O vendedor me
para diante do espelho,
segura na
alça da manga e diz:
Num tá maneiro Flávio!
Num tá maneiro Flávio!
Depois me
gira de lado, suavemente,
o sorriso na lapela da camisa, a mão no meu ombro:
o sorriso na lapela da camisa, a mão no meu ombro:
experimenta
com essa calça estonada
-- Eu ainda um
pouco no não quero nada --
quando me
vejo ele traz polos
(uma listrada, outra lilás)
O som é
cool jazz lounge
a bermuda combina com aquela mina
do cinema de logo mais.
a bermuda combina com aquela mina
do cinema de logo mais.
E no rosto
do vendedor já estou o ouro da meta batida
escorre um filete de suor de sua testa,
escorre um filete de suor de sua testa,
ele disfarça
e esconde:
E aí Flávio, mais alguma coisa,
uma cueca Kalvin Klein,
E aí Flávio, mais alguma coisa,
uma cueca Kalvin Klein,
um cinto,
hein...
Não, não... Vai!
Show!
Não, não... Vai!
Show!
A caixa, o cartão:
quatro vezes
para o jantar
nas minhas contas não vai dar
nas minhas contas não vai dar
Bota em
seis?
Aí não vai passar, vou ter roletar,
Aí não vai passar, vou ter roletar,
digo: fica para a
próxima,
fica para a próxima.
fica para a próxima.
O vendedor pensando
é o migué do caroço,
migué do caroço,
é o migué do caroço,
migué do caroço,
o vendedor pensando no tijolo,
na laje da casa,
no aluguel, no show do sorriso malícia,
na laje da casa,
no aluguel, no show do sorriso malícia,
Aquele olhar
de socorro para o gerente.
Muda o som, cool dance lounge,
outra vida, outro rolê.
O caixa caprichando nos laços do presente,
O caixa caprichando nos laços do presente,
demorando, quer um
desconto?
um baixa aqui, tira dali,
um baixa aqui, tira dali,
um trato feito, desfeito e refeito,
mês que puta que o pariu
mês que puta que o pariu
mês de dia
cinco, dia dez, dia quinze,
mês de pede
para o Zé, para o Joaquim,
sem motel
depois do cinema,
sem
jantar, sem almoço no japonês,
sem táxi, só na sola do calçadão.
sem táxi, só na sola do calçadão.
O vendedor me leva até a porta,
fala do
tempo se faz sol se faz frio, se chove,
se o domingo vai trabalhar,
se o patrão vai empurrar o cheque,
me abraça até a próxima coleção de verão.
se o patrão vai empurrar o cheque,
me abraça até a próxima coleção de verão.
Vou saindo e dentro da loja
ele respira, desmonta o personagem,
uma dorzinha
no calcanhar o aflige,
enquanto eu
dava pernas para que te quero,
cineminha e
roupa no esquema,
o resto é
contigo, meu amor, o jantar, o apê e
o box da
minha super cueca listrada.FCM