanidade.
Quais autores angolanos ou africanos, você recomendaria para o público brasileiro?
São muitos, mas poderia falar de Luandino Vieira, Ruy Duarte de Carvalho, Ana Paula Tavares, Manuel Rui, Boaventura Cardoso, João Maimona, Mia Couto, Luis Bernardo Honwana, Eduardo White, Paulina Chiziane, Conceição Lima, Germano de Almeida...
O que vocë diria para o leitor brasileiro, que está conhecendo o seu trabalho agora?
Não sei o que dizer... Faz sentido pedir que nos leiam, a todos os autores africanos, sem preconceitos e com abertura sensorial para nos receberem na nossa diversidade?...
* Esta Entrevista foi concedida para o especial Lusofonia da Carta-Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário