José Matias, conto de Eça de Queiroz. Inicialmente publicado na Revista Moderna, em 1897, o texto foi o último a ser publicado quando o autor ainda era vivo e traz algumas das características de sua prosa: a naturalidade, a fluência, a precisão e a oralidade nada declamatória.
O conto José Matias, de Eça de Queiroz, lançado aqui no Brasil pela editora Sette Letras é uma boa dica de leitura. O livro faz parte da coleção de bolso da editora e acompanha a necessidade do mercado de produzir livros com preços acessíveis para o público, algo que algumas editoras têm percebido, já que Companhia das Letras, uma das maiores editoras do Brasil, lançou a Companhia de Bolso e a Nova Fronteira, a coleção 40 anos, sem contarmos a pioneira na área das edições menos custosas, a L&PM.
O Professor e especialista em Literatura Portuguesa, Sérgio Nazar David, foi o responsável pela fixação do texto e posfácio da presente edição. Inicialmente publicado na Revista Moderna, em 1897, o texto foi o último a ser publicado quando o autor ainda era vivo e traz algumas das características de sua prosa: a naturalidade, a fluência, a precisão e a oralidade nada declamatória.
A narrativa se apresenta na primeira pessoa com o narrador (um amigo de José Matias) conversando com outra pessoa durante a ida ao enterro de José Matias:
“Linda tarde, meu amigo!... Estou esperando o enterro do José Matias – do José Matias de Albuquerque, sobrinho do Visconde de Gamilde...”
Assim, contando a história em Flash-back, Eça reconstitui logo no início a vida de José Matias, “um rapaz airoso” e “duma elegância sóbria e fina”, estudioso dos círculos literários lisboetas, culto e sofisticado, mas que segundo o narrador em seu último encontro com ele, estava em estado lastimável e declara:
“...porque a derradeira vez que o encontrei, numa tarde agreste de Janeiro, metido num portal da Rua de S. Bento, tiritava dentro duma quinzena cor de mel, roída nos cotovelos, e cheirava abominavelmente a aguardente.”
Daí, nós leitores temos, pela clareza narrativa de Eça, os elementos necessários para aguçar a curiosidade, pois, afinal, o que levou José Matias, este rapaz dos bons convívios portugueses, a arrastar-se por uma vida boêmia e errante?
O desenrolar do conto dá-se na apresentação e na descrição de Elisa (a bela musa dos últimos românticos), que é, segundo o narrador, o motivo da derrocada na vida de José Matias. Casada com o conselheiro Matos Miranda e vizinha do Visconde de Gamilde, Elisa é a típica mulher da pequena burguesia portuguesa e encarna a beleza romântica:
“... o pobre José Matias, ao regressar da praia de Ericeira em outubro, no outono, avistou Elisa Miranda, uma noite, no terraço, à luz da Lua! (...) Alta, esbelta, ondulosa, digna da comparação bíblica da palmeira ao vento. Cabelos negros, lustrosos e ricos, em bandós ondeados. Uma carnação de camélia muito fresca. Olhos negros, líqüidos, quebrados, tristes, de longas pestanas...”
Neste fragmento visualizamos a concisão de informações fornecidas pelo narrador, mantendo o ritmo da prosa e fornecendo o essencial para prender a atenção de seu interlocutor. Esta era uma das maestrias queirozianas.
Daí em diante temos o discorrer da vida de ambos. Elisa enviúva de Matos de Miranda e, após aguardar José Matias durante bom tempo, casa-se com Torres Nogueira. Torna-se viúva novamente e, ainda assim, José Matias a contempla como uma musa abstrata, como uma espécie de amor platônico, deixando-a em pânico.
Vale ressaltar no conto, o interessante recurso narrativo utilizado por Eça, pois não permite a voz à personagem que acompanha o narrador, logo, o jogo de diálogos é presumido e somente conhecemos as falas da personagem a partir do próprio narrador. Assim, acompanhando as pausas reflexivas o leitor assume uma das vozes narrativas, já que as mudanças de assunto ditam o ritmo e o andamento. Dessa forma, o autor descreve a cena do enterro de José Matias:
“O Sujeito de óculos de ouro, dentro do coupé?... Não conheço, amigo. Talvez um parente rico, desses que aparecem nos enterros, com o parentesco correctamente coberto de fumo, quando o defunto já não importuna, nem compromete.”
O Professor e especialista em Literatura Portuguesa, Sérgio Nazar David, foi o responsável pela fixação do texto e posfácio da presente edição. Inicialmente publicado na Revista Moderna, em 1897, o texto foi o último a ser publicado quando o autor ainda era vivo e traz algumas das características de sua prosa: a naturalidade, a fluência, a precisão e a oralidade nada declamatória.
A narrativa se apresenta na primeira pessoa com o narrador (um amigo de José Matias) conversando com outra pessoa durante a ida ao enterro de José Matias:
“Linda tarde, meu amigo!... Estou esperando o enterro do José Matias – do José Matias de Albuquerque, sobrinho do Visconde de Gamilde...”
Assim, contando a história em Flash-back, Eça reconstitui logo no início a vida de José Matias, “um rapaz airoso” e “duma elegância sóbria e fina”, estudioso dos círculos literários lisboetas, culto e sofisticado, mas que segundo o narrador em seu último encontro com ele, estava em estado lastimável e declara:
“...porque a derradeira vez que o encontrei, numa tarde agreste de Janeiro, metido num portal da Rua de S. Bento, tiritava dentro duma quinzena cor de mel, roída nos cotovelos, e cheirava abominavelmente a aguardente.”
Daí, nós leitores temos, pela clareza narrativa de Eça, os elementos necessários para aguçar a curiosidade, pois, afinal, o que levou José Matias, este rapaz dos bons convívios portugueses, a arrastar-se por uma vida boêmia e errante?
O desenrolar do conto dá-se na apresentação e na descrição de Elisa (a bela musa dos últimos românticos), que é, segundo o narrador, o motivo da derrocada na vida de José Matias. Casada com o conselheiro Matos Miranda e vizinha do Visconde de Gamilde, Elisa é a típica mulher da pequena burguesia portuguesa e encarna a beleza romântica:
“... o pobre José Matias, ao regressar da praia de Ericeira em outubro, no outono, avistou Elisa Miranda, uma noite, no terraço, à luz da Lua! (...) Alta, esbelta, ondulosa, digna da comparação bíblica da palmeira ao vento. Cabelos negros, lustrosos e ricos, em bandós ondeados. Uma carnação de camélia muito fresca. Olhos negros, líqüidos, quebrados, tristes, de longas pestanas...”
Neste fragmento visualizamos a concisão de informações fornecidas pelo narrador, mantendo o ritmo da prosa e fornecendo o essencial para prender a atenção de seu interlocutor. Esta era uma das maestrias queirozianas.
Daí em diante temos o discorrer da vida de ambos. Elisa enviúva de Matos de Miranda e, após aguardar José Matias durante bom tempo, casa-se com Torres Nogueira. Torna-se viúva novamente e, ainda assim, José Matias a contempla como uma musa abstrata, como uma espécie de amor platônico, deixando-a em pânico.
Vale ressaltar no conto, o interessante recurso narrativo utilizado por Eça, pois não permite a voz à personagem que acompanha o narrador, logo, o jogo de diálogos é presumido e somente conhecemos as falas da personagem a partir do próprio narrador. Assim, acompanhando as pausas reflexivas o leitor assume uma das vozes narrativas, já que as mudanças de assunto ditam o ritmo e o andamento. Dessa forma, o autor descreve a cena do enterro de José Matias:
“O Sujeito de óculos de ouro, dentro do coupé?... Não conheço, amigo. Talvez um parente rico, desses que aparecem nos enterros, com o parentesco correctamente coberto de fumo, quando o defunto já não importuna, nem compromete.”
Por fim, o professor Sérgio Nazar David, no posfácio do livro, faz um comentário sobre o encerramento do século XIX tanto no Brasil quanto em Portugal, estabelecendo um paralelo entre as literaturas de Machado de Assis e de Eça de Queiroz no que concerne à perplexidade do homem diante das personagens femininas. Segundo Nazar, “Bentinho decide sair deste impasse acusando Capitu”. Já quanto à José Matias o caminho é contrário: “uma adoração de monge que nem ousa roçar com os dedos trêmulos e embrulhados no rosário a túnica da Virgem sublimada”. Estas duas personagens são testemunhas de um século que se encerrou e que, de certa forma, antepõem-se à visão da realização de um encontro amoroso mágico, capaz de fundir duas almas em uma só. São, ainda segundo Sérgio Nazar, dois personagens que se vitimaram na renúncia ao desejo.
* Resenha que publiquei no especial Lusofonia da Carta Maior.
5 comentários:
Flávio
A leitura de seu texto fez-me sentir vontade de reler este belo conto de Eça de Queiroz.
Creio também, que aqueles que ainda não conhecem a obra deste ilustre escritor, após a leitura do seu texto, analitica e esteticamente bem produzido, terão despertado o desejo de fazer uma bela viagem pela obra de Eça.
Parabéns!
A leitura de seu texto fez-me sentir vontade de reler este belo conto de Eça de Queiroz.
Creio também, que aqueles que ainda não conhecem a obra deste ilustre escritor, após a leitura do seu texto, analitica e esteticamente bem produzido, terão despertado o desejo de fazer uma bela viagem pela obra de Eça.
Parabéns!
Olá Sônia,
É ótimo receber esse comentário, mas não sou tão bom crítico assim, principalmente se ter você como base de comparação.
abraços
Eu tenho 14 anos, e tive como forma de trabalho que ler este conto. Para falar a verdade, não consegui entender praticamente nada! Gostaria que publicassem neste blog algumas coisas sobre isso!
Obirgada!
Oi Amanda!
Estava de férias e publiquei o seu comentário do lugar em que eu estava. Bem, vou publicar mais algumas coisas sobre o José Matias. Já faz tempo que eu li esse conto e escrevi a resenha, então tenho de relê-lo... Mas você poderia me ajudar, quem sabe? Que tal se você escrevesse umas 10 linhas sobre a história, o que passa e o que acontece. Conte-a para mim, pois, daí, isso vai te ajudar a entendê-la.
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